segunda-feira, 13 de junho de 2011

O polêmico projeto da Globo, "Parceiro do SP"


A TV Globo encerrou ontem as inscrições para um novo projeto chamado "Parceiro do SP". Segundo o site Comunique-se, a intenção do novo quadro é que 14 moradores de algumas zonas da capital paulista e outras cidades da Grande São Paulo (totalizando sete regiões) mostrem curiosidades e acontecimentos de seus bairros com pequenos vídeos feitos por eles mesmos.

Esses novos "repórteres" devem ser selecionados como qualquer pretendente a uma vaga de emprego. Com provas de raciocínio lógico, conhecimentos gerais, português, redação e as "velhas e boas" dinâmicas de grupo. Devem ser maiores de 18 anos e terem Ensino Médio completo. O que não impede que sejam diplomados em qualquer curso universitário.

Segundo a TV Globo, os candidatos serão avaliados por jornalistas, que também vão acompanhar os "repórteres" no processo de edição dos vídeos. Eles ainda devem fazer um curso de técnicas jornalísticas.

A polêmica surge no momento em que se debate o mercado de trabalho. Para alguns, é um meio de a emissora contratar mão-de-obra barata, com pouca qualificação, em vez de jornalistas diplomados. O projeto foi, inclusive, contestado pelo Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro e pela Associação Profissional dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Estado do Rio de Janeiro (Arfoc).

Na verdade, a TV Globo já faz uso deste expediente há algum tempo. Não é de agora que a emissora aproveita o trabalho de telespectadores. No próprio SPTV, o canal sempre exibiu vídeos amadores feitos por pessoas da comunidade para denunciar irregularidades no trânsito ou em ruas da capital. Valia até mesmo vídeo de celular.

Bem, existem aí dois lados. O do jornalista, enquanto reserva de mercado de trabalho (e muita gente sonha em trabalhar na Globo, o que também pode significar certa dor de cotovelo) e o da relação entre emissora e comunidade. Como sempre, sinto-me muito à vontade para falar da Globo, pois sempre elogio ou critico quando merece, sem radicalismos.

Primeiramente, é bom que as pessoas saibam que a TV Globo é a emissora aberta que mais produz jornalismo em sua grade de programação e investe pesado nela. É, de longe, a que faz isso com melhor qualidade técnica e plástica (o conteúdo sempre será discutível em qualquer emissora). Para mim, sempre esteve muito distante das rivais. Anos-luz à frente.

Outra coisa importante. Existe o padrão Globo de jornalismo e me recuso a crer que permitirão que materiais sem qualidade aceitável sejam veiculados no ar. Seria dar um tiro no pé da própria credibilidade, construída durante tantos anos.

Isso posto, não há como negar que essa relação entre emissora e telespectador ajuda as duas partes. O telespectador ganha voz para mostrar os problemas que acontecem na região onde mora, coisa que talvez não conseguisse de outra forma.

Quer queira, quer não, a imprensa é um meio importante para solucionar muitos problemas crônicos de forma rápida (vide quadro "Proteste Já", do programa CQC, da TV Bandeirantes). Nenhum político quer ter sua imagem manchada em épocas eleitorais. Ainda mais aparecendo na Globo. O problema é que os políticos deveriam resolver os entraves dos locais que gerem sem necessitar dessa cutucada. Isso não é mais do que a obrigação deles.

Para uma emissora que sempre considerei distante do povo, no sentido de permitir sua participação na programação, considero um avanço. O projeto é mais do que ligar para um zero oitocentos ou mandar mensagens para os jogos de futebol. Deixa a comunidade realmente mais próxima.

Desde que nenhum dos moradores seja contaminado por qualquer tipo de visão interna da emissora. E também que não sejam obrigados a escrever os textos exatamente da maneira que os editores querem.

Para a TV Globo, sem dúvida, é uma oportunidade de aumentar a cobertura nos noticiários usando sim, uma mão-de-obra mais barata. O salário é de R$ 1.120,00 mais benefícios para quatro horas. Ou seja, pouco menos do que o piso de um jornalista para a capital paulista, que é de R$ 1.593,00 para cinco horas (definitivamente, jornalista ganha muito mal!).

Proporcionalmente, é um pouco inferior. A emissora emitiu uma nota em que diz: “A TV Globo jamais usou mão de obra barata no lugar de jornalistas (...) Trata-se de dar voz à comunidades para que elas retratem o seu dia a dia, naquilo que consideram importante, com a supervisão de nossos jornalistas. E os jovens contratados não ocuparam vagas existentes na empresa e nem substituíram profissionais. Ao contrário, o projeto gerou novos postos de trabalho".

Se nenhum jornalista foi demitido, é um passo importante. Tem empresa muito mais picareta que demite jornalistas para colocar estagiários no lugar. Com este projeto, a Globo vai ganhar em cobertura, mas também vai trazer o benefício da visibilidade para os problemas de algumas comunidades. Se ajuda seres humanos a viver com mais dignidade, considero um bom projeto. Um forte abraço.

Um comentário:

  1. Concordo com vc, Leandro!!!
    Gostei e apoio o projeto! Se for para beneficiar e ajudar a resolver os problemas da comunidade, eu acho que só trará beneficios para todos os envolvidos!!!
    Grande beijo!

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