sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A operação policial, a prisão de Nem Lopes e a repercussão da morte de Gelson Domingos

NEM LOPES, CHEFE DO TRÁFICO DE DROGAS
NA FAVELA DA ROCINHA, NO RIO DE JANEIRO

O texto de hoje é para responder alguns comentários de leitores no post que escrevi a respeito da morte do cinegrafista da TV Bandeirantes, Gelson Domingos. Na ocasião, defendi que as pautas policiais de alto risco não devem ser feitas pelos jornalistas. Repito: as imagens de um tiroteio não acrescentam nada de relevante à reportagem. E disse que os profissionais deveriam se recusar a ir nesse tipo de pauta.

Roberto Rocha disse que concorda comigo, mas faz uma pergunta: "Se não fosse ele que fizesse, outro profissional o faria. Ou seja qual escolha ele teria?" Teria a escolha de não ir e salvar sua vida.

Sim, o que você disse é verdade, Roberto. Se ele não fizesse, alguém iria no lugar dele. O problema é que os jornalistas não são unidos e não formam sequer uma classe. Nenhum jornalista ou cinegrafista deveria aceitar ir em gravações que coloquem a vida em risco. Se isso acontecesse, não haveria pauta e ponto final. O dono da emissora é que não iria fazer o trabalho.

O ABC PAULISTA F.C. levantou uma questão interessante. Diz ele: "com o advento das câmeras digitais (filmadoras) e celulares multimídia, os cinegrafistas vivem em constante estresse, pois sentem-se na obrigação de obter melhores ângulos e melhores imagens antes que um amador o faça. Hoje qualquer pessoa capta uma imagem interessante, ou flagrante, de seu celular ou câmera digital antes das equipes de jornalismo".

É verdade. Por isso mesmo são cinegrafistas amadores. Que podem apenas estar passando pelo local no momento de um incidente. Mas onde um amador vai, não significa que seja lugar para um profissional ir. O morador da favela Antares, por exemplo, está muito mais habituado ao local do que alguém que não conhece a comunidade. E outra. Gravar com um celular chama bem menos a atenção de bandidos do que com uma câmera de oito quilos nas costas.

GELSON DOMINGOS, MORTO DURANTE A COBERTURA
DE UMA OPERAÇÃO POLICIAL

Essa obcessão pela melhor imagem, pelo melhor ângulo, por mostrar os momentos mais drásticos e dramáticos, às vezes, partem muito mais dos próprios jornalistas do que de seus diretores e proprietários das emissoras. É a sede de ganhar um prêmio, de ser quase um herói. É isso que atrapalha. Já disse e repito: jornalista não é presidente da república, nem personagem de desenho animado, nem super-herói e nem policial. Então, não deve fazer esse tipo de coisa.

Para fechar, vou falar sobre a reportagem da prisão do chefe do tráfico de drogas na Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, apoiando-me na mensagem do leitor e amigo Paulo Arnaldo. Diz ele: "a presença da imprensa deve atrapalhar muito a operação da polícia! Deixa os próprios policiais em risco e correndo sério risco de comprometer a operação".

Na realidade, Paulo, o que acontece é que os próprios policiais incitam a imprensa a comparecer a essas prisões e operações em flagrante, pois é um meio de exaltarem seu trabalho e, mais uma vez, passar a imagem de heróis. Embora para os policiais essa imagem esteja bem mais próxima do que dos jornalistas, também é equivocada.

Policial é pago para defender a sociedade. É um trabalho de risco. Mas não fazem mais do que a obrigação. Eles devem zelar pela paz da população, seja em favela ou não. E muitas vezes, ainda se corrompem por causa de dinheiro fácil, como vemos tantas quadrilhas por aí.

Ontem pela manhã assisti no jornal Bom Dia Brasil, da TV Globo, a reportagem sobre a prisão de Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem Lopes, chefe do tráfico de drogas na favela da Rocinha. A reportagem foi construída exatamente da maneira como acho que deve ser e como disse no post sobre o Gelson.

A repórter usou imagens da prisão em flagrante, imagens gerais (aéreas e terrestres da Rocinha) e mostrou o que foi apreendido com os comparsas. Pronto, está mais do que resolvida a matéria! Precisa mostrar um tiroteio ou a operação da polícia no ato da prisão? Não! E a notícia foi relevante de qualquer forma! E os policiais ainda recusaram 30 mil reais de suborno. Maravilha! Tudo certo! É assim que deve ser!

Na reportagem, ainda é possível ouvir um dos policiais gritando para Nem: "vira aí pra câmera"! Para mostrar o rosto dele, como um peixe grande que finalmente foi pescado. Ou seja, até os policiais gostam desse "Big Brother" da imprensa. Está errado! O caminho não é esse. O caminho é o da informação! Ela é a única estrela do jornalismo. O resto é sensacionalismo besta para vender jornal. Obrigado pelos comentários de vocês. Um forte abraço.

Facebook: Leandro Martins
Twitter: @leandropress

Um comentário:

  1. É por essas e outras que cada vez mais vejo " menos " jornalismo televisivo. Procuro ver o jornal da Cultura com a " Poli " ou mesmo o jornal da TV Brasil com o Florestan Fernandes. É o básico do básico, suoper light, sem sensacionalismo. O que " eu " quero ver e saber é dos acontecimentos como aconteceu (em imagens) não me interessa, basta o relato pura e simplesmente, assim como no rádio e mídia impressa. Mas paciência a maioria esmagadora quer sangue, orfãos do já falecido "NOTÍCIAS POPULARES " que agora reina em nossa telinha.
    Leandro valeu pela citação e espero estar sempre lendo posts seus sobre acontecimentos e sua visão sobre esta profissão maravilhosa, mas cheia de espinhos e percalços.
    Abraços e até a próxima.

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