sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A parte artística não deve interferir no telejornalismo


Costumamos dizer no meio jornalístico que "TV é imagem". De fato, foi a imagem em movimento que fez da televisão a mídia de maior sucesso perante o público. Com base nesse argumento, surgiu um profissional conhecido como diretor artístico ou diretor de arte.

Essa pessoa é responsável por avaliar a qualidade visual das imagens que vão ao ar, inclusive, no que diz respeito à aparência de atores, atrizes, jornalistas e de todos mais que aparecem na telinha.

Concordo que a imagem é importantíssima para a TV. Fundamental, essencial. Porém, no jornalismo existem (ou deveriam existir) algumas exceções. Por exemplo, existem jornalistas com uma capacidade imensa de produzir bom conteúdo. Pessoas éticas, justas e corretas, que podem não ser "visualmente bonitas".

Muitos diretores picaretas barram a entrada de ótimos profissionais na TV só porque não são "visualmente atraentes". Isso é uma bobagem! Jornalistas não são atores! Não têm a obrigação de serem galãs ou mocinhas de novela, terem a pele sedosa como o pêssego ou lábios carnudos e sensuais. Jornalismo não é fábrica de sonhos e ilusões como a dramaturgia. É a busca da verdade, a divulgação da informação e a imagem da realidade. Não tem nada que ser "bonitinho". Tem que ser preciso, informativo!

Muitos diretores observam apenas a parte artística e estética, inclusive das imagens das reportagens. Considero um erro de conceito. A informação é a única (única!!!) estrela do jornalismo. Ela deve vir sempre em primeiro lugar, sobrepondo-se à imagem e, principalmente, ao jornalista.

É claro que o cuidado com a imagem é válido mas a informação deve prevalecer, mesmo sobre uma imagem ruim. Detesto quando algum diretor vem conversar comigo e fala: "Ah, essa pessoa tem carisma, mas é feia de rosto. Não serve para TV". Por que o cara não pergunta assim: "Essa pessoa formou-se onde? É jornalista? Tem diploma? Escreve e fala bem? Tem bom conteúdo?"

Nunca ouvi esse tipo de pergunta, o que considero extremamente lamentável. Certa vez, presenciei a exposição de um Trabalho de Conclusão de Curso em que um dos membros da banca era diretor de jornalismo da TV Record de São Paulo (de JORNALISMO, eu disse!!). Ele avaliava um documentário sobre jovens meninas pobres que ficaram grávidas e decidiram sair de casa.

Assisti ao documentário junto com ele. Estava na plateia. Achei um ótimo trabalho. E me vem esse tal diretor esculhambando com as autoras do projeto na parte estética e artística. O TCC era do curso de jornalismo (repito, JORNALISMO!). E o cidadão não mencionou uma frase sequer sobre o conteúdo. Falou o tempo todo apenas sobre a parte artística, imagem e áudio.

Tudo bem. Faculdade é uma coisa, realidade do mercado de trabalho é outra. Mas isso contribui cada vez mais para a formação de profissionais rasos e medíocres, sem senso crítico. Aplaudi as autoras do documentário, vaiei o diretor.

Os diretores preferem exibir pessoas que possam "vender" visulamente produtos ou informações. Logo, preferem jornalistas bonitos (principalmente mulheres) a bem informados, que saibam escrever corretamente. Preferem o visual ao conteúdo. Isso é péssimo!

Por isso, você, amigo leitor e telespectador, assiste, via de regra, a uma programação medíocre, sem qualidade na TV aberta. O conteúdo fica em segundo plano, quando deveria estar sempre no primeiro. A direção artística não pode interferir no jornalismo. Isso deve valer mais para novelas, seriados, documentários e programas de entretenimento. No jornalismo nu e cru não! Um forte abraço.

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