sexta-feira, 25 de março de 2011

O pior erro é o de informação


Por mais que nos esforcemos para fazer bem nosso trabalho, não somos perfeitos e, vez ou outra, erramos. Tem jornalista que troca nome de entrevistado, engasga, tosse, espirra, gagueja, esquece de cuidar da vestimenta. Tem jornalista que escreve os nomes de maneira errada, no caso da mídia impressa.

São erros até bobos. Vários passam mesmo despercebidos. Tudo isso faz parte da profissão. Releva-se. Mas o jornalista não pode cometer apenas um erro: o de informação. Passar a informação errada é pior do que qualquer coisa.

No dia 17/03, a apresentadora Carla Vilhena apresentava o Bom Dia SP, da TV Globo. Na tela, os gols da Copa do Brasil. O jogo: Palmeiras e Uberaba (vitória fácil do Verdão por 4 a 0). Carla narra no momento da exibição do segundo gol: "Luan toca no canto direito do goleiro: 2 a 0".

A imagem mostrou o contrário. O toque foi no canto esquerdo. Erro besta, mas de informação. É grave. Não sei quem fez o texto. Provavelmente um redator que, além de tudo, não entende nada de futebol. Se fez isso com o esporte mais popular do país, o que poderia ter feito com uma notícia de economia ou da área médica?

Não importa. Carla leu o texto. Para o telespectador, que não imagina como funciona a dinâmica de uma emissora de TV, o erro foi dela. Ela narrou o vídeo. E ponto.

Outros erros são ainda mais graves. No dia 10/03, a jornalista Sonia Racy, da Globo News e colunista de O Estado de S. Paulo, disse ao ator Lúcio Mauro Filho que seu pai, o velho Lúcio Mauro, já "não está mais entre nós". Lúcio Filho levou na esportiva, riu e disse: "ainda bem que ele está, né".

Além de um erro de informação gravíssimo, um mico imenso. A jornalista "matou" o pai do rapaz. Eu não saberia onde esconder minha cara. Ainda assim, estamos no terreno das amenidades. Erros muito piores na história do jornalismo já prejudicaram a vida de muitas pessoas. Na realidade, destruíram.

Notícias não apuradas e a divulgação na imprensa de fatos nunca checados levaram seis pessoas a passarem por abusadores sexuais de crianças no lendário caso da Escola Base, em São Paulo.

O caso é tido como o maior erro jornalístico já visto. A escola foi depredada. Os donos perderam tudo. Sofrem de síndrome do pânico e até hoje tomam remédios para dormir. Quase toda a imprensa publicou as notícias mentirosas, confirmadas erroneamente por policiais e pais de alunos.

A Justiça condenou o Governo do Estado de São Paulo a indenizar as pessoas. Estadão, Folha de S. Paulo, TV Globo e muitas outras mídias também foram condenadas a indenizar os envolvidos. Para quem quiser se aprofundar no assunto, indico o livro de Alex Ribeiro, "Caso Escola Base - Os abusos da imprensa" que explica o caso com todos os detalhes. Vale a pena conferir.


LIVRO RETRATA UM DOS MAIORES
ERROS JORNALÍSTICOS DA HISTÓRIA

A reparação financeira não foi suficiente. Os envolvidos foram pré-julgados e estraçalhados pela sociedade. Quase foram linchados na rua. A parte psicológica das pessoas esmigalhou-se. Que dinheiro paga tal prejuízo? O erro de informação pode ser fatal. Mata em vida. É cruel.

Errar o canto do gol, a morte de alguém e julgar inocentes como culpados. Uns menos graves, outros mais. Porém, todos erros de informação. Que não cabem a quem se considera um bom jornalista. Não os cometa. Repito: a apuração é fundamental. Um forte abraço.

3 comentários:

  1. Erro é gravissimo, nós como jornalistas temos a função além informar é claro, também revisar o que iremos divulgar.
    Outro erro (neste é mais minha praia) já que trabalho muito com jornalismo escrito é trocar o nomes das pessoas. Acontece direto tanto na internet conto nos jornais... E o pior é que depois ele nem tão errata.
    Vamos tentar fazer um jornalismo melhor assim que nos derem uma grande chance.
    bjs......... saudades

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  2. Excelente texto, adorei o assunto. E como foi mencionado depois que o estrago é feita, não adianta pedir desculpas !
    Gostei também da citação/indicação do livro, adoro livros que abordam tais assuntos.
    Parabéns

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  3. Muito obrigado sempre aos meus amigos pelo carinho com este blog. Sem vcs ele não teria nenhum sentido. Um abraço!

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