segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Blog entrevista jornalista Frank Fortes, da Rádio Bandeirantes


Ele era vendedor na época de faculdade. Com o trabalho, conseguia dinheiro para pagar o curso de Jornalismo na Universidade Metodista de São Paulo, que concluiu em 1998. Mais tarde, deixou anos de carreira como trabalhador assalariado para realizar um sonho: atuar na área em que se formou.

Frank Robson de Oliveira Fortes, ou, simplesmente, Frank Fortes, é hoje funcionário do grupo Bandeirantes de Comunicação. Tem uma rotina agitada. Muito trabalho e poucas horas de sono. Acorda de madrugada, quando ainda tem gente indo dormir.

Tem mil e uma utilidades: apresenta programas, faz reportagem, coordena e produz. O início de carreira com muitas dificuldades transformou Frank em um profissional versátil e batalhador. Como pessoa, apenas o manteve humilde, com pés no chão e bem humorado.

O jornalista nasceu no dia em que se comemora a Abolição da Escravatura, um dia 13 de maio. Talvez seja uma boa explicação para que ele tenha se libertado dos grilhões dos trabalhos anteriores para fazer o que realmente gosta.

Na entrevista, Frank Fortes conta histórias engraçadas e transmite com fidelidade as adversidades da profissão que escolheu por amor. Acompanhe o bate-papo com esse rapaz de 40 anos, vindo de Águas da Prata, no interior de São Paulo e que hoje ostenta grande sucesso na mídia.

Leandro Martins - O que achou do curso de graduação quando estudou jornalismo?
Frank Fortes - O curso de graduação me passou daquele desejo de ser jornalista para a iniciação no meio. Depois do curso veio a iniciação no mercado. Sinceramente eu gostei da graduação. Conheci bons profissionais, alguns apenas dentro da sala de aula, outros apenas fora da sala de aula, e o melhor, alguns bons profissionais dentro e fora da sala de aula. Como estudei sempre em escola pública até a conclusão do antigo colegial, cheguei à faculdade sem expectativas de grandes ensinamentos. Talvez por isso tenha gostado e aprovado o nível dos professores e a grade curricular. Claro que não foi a perfeição, mas acho que universidade nenhuma será perfeita algum dia.

LM - Você acredita que a faculdade prepara bem uma pessoa para o mercado de trabalho?
FF - Só o mercado prepara bem para o mercado. A faculdade te ajuda a conhecê-lo. Porém, entrar e se adequar depende muito mais daquilo que você vai fazer no dia-a-dia, na redação, para se manter no mercado.

LM - Em quais empresas de mídia já trabalhou?
FF - Rádio ABC, Canal ABC3 (hoje NET Cidade), Portal Terra, Grupo Bandeirantes de Comunicação. Além de free lancers pra empresas diversas.

LM - Quando decidiu que gostaria de trabalhar na mídia?
FF - Sempre quis trabalhar em rádio. Desde criança foi o veículo que mais me chamou a atenção. Eu não conseguia entender como as vozes conseguiam sair de dentro de um aparelho tão compacto. Ouvia futebol e me impressionava com o a velocidade com que os narradores contavam a história de cada jogo. Então, nunca deixei de sonhar com o rádio. O jornalismo foi a maneira de entender e me aproximar verdadeiramente deste veículo.

LM - Como foi seu início de carreira?
FF - Foi difícil. Trabalhava como vendedor para pagar a faculdade. Assim, só consegui entrar no mercado após a faculdade, quando não tinha mais as mensalidades para pagar. Deixei o trabalho assalariado de anos para seguir a carreira começando do zero. Aos poucos as coisas foram acontecendo. Trabalhei de madrugada, e de graça, até aparecer a primeira oportunidade. Trabalhei em dois empregos ganhando meio salário mínimo pra poder procurar um “emprego de verdade”. O primeiro teste que fiz pra trabalhar com registro em carteira, direitos trabalhistas, etc... ocorreu num mês de outubro. Fui chamado pra trabalhar só em março do ano seguinte. Mas acho que era pra ser assim mesmo. Ainda me sinto um iniciante a procura de uma oportunidade.

LM - Como é sua rotina hoje?
FF - Entro muito cedo, às cinco da manhã, por isso também durmo cedo, exceto em dias de jogos pelos vários campeonatos que temos no calendário. Na Rádio Bandeirantes executo a chamada rotina da redação, com edição, produção e coordenação de programas. Às cinco em ponto estou no ar com um noticiário geral. Volto no Pulo do Gato falando de esportes com o inigualável José Paulo de Andrade. Participo também do Primeira Hora, nosso jornal falado, do Jornal Gente, a revista de opinião diária da RB, e do Manhã Bandeirantes, com o José Luiz Datena. Sempre trazendo o noticiário esportivo. Enquanto isso edito e produzo o Esporte Notícia, nosso noticiário esportivo que vai ao ar às onze e meia.

Participo também com algumas informações e apresento quando é necessário (em escalas especiais, por exemplo). Ainda temos os programas do fim de semana que produzimos paralelamente. Parece comercial do 1406: mas ainda tem mais. De acordo com as escalas faço também a cobertura dos clubes, reportagens e entrevistas especiais. O que quer dizer que não é raro estar na ativa também fora da redação. Não tenho um horário fixo para sair. Depende da demanda.

LM - O que já fez fora do esporte?
FF - Olha, no início da carreira, na Rádio ABC fazia todas as editorias. Iniciamos uma cobertura do trabalho legislativo na região. Antes, pra saber o que acontecia nas câmaras municipais, só pelos veículos impressos. Esse tipo de cobertura permanece até hoje na grade da emissora. No Terra trabalhei, além de esportes, com conteúdo corporativo também. Produzindo sites especiais para parceiros da empresa. Na própria RB apresento um noticiário matutino com notícias gerais. Também já escrevi para uma revista de arquitetura. Já fiz assessoria de imprensa.

LM - Já foi setorista de um clube? Como é essa experiência?
FF - Já acompanhei a rotina dos clubes, mas nunca fixo em um clube. A Bandeirantes não usa o que chamamos de setoristas. Normalmente os repórteres alternam a cobertura entre os clubes da cidade. Uma semana faz o Corinthians, outra faz o São Paulo, depois o Palmeiras. Só em Santos é que temos uma reportagem fixa. É uma experiência importante principalmente pra aqueles que podem usar o microfone para opinar também. É certo que o profissional que acompanha o dia-a-dia dos clubes tem informações distintas daquilo que a gente, muitas vezes, só vê pela televisão. Por isso sempre considero prioritária a informação da reportagem.

LM - Alguns jornalistas tornam-se amigos de fontes pela convivência. Você acredita que o jornalista ser amigo da fonte ajuda ou atrapalha o trabalho? Em que sentido?
FF - Se a gente levar em consideração que amizade é sinônimo de confiança, é normal que você tenha alguma relação de amizade com suas fontes. O que é preciso discernir é a intenção da informação que lhe foi passada. Muitas vezes os jornalistas são utilizados como massa de manobra pra atender um ou outro interesse. Por isso, por mais confiável que seja a fonte da informação, por mais amiga que possa parecer a informação, será sempre oportuno checar por outros meios a veracidade do que lhe foi informado.

LM - Você já se sentiu alvo de perseguição no meio? Ou já fizeram alguma "sacanagem" com você?
FF - Perseguição? Não sei viu. Sei que tem gente que não gosta de mim. Mas aí fica no zero a zero porque eu também não gosto de quem não gosta de mim. Desta forma também não posso me sentir traído porque quem me sacaneia é porque não vai com a minha cara.

LM - Como é cobrir um grande evento como a Copa do Mundo e as Olimpíadas? Dorme-se pouco e trabalha-se muito?
FF - Sim, dorme-se pouquíssimo. E tem gente que pensa que estamos de férias quando estamos longe da redação, em uma viagem de cobertura. No Pan de 2007, por exemplo, a carga de trabalho tinha mais ou menos 16 horas. Só dava tempo de tomar banho, comer alguma coisa e tirar uma soneca. E foram 21 dias nesta correria. Mas as coisas dão certo e o resultado aparece junto com a sensação de dever cumprido, de satisfação pelo que conseguiu realizar.

MOMENTO MAIS EMOCIONANTE DE FRANK:
UMA ENTREVISTA EXCLUSIVA COM PELÉ

LM - Qual a maior emoção que já viveu na carreira?
FF - Uma entrevista exclusiva com o Pelé foi, até hoje, o que me deu mais satisfação. Nunca imaginei que um dia fosse sentar ao lado do Rei e ficar batendo papo com ele por quase 20 minutos. Foi demais. Fora que é emocionante trabalhar com feras como o José Silvério e o Milton Neves, que são pessoas que eu sempre admirei e que hoje fazem parte do meu dia a dia. Além de ter por perto ídolos do futebol como o Neto e o Edmundo.

LM - Como vê a guerra pela transmissão do futebol brasileiro em 2012? Acha certo um regime monopolista?
FF - Não acho certo que apenas uma emissora tome conta e dite as regras. Mas os clubes são os culpados por isso. Eles é que aceitam e se submetem a este tipo de tratamento. Enquanto cada um pensar apenas em si as coisas serão assim. Os dirigentes são muito demagogos no discurso. Se tivessem uma posição coesa, se quisessem se ajudar, fortalecer os campeonatos e os clubes, andariam juntos e não se submeteriam às imposições desse ou daquele veículo.

LM - Para os estudantes de jornalismo ou jornalistas recém-formados que pensam que o jornalismo é só televisão e que vão ficar famosos, o que tem a dizer? E o que falaria para aqueles que pensam que não vão trabalhar muito e nem aos finais de semana?
FF - Pra quem pensa em aparecer na televisão e ficar famoso digo o seguinte: vá fazer teatro ou se inscreva em algum reality show. Sobre não trabalhar muito, esquece. Você vai trabalhar pra caramba. Se de repente você se interessar por assessoria de imprensa e for para um setor corporativo, você pode até ter uns fins de semana livres. No mais, prepare-se para estar à disposição aos sábados e domingos.

LM - O que gostaria de fazer na carreira e ainda não conseguiu realizar? Que sonhos profissionais ainda alimenta?
FF - Quero fazer um programa de entrevistas. Sobre esporte, cultura e educação. Acho que são coisas que se relacionam. Acredito na educação pelo esporte e acho que temos poucos campeões porque nossas crianças simplesmente não conhecem a maioria dos esportes. Não tem acesso a eles. Acho que a escola pública deveria ter essa função também, de disponibilizar esportes menos nobres para a rede. Fazer oficinas com campeões, esportistas de expressão. Despertar as crianças para algo além do futebol. Gostaria de ajudar de alguma maneira.

LM - Você acha que um jornalista esportivo deve assumir seu time de coração?
FF - Acho que isso vai de cada um. Eu sou palmeirense, nunca escondi, mas não acho que é algo que eu deva sair falando no ar. Na rádio evito o assunto. Me limito aos fatos, notícias e informações.

LM - Como fazer para controlar a emoção quando trabalha em um jogo do seu time? Tem alguma técnica para ensinar a quem está começando?
FF - Não há técnica. Você simplesmente se acostuma a acompanhar uma partida como um profissional de jornalismo.

LM - Quem são os jornalistas e/ou profissionais da comunicação que mais admira?
FF - Narrador: José Silvério. Apresentador: Milton Neves. Comentaristas: PVC e Mauro Beting. Também gosto muito dos textos do Antero Grecco. Narradores: Milton Leite e Luis Roberto. Mas são apenas alguns. Temos excelentes profissionais no jornalismo esportivo.

OS EXEMPLOS DE PROFISSIONAIS PARA FRANK

LM - Tem alguma história curiosa ou engraçada da profissão?
FF - Eu tinha uma semana de rádio, meu primeiro emprego. Fui fazer uma matéria na rua e, na volta, o chefe me liga no rádio. - Frank, você pode fazer um trânsito? E eu respondo: posso, claro. Mas dá pra gravar pelo rádio?. – Não, tem que ser ao vivo, ele responde. Seria aquela a minha primeira entrada ao vivo no ar.

Pois bem, na hora "H", o apresentador fez aquela baita apresentação: - Agora, prestação de serviço aqui na rádio... Vamos às ruas da cidade saber do trânsito neste fim de tarde. Informações com o repórter Frank Fortes. Boa tarde Frank. E eu até que entrei embalado: Boa tarde fulano de tal, aqui na avenida José da Silva o trânsito está bom, o motorista para somente nos semáforos. Já pela rua João Freitas, lentidão no sentido da marginal por causa do excesso de veículos...

E a coisa seguia bem até que eu fui falar da última rua que eu tinha a informação. E para finalizar, o motorista que desce a Alameda sul demora para acessar a rua, rua, rua... como é que mesmo o nome daquela rua? perguntei pelo rádio. Esqueci o nome da rua e a informação ficou incompleta. Matei o boletim que estava até bacana. Para piorar o apresentador ainda mandou essa: a rua que ele quer lembrar é a avenida sete de setembro. Não tinha nada a ver com o nome da rua que eu tinha esquecido.

LM - É possível conciliar família e trabalho?
FF - Sou casado, mas não tenho filhos. Como minha esposa também é jornalista, apesar de não exercer a função, ela entende bem quando preciso me ausentar por algum motivo profissional. Mas não é fácil. A ausência desgasta muitos relacionamentos.

LM - Para você, rádio é mais emocionante do que TV?
FF - Para mim é. O rádio é responsável por tudo que eu tenho na vida. Eu já não vivia sem ele quando era moleque. Agora então.... rs

LM - Deixe uma mensagem para quem pensa em seguir carreira, principalmente no jornalismo esportivo.
FF - Se você tem um sonho, vá em frente. Não deixe que te digam que você não serve para isso ou aquilo. Persevere sempre e nunca se sinta acomodado.

Como você, amigo leitor, pôde notar, Frank Fortes concedeu uma das mais ricas e completas entrevistas que este blog já publicou. Foi bem humorado em todas as respostas. E, aproveitando seu bom humor, digo que foi muito "franko" também (podem tocar a música de A Praça é Nossa se quiserem).

Por seu jeito de ser, conquistou o sucesso que tem na atualidade. Sempre torço pelas pessoas boas. Acredito que elas devem conquistar todos os seus objetivos na vida. Frank ainda é um menino. Está no caminho certo dos bons, éticos e grandes profissionais da comunicação. Agradeço de coração pela entrevista concedida a este blog. E para você, amigo leitor, tenho certeza de que foi um deleite e uma grande oportunidade para ter mais esclarecimentos sobre a carreira jornalística. Para quem quiser seguir o jornalista no Twitter, procure por @frankfortes. E aproveitando mais uma vez agora o sobrenome do jornalista, um "forte" abraço.

Facebook: Leandro Martins
Twitter: @leandropress

2 comentários:

  1. PARABÉNS pela entrevista Leandro!!!

    Tive o prazer de conhecer o Frank Fortes, e ele é tudo isso que acabei de ler: batalhador, humilde e fera demais!!!

    Felicidades e sucesso sempre, aos dois!!!

    Sandra Cristina (@FC_TTEMPO)

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  2. Belíssima entrevista. Tenho o prazer de conhecer o Frank desde os tempos de faculdade. Uma pessoa inteligente, acessível e profissional de alto nível. Abrilhantou o blog.

    Um grande abraço!

    Marcos Olivares

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