segunda-feira, 27 de junho de 2011

O jornalista e o merchandising

Essa é uma questão que sempre foi muito polêmica no meio midiático. Jornalista pode fazer merchandising ou não? E participar de comerciais? Conheço vários jornalistas com as mais diversas opiniões a respeito do assunto. Alguns são a favor, outros contra.

Na faculdade, normalmente se ensina que é errado e antiético o jornalista fazer o popular "merchan" e participar de comerciais. Isso porque sua imagem seria associada a determinado produto. E, quando se vende, se faz publicidade, propaganda e não jornalismo.

Afinal, e se a empresa que fabrica o tal produto não agir dentro da legalidade? E se forem descobertas falcatruas e surgirem escândalos? E se o produto for ruim (de má qualidade) ou causar algum tipo de vício (álcool) às pessoas? O jornalista que fez o merchan ou o comercial teria sua imagem e credibilidade manchadas?

Bom, vamos lá. Primeiramente, é importante que o amigo leitor saiba que existem vários lados nessa questão. Quando vende qualquer coisa, um garoto-propaganda efetivamente associa sua imagem ao produto. Por isso, tem jornalista que não faz "merchan" de cerveja ou produtos do gênero, mas topa fazer de outras mercadorias. Por outro lado, tem jornalistas que não fazem "merchan" nenhum.

Vamos então às duas linhas de pensamento predominantes quando a questão é o "merchan". Quem não faz, defende que o jornalista não é pago para isso. Quem deve cuidar dessa questão é o departamento comercial da empresa. O departamento seria também o encarregado de vender os anúncios no jornal, programa, revista e qualquer veículo em que o jornalista atue. Mais pela credibilidade e "audiência" que o veículo possui e menos pela associação da imagem do jornalista com o produto.

Um grande exemplo dessa linha de raciocínio é Juca Kfouri, conhecido por ser radicalmente contra o "merchan" e por fazer "propagandas" como "beba água da bica", "tome chá de cadeira" e outras. Jorge Kajuru também é adepto desta filosofia.


JUCA KFOURI E JORGE KAJURU: CONTRA O MERCHAN

Já quem faz "merchan", alega que, com o dinheiro extra que o patrocinador investe, a empresa ganha mais e, assim, também ajuda a pagar o salário de companheiros de trabalho. Defendem essa linha Flávio Prado e Milton Neves. Este último, conhecido por ser o "rei dos merchans" (vende de tudo).

MILTON NEVES E FLÁVIO PRADO: A FAVOR DO MERCHAN

Essa segunda linha de raciocínio contém uma meia verdade. Quando o patrocinador investe e consegue que o jornalista faça "merchan", efetivamente injeta mais dinheiro na empresa de comunicação. Porém, se a empresa for grande, como emissoras de TV aberta, rádios populares, jornais e revistas de grande circulação, essa verba vai apenas para o jornalista que aceitou fazer o "merchan". Em nada ajuda os companheiros de trabalho.

Porém, em mídias pequenas, o dinheiro ajuda sim a todos. Esse considero ser o "merchan" que vale a pena. Exclusivamente nesse caso, eu faria, pois o bem maior seria ajudar aos colegas. Não estaria cometendo nenhum crime ou enganando qualquer pessoa. A ética é um valor pessoal. A minha não se feriria com isso. A credibilidade, a honestidade e a sinceridade se mantêm sempre intactas, pois são valores da pessoa e não do produto vendido.

O ideal mesmo seria que todas as empresas pagassem bem e em dia aos profissionais da comunicação. Mas a realidade é outra e isso, na verdade, é exceção e não regra. Hoje, a sociedade é melhor informada. E as pessoas de nível médio sabem diferenciar o que é propaganda e "merchan" do que é a notícia e a informação. E até respeitam isso.

O que não pode é o jornalista enganar o público e disfarçar ou travestir a propaganda como uma notícia. Aí sim, é agir de má fé. É ludibriar. Se fizer "merchan" e der a informação em separado, de forma que isso fique bem claro para o público, não vejo mal algum. Mas será sempre mais bem visto se ajudar os companheiros a sustentar a família. O exagero também é condenável. Jamais o "merchan" poderá tomar o espaço da informação ou truncar seu entendimento. É isso. Um forte abraço.

3 comentários:

  1. Acho o Milton Neves intelígentíssimo, conhece futebol como ninguem, mas numa entrevista ele mesmo disse que ter conhecimento não estava dando retorno financeiro que ele merecia por isso partiu pro merchan. Quanto ao Flávio ele é meio hipócrita sobre isso pois antes de ir pra TV Gazeta abominava o merchan, mas hoje faz sem qualquer problema, afinal precisa dele e muito.

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  2. Obrigado sempre pelos seus comentários em meu blog. Bom, o Milton é sumidade. Só acho q o exagero deixa a programação sem qualidade. Logo, a audiência cai e a empresa pode deixar de patrocinar pela audiência. Pode ser um tiro no pé. Sim, a linha do Flávio Prado é bem hipócrita, mas não posso condenar as pessoas. Entendo que, se somos cidadãos inteligentes e pensantes, podemos mudar de ideia. Eu tb tinha uma visão quando fazia faculdade e mudei ao entrar no mercado de trabalho. Os radicais são burros e teimosos. Mudar de opinião é sinal de maturidade. Não digo que foi exatamente assim que ele tenha feito, mas a abertura da mente e a mudança de mentalidade sempre serão bem-vindas.

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  3. Ressalto que o merchan é inevitável,mas que o exagero é imperdoavel, toda hora parar um assunto pra falar de chuveiro, tenis, creme etc é de doer. Entendo que já existam os intervalos comerciais pra isso e que NO MÁXIMO poderia mencionar determinado produtos durante o programa na forma de SORTEIO ficaria mais amenos. Não posso esquecer que o programa tem que se pagar se não cai fora da grade.

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