quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

"Vem que tem!" Blog entrevista jornalista Gustavo Baena, da TV+


Polido, educado e atencioso com todos. De familiares a funcionários e admiradores. Profissional sério, trabalhador e competente, Gustavo Baena já soma 15 anos de carreira no jornalismo. Criador do bordão "Vem que tem!", o jornalista e apresentador de televisão é conhecido também por sua sinceridade, honestidade e ética. Hoje, partilha sua visão a respeito do mercado midiático com este blog.

Para Baena, que hoje está na TV+ (emissora com sede no ABC Paulista) e montou sua própria assessoria de comunicação, o mercado é restrito, fechado. Mas sempre há espaço para quem tem competência, disciplina e boas ideias.

Baena (sobrenome de origem espanhola) já passou por inúmeros veículos de comunicação. Fez de tudo. De esportes a variedades. Formado na Universidade Metodista de São Paulo, em 1998, e defensor do diploma (como eu!), acredita na faculdade como a porta de entrada do jornalista para o mercado profissional. Mas ressalta que dom, vocação e talento são fundamentais para que a pessoa não desista da carreira ao tomar conhecimento da rotina pesada, exaustiva e estressante.

O jornalista respondeu a todos os questionamentos com franqueza e sutilidade, traços marcantes de sua personalidade. Trabalhei com Gustavo em 2008 e 2009, na TV+. Pude conhecê-lo melhor pessoal e profissionalmente. Pessoa de fino trato e excelente coração. Cativa da criança ao idoso. Baena esqueceu-se de mencionar que, para trabalhar em televisão, é preciso, além do dom e da vocação, muito carisma. O que ele tem de sobra.

Suas respostas refletem a dura realidade do mercado de trabalho em nossa área. Percebi que temos pensamentos afins. Este blogueiro que vos escreve compartilha, linha por linha, das filosofias e conceitos de Gustavo Baena sobre a profissão. Confira a íntegra da entrevista com este "monstro" de profissionalismo (no bom sentido), que hoje emprestou sua experiência para abrilhantar o conteúdo do blog.


Leandro Martins - O que achou do curso de graduação quando estudou jornalismo?
Gustavo Baena - No meu caso o curso forneceu uma base teórica importante e a possibilidade de ter um conhecimento básico em diversas áreas que são fundamentais para o desenvolvimento do jornalista (um observador nato dos fatos e da natureza humana): psicologia, sociologia, filosofia, direito. Isso é fundamental para que possamos entender o presente traçando um paralelo com acontecimentos do passado. Mas é claro que vai depender do instinto de cada um a busca por um aprofundamento e o desenvolvimento profissional. Nisso a prática das redações ou estúdios de rádio e TV também vai ajudar muito.

LM - Você acredita que a faculdade prepara bem uma pessoa para o mercado de trabalho?
GB - Acredito que a faculdade dá os conceitos gerais e as técnicas para que o jornalista siga em jornais, tvs, rádios ou assessorias de imprensa. Mas sem dúvida alguma o conhecimento vem  com a prática e o interesse individual. Sem esquecer que competência profissional e talento contam muito.

LM - Em quais empresas de mídia já trabalhou?
GB - Nos jornais Diário do Grande ABC e Diário de São Paulo passei por várias editorias como Geral, Economia, Automóveis, Cultura e TV, desenvolvendo funções de repórter, editor, crítico e colunista. Também fiz TV, com passagens por RedeTV!, Band e TV+. Mas meu início foi como apresentador de telejornais num canal local do Grande ABC, a extinta TV São Caetano.

LM - Como é sua rotina hoje?
GB - Hoje sou apresentador na Rede TV+, emissora com sede no ABC, mas que já se expande para outras praças. Sou um prestador de serviços e tenho certa flexibilidade de horário, com o compromisso de estar em gravações ou transmissões ao vivo. Pela manhã toco projetos da minha empresa de comunicação e conteúdo, a Baena Produções & Assessoria, e no período da tarde sigo para a TV, onde fico até à noite. E não só no ar, participo da rotina de produção dos meus programas.

LM - Quando decidiu que ia trabalhar com mídia?
GB - Sempre tive interesse pelo universo da comunicação, embora a intenção da minha mãe era que eu fizesse Odontologia e meu teste vocacional tenha dado Psicologia (mas com diferença pequena para Jornalismo e Artes Cênicas). Meu negócio sempre foi a área de humanas. Aos 12 anos já desenvolvia o jornal da minha escola e mobilizava todos os colegas para a produção de textos em várias editorias, uma mini-redação (rs).

LM - Como foi seu início de carreira?
GB - Meu início foi como apresentador de telejornais locais na minha cidade (São Caetano). Acredito que quando você começa e é muito jovem, no meu caso tinha 17 anos, é dificil que as pessoas acreditem no potencial e na capacidade criativa que tem. Se bem que esse tipo de coisa você vai enfrentar o tempo todo. Sempre temos de estar provando algo...

LM - Em quais editorias você já trabalhou?
GB - Já passei por várias áreas, até esporte que não sou muito fã, cobrindo folga de colegas. Mas gosto e acredito mesmo numa mistura de entretenimento e informação com boas doses de prestação de serviços. Gosto de me sentir útil para quem me assiste.

LM - Como avalia o mercado de trabalho na mídia hoje? O tal do "quem indica" existe de fato ou é lenda?
GB - Acho que o QI é uma realidade e em certos casos positiva, pois trata-se de um mercado fechado e vivemos de certa forma de contatos. Mas isso não exlcui o bom histórico, as boas referências, até porque quem indicou pode se queimar lá na frente! É um mercado restrito, com muitos aventureiros deslumbrados com ideia de fama e dinheiro fácil, mas quando se deparam com a realidade da profissão, a rotina de um fechamento diário num jornal de grande circulação, desistem na hora. Seguem mesmo os que nasceram pra coisa, têm vocação, vontade de trabalhar e crescer. Dinheiro e sucesso são consequências.
LM - O que pensa a respeito dos salários iniciais no jornalismo? E dos pisos salariais determinados pelos sindicatos?
GB - Pelo tanto que se trabalha e comparado a outras categorias, baixos! E pouco se tem feito para mudar a realidade, dificil conseguir...

LM - Você acha que os sindicatos dos jornalistas são omissos? Eles deveriam agir mais? Ou são reflexo da "classe" desunida?
GB - Não diria uma desunião da classe, até porque os coleguinhas estão sempre trocando figurinhas.... Há, de certa forma, um desrespeito de muitos empregadores e uma ineficiência na investigação de irregularidades trabalhistas. Muitos profissionais se acomodam ou se submetem também temendo represálias por conta até do circuito fechado que já citei anteriormente em nossa área.

LM - Alguns jornalistas tornam-se amigos de fontes pela convivência. Você acredita que o jornalista ser amigo da fonte ajuda ou atrapalha o trabalho?
GB - Não vejo problema algum. Eu mesmo tenho fontes amigas, o que é preciso saber é separar amizade, trabalho e interesses.

LM - Em algumas empresas de diversos setores existe sempre uma puxada de tapete. Você já se sentiu alvo de perseguição no meio? Sentiu-se traído?
GB - Isso você vai ver a todo momento. Mas não sou daqueles que ficam neuróticos achando que a todo momento estão conspirando contra seu trabalho. Acredito em fazer o meu e bem-feito. Mas em TV, por exemplo, a fogueira das vaidades é bem ardente, é muito ego pra administrar e muita gente incompetente em postos de destaque, que por não se garantirem temem qualquer ameaça de quem é preparado de fato. (nota do blogueiro: infelizmente, vemos muito isso)

LM - Como é cobrir um grande evento? Quais você já cobriu?
GB - Já cobri tantos grandes eventos que seria impossível listá-los... Com artistas famosos, grandes empresários, presidentes da república. O segredo é você estar preparado, conhecer assuntos e pessoas e se garantir. Não importa se é algo no seu bairro ou para toda a nação, o que conta é a essência, preparo, como conduz seu trabalho.

LM - Qual foi a maior emoção da sua carreira até hoje?
GB - São 15 anos de carreira e a maior emoção pra mim foi ter trabalhado com profissionais que sempre me ajudaram a crescer, com diálogo, apontando erros e acertos. Isso é motivo de muita alegria, pois vejo hoje jovens saírem totalmente despreparados das universidades, cometerem as maiores barbaridades nas redações e isso passar batido por falta de interesse num aprimoramento, tanto por parte de quem comanda quanto de quem é comandado. (nota do blogueiro: concordo e lamento junto em gênero, número e grau!)

LM - O que faz para preservar a voz?
GB - Não sou muito cuidadoso. Deveria me precaver mais, pois perco a voz muito fácil. Tomo água gelada por exemplo, mas tento compensar dormindo cedo, fugindo de ar condicionado, essas coisas...

LM - Para os estudantes de jornalismo ou jornalistas recém-formados que pensam que o jornalismo é só televisão e que vão ficar famosos, o que tem a dizer? E o que falaria para aqueles que pensam que não vão trabalhar muito e nem aos finais de semana?
GB - Busquem outra carreira! Só no dicionário Dinheiro e Sucesso vêm antes de Trabalho. Jornalista é operário da notícia, não é artista. Você tem de estar atualizado, ser um cara antenado, mesmo quando está de férias!

LM - O que gostaria de fazer na carreira e ainda não conseguiu realizar?
GB - Meu projeto é conseguir conciliar uma carreira multimídia, rádio, impresso, tv e internet e encontrar tempo para fazer tudo bem feito.

LM - Com as novas mídias, existem novas possibilidades de trabalho para o jornalista? Quais?
GB - Acho que isso é cada vez mais evidente em sites, portais de notícias, blogs patrocinados. Conheço muita gente ganhando dinheiro e trabalhando em casa. Mas não acredito que o fim dos jornais impressos esteja próximo, nem sei se acredito num fim... Acredito que eles serão mais focados na análise/reflexão, o que as novas mídias, até pela instantaneidade das propostas, não conseguem fazer.

LM - O mercado restrito exige a criação de novos espaços? Como fazer para criá-los?
GB - Acho que avaliando deficiências de concorrentes. De repente, com espírito empreendedor, uma boa ideia, cria-se um canal de internet que acada sendo muito visto e virando referência. Tem de ter aquela dose de empreendedorismo e vontade de comandar uma equipe própria, tocar projetos nos quais acredite. Há espaço pra todo mundo.

LM - O que pensa a respeito do jornalismo regional? É algo que tem futuro?
GB - Hoje estou num projeto que tem essa proposta e acredito muito. As grandes redes de televisão e rádio, por exemplo, têm investido em programas locais como forma de aproximar a comunidade dos veículos. Com tamanha globalização, as pessoas têm ficado muito por dentro do que rola no mundo, em todos os lugares e carentes de notícias sobre o que está perto e que de fato vai interferir no dia-a-dia.

LM - Quem são os jornalistas e/ou profissionais da comunicação que mais admira?
GB - Gosto de muita gente, dos mais cultos com espaços em jornais e revistas de grande circulação aos mais populares. Mas citaria Marília Gabriela como uma profissional que tem uma postura que me cativa na hora de entrevistar. É uma referência.

      MARÍLIA GABRIELA É EXEMPLO DE POSTURA
PROFISSIONAL PARA BAENA

LM - Tem alguma história curiosa ou engraçada da profissão? Conte-nos.
GB - Engraçada posso citar uma de quando comandava o Culinária +, na TV+. Programa ao vivo, recebo a culinarista que ia preparar a seguinte receita: Rosca Princesa. Quando pergunto: "fulana, o que vamos fazer hoje?", ela responde: "Nós vamos dar a rosca princesa!". Foi difícil segurar o riso (nessa hora nos bastidores o pessoal já rolava de rir). Mas é o jogo de cintura necessário para o "ao vivo". Saí com essa: "Ah, vamos dar a receita da Rosca Princesa!!!". Mas a convidada passou o programa todo sem graça, após perceber a gafe e que tinha sido motivo de piada.

LM - É possível conciliar família e trabalho? Como suportar as viagens?
GB - Quando queremos conseguimos conciliar tudo. Costumo brincar que essa de falta de tempo é pretexto, pois, às vezes, pras coisas erradas ou que não acrescentam nada, muita gente arruma um tempinho pra escapar!

LM - Deixe uma mensagem para quem pensa em seguir carreira no jornalismo.
GB - Leia, ouça rádio, veja TV, fique na internet, mas não só atrás de assuntos que o atraiam, busque o conhecimento geral, conheça os profissionais, em vez da música do FM passe também pelos noticiários e programas do AM, seja uma pessoa completa! E, claro, se pretender se especializar em alguma área, informe-se, dedique-se!

Para quem quiser acompanhar o dia-a-dia do apresentador, pode segui-lo no twitter. Basta procurar por @GustavoBaena. Gustavo deu uma das entrevistas mais ricas e cheias de conteúdo que este blog já viu. Começamos bem 2012! Um forte abraço.

Facebook: Leandro Martins
Twitter: @leandropress

Um comentário:

  1. FICO MUITO ORGULHOSO EM ENCONTRAR ALGUEM COM MEU SOBRENOME E MUITO COMPETENTE... OBRIGADO!!!

    ATT. FELIPE BAENA ALCALDE.

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