O recente episódio envolvendo o jornalista Jorge Kajuru e o atual técnico do Grêmio, Renato Gaúcho, inspirou-me para escrever este post. Vou dedicá-lo ao Pedro Silva, que conheci ontem na Cummins. Ele vai entender o porquê.
Quer os jornalistas gostem ou não, o "off" faz parte da profissão. Concordo que temos ânsia em divulgar as informações, mas existem momentos em que é preciso cautela. A expressão em inglês "off" (significa "desligado", em português) é, obviamente, o contrário de "on" ("ligado", em português). No jornalismo, elas são usadas para saber quais declarações podem ser publicadas ou divulgadas (on) e quais devem ser mantidas em sigilo ou melhor apuradas antes de irem ao ar (off).
Como muitos jornalistas têm (ainda hoje) o costume de registrar as entrevistas com um gravador de mão, a expressão pegou. "On", seria "on the record", ou seja, com o gravador ligado. E "off" seria "off the record". Com o gravador desligado e, portanto, um conteúdo sigiloso e não confirmado.
Diz Kajuru que telefonou a Renato Gaúcho e o questionou sobre sua possível ida para o Fluminense. O técnico teria dito que há chances reais, mas que "ele não falou nada" a Kajuru. Ou seja, para bom entendedor, está na cara que pediu "off". Kajuru não quis nem saber e tascou brasa com a declaração exposta na mídia.
KAJURU NÃO GUARDOU "OFF" DE RENATO GAÚCHO
Para mim, agiu de forma errada. É falta de ética e palavra com a fonte. Muitas fontes são cultivadas assim, com declarações em "off" e sendo respeitadas em seus pedidos. Quando não pedem, tudo bem. Mas com esse pedido explícito desrespeitado, se eu fosse a fonte, ia me sentir traído. A confiança acaba. E diga "adeus" a outras boas e quentes declarações que aquela fonte poderia lhe dar.
O que o jornalista deve fazer então? Simples. Deve cruzar informações e tentar checar a veracidade do "off" com outras fontes que rodeiam aquela situação. No caso, dirigentes do clube, jogadores influentes, pessoas próximas ao técnico do Grêmio, etc. Como fizeram Karl Bernstein e Bob Woodward no lendário caso Watergate.
Eles recebiam informações de uma pessoa ligada ao governo sobre o episódio que envolvia a figura do presidente norte-americano, Richard Nixon. Mantiveram o "off" até o fim. Deram, talvez, o maior furo da história da comunicação (furo, em jornalismo, é notícia quente e em primeira mão e não algo "furado", sem valor). Ganharam enorme prestígio.
FILME RETRATA CASO WATERGATE
Para quem quiser se aprofundar no assunto, indico o filme "Todos os Homens do Presidente" (All the President's Men). É uma bela história. Se não tivessem preservado o "off" da fonte, apelidada de Garganta Profunda, não teriam o gostinho de ver Nixon renunciar, envergonhado, diante do povo estadunidense.
Voltando ao Brasil e ao esporte bretão, Renato Gaúcho tentou se esquivar, dizendo que pensou que a ligação fosse um trote. Saída pela esquerda.
Ficou pior a emenda do que o soneto. Claro que ninguém acreditou. A imprensa só repercutiu tal declaração para fazer piada, pois isso é fazer pouco caso do intelecto de repórteres, apresentadores e comentaristas. Ruim para todo mundo. Sim, jornalista precisa usar o "off" com sabedoria.
Quem não o faz, também pode dar uma boa "barrigada" (no jornalismo, notícia falsa). Romário fez isso com um colega jornalista. Sabendo que o rapaz jamais guardava "off", anunciou em "segredo" que iria encerrar a carreira naquela semana. O jornalista caiu como pato e publicou na capa do jornal. Romário disse que não sabia de nada. Isso foi em 2004. Romário abandonou os gramados quatro anos depois.
Quem faz o que quer, também sofre as consequências. O próprio jornalista prejudicou seu trabalho. Barrigada é passível de demissão por justa causa em qualquer empresa de mídia. Por isso, todo cuidado com "off" é pouco. E com apuração também. Ambos são extremamente necessários para o bom desempenho da profissão. Fica a dica. Forte abraço.
É meu amigo sua postagem já pode ser inclusa em vestibular de faculdade. Avante Prf. Leandro !
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