sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Os modismos da internet e a falta de pauta nas redações jornalísticas


Se você, amigo leitor, acessa este blog, é porque, de certa forma, navega pela internet e convive com suas mazelas. É inegável que a rede mundial de computadores hoje exerce, além do fascínio, domínio sobre boa parte da humanidade. A internet vicia. Tem momentos em que ligamos o computador para não fazer nada, mas saber que estamos conectados já nos dá sensação de "alívio" por estarmos ligados em tudo o que acontece no mundo.

Assim, quem vive on-line o tempo todo também acaba, salvo exceções, contaminando-se com alguns modismos da internet. O último deles foi a história de Luiza, filha de um colunista social da Paraíba. O pai apareceu em um comercial de meros 30 segundos de uma construtora. Na peça publicitária, ele reunia a família na sala do apartamento para falar que o lugar era bom e tal e dizia: "por isso, reuni minha família, menos Luiza, que está no Canadá". Luiza tinha ido fazer um intercâmbio no país da América do Norte.

A frase citada acima virou febre na internet, principalmente em Twitter e Facebook. Acredito que o fenômeno deixa os analistas de redes sociais de cabelo em pé. Como explicar que uma frase tão simples e boba tornou-se "sucesso" de audiência no mundo virtual (e real também!)?

Há algumas hipóteses. A melhor delas talvez seja que o brasileiro é um povo que se ridiculariza por qualquer motivo (por isso também somos um país de quinta categoria). Rimos de coisas imbecis e idiotas como a história de Luiza ou damos espaço a discussões inócuas como o suposto estupro em um reality show de péssimo gosto. Se o brasileiro levasse seu país mais a sério, teríamos eleitores mais exigentes e conscientes, leis mais rígidas para ricos e pobres, punições verdadeiras a políticos corruptos, protestos legítimos por causas verdadeiramente significativas como melhorias na saúde, transporte e educação públicos.

Isso posto, cabe levantar outra questão. Que este tipo de fenômeno tome conta da internet é até aceitável, mas que vá parar nas redações de grandes e respeitados (ainda são?) jornais do país é algo simplesmente caótico! Tudo bem que janeiro costuma ser um mês de férias e, notadamente, até mais fraco de assuntos para abastecer as redações.

Mas daí a divulgar pseudos estupros e transformar em pseudo celebridade um nome que estava ausente é colocar o nariz de palhaço na população. Jornalismo tem o dever de informar com seriedade. Trazer assuntos relevantes ao conhecimento da população. E não fazer chacota diante da audiência. Belo jornalismo estamos criando. Parabéns, que exemplo! Na Europa, dificilmente Twitter ou Facebook pautam as redações.

Isso mostra a total falta de criatividade de pauteiros e editores e reforça o sensacionalismo que existe em torno de questões fúteis e vazias. Por causa desse tipo de conduta e da exploração de notícias "inventadas" como o suposto estupro (o que pode denegrir a imagem de uma pessoa já inocentada em depoimento à polícia pela suposta vítima), os ex-proprietários da Escola Base foram alvos de gigante injustiça, tiveram sua imagem dizimada frente à população e nunca mais viveram um dia de suas vidas sem tomar calmantes (para entender o caso completo, leia o livro "Caso Escola Base - Os Abusos da Imprensa", de Alex Ribeiro (Editora Ática; 168 páginas - veja foto de capa).


Por outro lado, quem teve seriedade e coragem para fazer uma dura crítica a tais imbecilidades originárias da virtualidade foi o jornalista Carlos Nascimento, do SBT. Durante o SBT Brasil, logo na abertura, disparou: "Luiza já voltou do Canadá e nós já fomos mais inteligentes" (veja vídeo abaixo). Faço minhas as palavras dele. Por isso, em vez de postar o vídeo do comercial da Luiza, posto com prazer o do SBT Brasil.


Para finalizar, uma última reflexão. Levar a um telejornal um assunto criado no mundo virtual é excluir grande parcela da população da informação. Afinal, quantos são mesmo os brasileiros que acessam a internet hoje? Pois é, muita gente ainda está sem entender essa história... Infelizmente, só tenho a lamentar e sentir vergonha de alguns colegas de profissão. Precisam ser mais filhos da pauta e menos filhos da outra que começa com a letra "P".

E pensar que tem muita gente boa querendo uma vaga no mercado. A guerra pela audiência está cada vez mais insana. E nela, já tivemos e vamos ter ainda muito mais mortos e feridos. Um forte abraço.

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