quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Técnicas de entrevista: quando o entrevistado fala muito ou pouco


Durante o curso de jornalismo na faculdade, aprendemos algumas técnicas de entrevista para aplicarmos em reportagens externas e no estúdio. São dicas muito úteis, que ajudam no momento de conversar com as fontes. Porém, algumas situações vivenciamos somente na prática. E em meio a saias justas, precisamos tomar decisões para contornar problemas.

Alguns entrevistados conversam com você fora do ar com evidente naturalidade. Mas, basta ligar a câmera que a pessoa "trava". Gagueja, não consegue se expressar com clareza, chega a suar frio. O nervosismo, muitas vezes aliado à falta de domínio do assunto, de informação, de cultura geral e à leitura precária, faz com que esse tipo de fonte fale pouco.

Cabe ao entrevistador extrair da fonte, ainda assim, as melhores declarações. A saída é tentar deixar o entrevistado mais à vontade, para que relaxe e "esqueça" que está diante de uma câmera. Comece fazendo perguntas mais leves, que falem de amenidades. Desta forma, a fonte pode se soltar mais e dar declarações importantes, ainda que seja lacônica e burocrática.

O repórter precisa estar sempre preparado. E ter sempre boas perguntas na manga para instigar o entrevistado a falar. Evite fazer perguntas que possam receber respostas monossilábicas como "é", "sim" ou "não". Em vez de dizer, por exemplo: "Você está gostando da festa?", pergunte: "O que você acha da festa"?

Perguntas que obrigam o entrevistado a dar sua opinião sobre determinado assunto sempre suscitam declarações mais completas e abrangentes. Pelo menos, é certeza absoluta que o entrevistado irá falar mais. Quando ele fala pouco, pode trazer prejuízo à reportagem, que perde o ritmo, principalmente em entradas ao vivo.

No lado oposto está o entrevistado que adora falar. Fala tanto que não para mais. Sequer oferece o chamado "ponto de corte" para a intervenção do jornalista. Normalmente, faz verdadeiros dircursos. Fala no mesmo tom o tempo inteiro e parece ter um fôlego de atleta olímpico de natação, já que quase não respira. Isso é muito comum em políticos.

Verdadeiros oradores natos, eles usam esta artimanha para aparecer o maior tempo possível na televisão. Ontem, vi o governador da Bahia, Jaques Wagner, falando ao vivo ao Bom Dia Brasil, da TV Globo, sobre a greve dos policiais no estado. O governador praticamente não respirava e conseguia dar respostas longas, de mais de um minuto e meio.

Esse tempo é gigante em televisão. Para se ter uma ideia, em reportagens gravadas, as sonoras ou entrevistas costumam ter entre 10 e 15 segundos. E uma publicidade de 30 segundos pode custar alguns milhões de reais. Pois bem. Jaques Wagner ainda usava um fone para se comunicar com os apresentadores Chico Pinheiro e Ana Paula Araújo. Como a conexão era distante (Bahia - São Paulo), sempre há um "delay" (atraso no som) entre a pergunta do jornalista e a resposta do entrevistado.

Chico Pinheiro e Ana Paula Araújo clamaram pelo governador quando este se estendeu em uma resposta e ambos, aos berros, chamavam: "Governador! Governador!". Como o político já é experiente e sabe desse "delay", aproveitou para fingir que não ouviu os apresentadores e continuou até que se deu por satisfeito. A resposta dele foi bem explicada, mas as intervenções dos apresentadores provocaram um "ruído" e prejudicaram a compreensão.

Ou seja, não adianta o entrevistado querer falar cinco minutos seguidos, porque sua mensagem não vai chegar ao público na íntegra. Chico e Ana Paula agiram com correção. Como suas intervenções foram ignoradas, esperaram o político acabar de responder e fizeram uma nova pergunta.

No entanto, como o tempo da TV é pequeno, o político ocupou um espaço em que poderia ter respondido mais perguntas, em vez de apenas duas, que foi o que aconteceu. O prejudicado foi o público, que ficou privado de obter mais informações da boca do governador sobre um assunto tão delicado.

Os políticos são "macacos velhos". São preparados para isso. Mas é sempre bom alertá-los sobre o tempo da entrevista. Para lidar com esse tipo de fonte que fala muito, políticos ou não, o repórter deve explicar que o tempo da televisão é curto e que as respostas devem ser sucintas, claras, coesas e objetivas.

A prioridade é informar a população e não fazer discurso. E se o entrevistado não compreender e não seguir as regras, será "cortado" pelas intervenções dos jornalistas ou mesmo tirado do ar pelo diretor de imagem e seu áudio ficará mudo.

Ainda assim, é mais fácil lidar com o entrevistado que fala demais do que com aquele que fala de menos. Porque é mais fácil cortar os excessos do que extrair leite de pedra. O fato é que nos dois casos a informação pode ficar prejudicada. Um forte abraço.

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