quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
Quando a edição pode causar danos ao conteúdo da mídia
Para quem não está acostumado com os jargões e termos jornalísticos, explico: o editor é a peça fundamental de uma reportagem, de um anúncio publicitário, de uma foto, de uma entrevista na rádio ou de qualquer programa de televisão.
Como o próprio nome diz, editor é a pessoa que edita, isto é, dá o acabamento, a cara final do produto midiático. O editor pode ser de texto, de conteúdo, de arte, de imagem e de áudio. Em todos os casos, esse profissional é importantíssimo.
Por exemplo, em mídia impressa, o editor de texto checa a veracidade das informações da reportagem e questiona sempre o repórter sobre a verdade daquilo que está escrito. O editor de imagem trata as fotos e escolhe as que melhor representam aquilo que o repórter transmitiu em seu texto.
Já o editor de arte faz infográficos, ilustrações e artes para dar apoio ao texto. E quando o anúncio publicitário não vem pronto da agência, é esse profissional que vai desenvolver uma arte para fazer a propaganda de um produto no veículo. Em rádio e televisão, o editor precisa ser extremamente criativo para usar efeitos especiais nas reportagens, músicas e outros recursos para torná-las atraentes ao público.
O editor de conteúdo, nesse contexto, tem função fundamental. Tanto na mídia impressa como no rádio e na TV, ele precisa tomar muito cuidado para que as informações contidas no produto sejam verdadeiras ou estejam apoiadas em declarações que as sustentem. Esse profissional é o responsável direto por tudo o que é publicado ou vai ao ar.
Por isso, é preciso ter atenção e, acima de tudo, agir de boa fé para não alterar o sentido das declarações dadas pelos entrevistados ou personagens e transmitir uma ideia ou informação diferente da original. Por exemplo, suponhamos que, na reportagem, o repórter escreve um texto sobre a opinião de um entrevistado sobre um prato em um restaurante.
Na entrevista na íntegra, o convidado diz assim. "Eu gostei muito". Por uma questão de espaço, cada tipo de mídia vai tratar a declaração de uma forma. A mídia impressa costuma ter mais espaço e pode publicar a frase tal como foi dita. No rádio, pode ser que o editor "corte" a palavra "muito" e deixe o entrevistado falando: "Eu gostei".
E na TV, no curto tempo que existe para a exibição de conteúdo, o editor pode "cortar" as palavras "muito" e "eu" e deixar apenas a declaração "gostei". Em todas elas, o sentido do que o entrevistado disse não foi alterado. Mas, suponhamos que a declaração fosse oposta: "Eu não gostei". Se na TV aparecer apenas a palavra "gostei", o sentido da declaração foi brutalmente modificado e, mais do que isso, invertido.
Tem editor de fotografia que, para denegrir a imagem de um político que seja rival ao pensamento do dono do jornal, por exemplo, publica uma foto dele limpando o suor na testa ou com o dedo no nariz.
Infelizmente, muita gente na mídia usa destes expedientes de má fé, apenas para dar apoio à sua reportagem e não ao que disse o personagem. Isso vale para qualquer matéria escrita ou falada ou qualquer programa de rádio ou televisão. E por isso também muita gente tem raiva e não fala com a imprensa.
Certa vez, em meu perfil do Facebook, fiz uma crítica ao programa da TV Bandeirantes, Mulheres Ricas. Critiquei a postura da piloto de Fórmula Truck, Débora Rodrigues, que, ao comparar o valor de uma moto da marca BMW (que custava 90 mil reais) com o de um carro popular, disse: "Puxa, 90 paus... É o preço de um carro popular hein." Eu disse que, para um carro popular custar 90 mil reais, só se fosse o carro popular dela.
Débora me respondeu na própria rede social e disse que sua fala foi editada, pois na sequência, ela mesma se corrigiu e disse: "um não, uns carros populares né". Leia a resposta dela à minha crítica. "Quanto ao valor da moto eu brinquei depois dizendo "uns carros" mas na edição cortaram e você com 7 anos de jornalismo sabe que isso acontece!!!"
Infelizmente, sei. Mas sempre tento acreditar que as pessoas são profissionais e podem fazer um trabalho correto. Tentei contato com a edição do programa para repercutir a declaração, mas não obtive sucesso. Respondi à Débora que, se isso aconteceu de fato, ela deveria procurar a direção do programa e relatar o ocorrido, pois o sentido do que ela disse foi alterado. Mais do que isso, passou uma imagem de soberba, que não combina com Débora, notadamente a mais simples e pé-no-chão entre as ricaças.
Ou seja, ela não podia deixar que sua imagem fosse, de certa forma, denegrida pela edição. Este é apenas um exemplo do que a edição (seja em programa de entretenimento ou jornalístico) é capaz de fazer com o conteúdo. E a distorção pode ser fatal em muitos casos. Por isso, não apenas o cuidado deve ser tomado, mas também, é preciso que os profissionais ajam de boa fé. Um forte abraço.
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