quarta-feira, 2 de março de 2011
A disputa pela transmissão do futebol brasileiro em 2012
Explicar o quadro exato do que acontece nessa história envolvendo Globo, Record, Clube dos 13 e os clubes do futebol brasileiro demoraria muito. Vou resumir o assunto, mas você, amigo leitor, pode achar a explicação completa em outros blogs especializados como o Blog do PVC, por exemplo.
A Globo sempre teve a preferência, desde 1998 (se não me engano), para transmitir o Campeonato Brasileiro. Preferência significa que se outra emissora fizesse uma proposta maior, a Globo sempre teria a chance de cobrir e dar a última palavra.
A média de valores para a transmissão do Campeonato Brasileiro era em torno de 500 a 600 milhões de reais. A Record promete chegar a 3,9 bilhões. Uma cifra astronômica. Todos os clubes recebem uma cota desse montante.
Por isso, alguns estão mais interessados na maior proposta. Justo. Outros, ainda preferem a visibilidade global, líder de audiência no Brasil e que pode ajudar em posições políticas. Mas isso nunca fica muito claro.
Fala-se que a Globo privilegia Corinthians e Flamengo nas transmissões, por serem clubes de mais torcida. Isso fica claro no número de jogos transmitidos dessas equipes e também no modo como os locutores narram as partidas, quase sempre, parciais.
Ou seja, temos dois blocos: os que preferem dinheiro na mão versus os que querem, por inúmeros motivos, a visibilidade da líder de audiência. O Clube dos 13 promete uma licitação com envelopes fechados, ou seja, o vencedor será o que apresentar a proposta maior. A Globo diz que nem vai concorrer (vide comunicado completo abaixo deste post). Duvido. Isso está longe de acabar e vai terminar em consenso.
Bom, a discussão real começa aqui. O que se pergunta é: por que apenas uma emisora deve deter os direitos de transmissão do futebol no Brasil? Por que o regime deve ser sempre monopolista? O comentarista da ESPN Brasil, Flávio Gomes, questionou isso com maestria. E propôs a seguinte saída.
Definir quanto custa o campeonato. E dividir o valor pelo número de emissoras interessadas. Assim, se o Brasileirão custar um bilhão e houver duas emissoras interessadas, cada uma que pague 500 milhões e ambas transmitam a competição.
Eu defendo algo parecido, mas com uma modificação. Estipulem o valor do certame. Se for um bilhão, que cada emissora interessada pague esse valor para transmitir. Ou seja, se houver cinco emissoras interessadas, que cada uma pague um bilhão (valor hipotético do campeonato) e transmita os jogos que bem entender.
Seria a maior arrecadação da história do Campeonato Brasileiro em cotas de TV (cinco bilhões). O que acontece é que a guerra pela audiência é mortal. A Record sonha há muito tempo em ultrapassar a Globo no Ibope. E outra. Se apenas uma emissora detiver os direitos, ganhará mais de patrocinadores, pois será a única a ter a captação desses recursos.
Mas o telespectador tem o direito de escolher se quer ver o futebol na emissora X ou Y e ouvir determinado narrador, comentarista ou repórter. A isso dá-se o nome de pluralidade.
Entendo que essa briga é saudável. Movimentaria o mercado midiático e jornalístico. A Globo é fera em transmissão de eventos e espetáculos. Faz a plástica da sua programação como ninguém. Isso ninguém discute. Mas não pode ter o futebol como um programa de sua grade.
O esporte existe primeiro no estádio. E só está na TV porque é disputado de fato na arena. Para quem frequenta os estádios, jogos às 22h são um absurdo para o torcedor que quer curtir seu time e tem que acordar às 6h do dia seguinte para trabalhar.
O monopólio faz isso. Distorce as coisas. Quando uma competição passa a ter um dono, a coisa complica. O horário deveria ser determinado por quem faz a tabela, ou seja, pelo departamento técnico da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) levando única e exclusivamente em conta os interesses do torcedor.
Mas, pelo visto, aqui no Brasil, tudo se resume a dinheiro. E isso atrapalha muita coisa. O esporte que o diga. Forte abraço.
COMUNICADO DA TV GLOBO
"Os dirigentes efetivamente preocupados com os legítimos interesses dos seus clubes e, acima de tudo, os torcedores são testemunhas dos volumosos investimentos que a Rede Globo tem feito ao longo desses anos, numa parceria pelo aprimoramento do nosso futebol, na busca de um espetáculo emocionante, com profissionalismo e qualidade.
Essa contribuição tem se traduzido no crescimento das receitas dos clubes, não só através das receitas obtidas com a venda dos direitos de transmissão, bem como com a comercialização de outros direitos, incluindo propaganda nos uniformes e publicidade nos estádios.
As exigências e modificações nos conteúdos das plataformas implicam na desestruturação de um produto complexo, que foi construído ao longo dos últimos 13 anos, inviabilizando assim qualquer perspectiva de um retorno compatível com os investimentos na compra dos direitos.
As condições impostas na carta-convite não se coadunam com nossos formatos de conteúdo e de comercialização, que se baseiam exclusivamente em audiência e na receita publicitária, sendo incompatíveis com a vocação da televisão aberta que, por ser abrangente e gratuita, é a principal fonte de informação e entretenimento para a maioria dos brasileiros.
Assim é, em respeito ao interesse do público, que a Rede Globo se sente impedida de participar desta licitação e pretende manter diálogo com cada um dos clubes para chegarmos a um formato para a disputa pelos direitos de transmissão que privilegie a parte mais importante desse evento: o torcedor".
Central Globo de Comunicação
O outro lado - COMUNICADO DA RECORD
A Rede Record vem a público expressar preocupação com as reações ao modelo de negociação proposto pelo Clube dos 13. O formato foi desenvolvido como consequência de um acordo entre o Clube dos 13 e o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Pelo que foi acertado, cláusulas que caracterizavam o favorecimento a um monopólio e impediam a participação de outros concorrentes de forma democrática e transparente foram proibidas.
O modelo anterior impôs aos clubes brasileiros o endividamento e a perda sucessiva de seus maiores talentos para outros países. Alguns clubes brasileiros passam meses sem parceiros patrocinadores porque camisas, luvas, bonés e até placas publicitárias são evitadas ou encobertas nas transmissões esportivas. Ainda existem alguns clubes brasileiros que simplesmente são ignorados durante a temporada e passam semanas sem que seus jogos sejam transmitidos.
A carta convite enviada pelo Clube dos 13 contempla uma concorrência transparente, séria, com regras claras. O documento exige propostas entregues em envelopes fechados e pressupõe declarar vencedor aquele que fizer a melhor proposta financeira para todos os clubes. O modelo é semelhante ao estabelecido pelo Comitê Olímpico Internacional para a disputa de direitos dos Jogos Olímpicos. A Record detém os direitos de transmissão exclusivos dos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres. Fez a melhor proposta e venceu. O mercado publicitário brasileiro - de forma ousada - correspondeu ao investimento da Rede Record e cobriu todos os custos de direitos e transmissão, além de gerar lucros.
Parte do pacote olímpico já foi visto no Brasil com a premiada e pioneira cobertura esportiva dos Jogos de Inverno de 2010, de Vancouver, no Canadá. Prova inequívoca de que a Record quer inovar no esporte, tem apoio do mercado publicitário e retorno expressivo em audiência.
Este ano, em outubro, faremos o mesmo com os Jogos Panamericanos de Guadalajara.
A proposta do Clube dos 13 rompe com as obscuras negociações que favoreciam o monopólio e descaracterizavam a concorrência, impondo aos clubes valores e limitações exigidas pelos eternos favorecidos.
A Record reafirma o desejo de participar da concorrência do Clube dos 13, se os associados estiverem em acordo e unidos em busca de propostas que ofereçam alternativas para o torcedor brasileiro, melhorem arrecadações e ampliem a possibilidade de surgimento de novos patrocinadores.
Mas se os clubes desejarem uma negociação em separado, optando por outro modelo, a Record também pretende apresentar proposta, desde que as negociações sejam feitas seguindo padrões de transparência e regras claras. Ou seja, com a garantia de que a melhor proposta para a televisão aberta terá preferência.
Esta é a forma que a Record encontra para contribuir com a evolução e o desenvolvimento do futebol brasileiro, proporcionando ao torcedor acesso livre e gratuito ao esporte preferido da nação.
São Paulo, 02 de março de 2011
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A globo tem medo da concorrência(Record) e por isso está se opondo e colocando obstáculos para participar da licitação.
ResponderExcluirÉ um jogo político bastante complexo. O monopólio representa muito em audiência e patrocínio.
ResponderExcluirlembro que na década de 80 a Record que pertencia a família Machado de Carvalho detinha os direitos e pouco fez. Com a Globo o futebol teve uma enorme alavancagem , mas sou contra todo e qualquer monopólio.
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