Quando um estudante de jornalismo inicia a faculdade, toma contato com um dos princípios básicos e até instintivos da profissão: a maneira de se confeccionar uma reportagem. E uso aqui a palavra "confecção" em seu sentido amplo, pois fazer um texto, significa "tecer", entrelaçar vocábulos e contar histórias (boas, de preferência).
Todo jornalista é, por essência, repórter. É curioso, vai atrás de informação. A apuração é o coração da reportagem. E, necessariamente, passa por conversas com várias pessoas, chamadas no meio midiático de fontes. As fontes podem ajudar o repórter a confirmar ou negar informações, além de serem usadas como entrevistadas nas matérias. No jornalismo, as chamamos também de "personagens" das histórias que contamos.
O trabalho braçal de um jornalista encontra-se, primordialmente, no momento em que ele precisa encontrar tais personagens. Muitas vezes, o profissional de comunicação procura desesperadamente especialistas em determinadas situações, pessoas que viveram certo tipo de drama ou dilema, etc. E os perfis são os mais específicos possíveis.
Por exemplo. Se eu estiver fazendo uma reportagem sobre despejo, precisaria encontrar um inquilino que foi despejado por algum motivo. É bem específico. E isso não se acha num estalar de dedos.
Até aí, pouca novidade. Com o surgimento da internet, jornalistas e fontes começaram a se encontrar com maior facilidade. As redes sociais aproximaram o profissional do público. Mas ainda é insuficiente quando precisamos entrevistar alguém com características tão específicas.
Com essa visão, o Relações Públicas, Gustavo Carneiro, decidiu criar o site Ajude um Repórter. Lá, jornalista e fonte cadastram-se gratuitamente e podem ser encontrados com mais facilidade. As fontes são dividas em categorias como comportamento, saúde, economia, etc. O endereço eletrônico já foi acessado por jornalistas famosos e contratados de grandes veículos de comunicação.
UMA DAS INTERFACES DO SITE CRIADO POR GUSTAVO
O fato curioso está em uma pessoa formada em Relações Públicas criar o site e não um jornalista. Abaixo segue a entrevista com o idealizador da empreitada, Gustavo Medeiros Carneiro. Formado pela faculdade Cásper Líbero em 2006, ele explica o que o levou a desenvolver essa nova ferramenta.
Leandro Martins - De onde surgiu a ideia de montar um site para ajudar jornalistas a encontrarem fontes?
Gustavo Carneiro - O Ajude um Repórter surgiu após observar iniciativas semelhantes de crowdsourcing nos Estados Unidos. O que me impressionou é que uma ideia tão simples, de unir o jornalista à fonte, poderia fazer uma enorme diferença para diversos profissionais. Minha formação é em relações públicas e quem atua nessa área tem uma dimensão mais clara do quanto o relacionamento com a imprensa pode influenciar nos negócios. Um serviço que torna isso possível a qualquer profissional pode mudar o mercado.
O ARPO (acrônimo para Ajude um Repórter) começou em março de 2010 com um simples perfil no Twitter, a forma mais rápida e barata de testar a ideia por aqui. Hoje agrega milhares de pessoas que trabalham colaborativamente para encontrar as fontes que os profissionais de imprensa necessitam todos os dias.
LM - Qual sua relação com o jornalismo?
GC - Muitas pessoas pensam que eu sou jornalista só porque criei o Ajude um Repórter, mas na verdade eu sou relações públicas. Meu entendimento profissional sobre a importância do relacionamento com a imprensa é que me levou a enxergar a oportunidade.
LM - Tem conseguido ganhar dinheiro com o site?
GC - Não, com o site especificamente nunca ganhei nada. Pelo Twitter consegui fazer cerca de R$ 500,00 em algumas experiências com campanhas de seeding, mas não achei viável continuar.
LM - Como está o número de acessos?
GC - Os acessos são razoáveis para um site de nicho, mas ainda há o que melhorar. Espero investir em algumas mudanças para o ano que vem e continuar aumentando isso.
LM - Que tipos de fontes os jornalistas mais pedem?
GC - Existem dois grandes grupos, os personagens e os especialistas. Mas os assuntos são dos mais diversos, não tenho como indicar um perfil mais específico.
LM - Quais os diferenciais de seu site para um mecanismo de busca comum?
GC - O Ajude um Repórter é uma ferramenta de crowdsourcing e funciona com base nos contatos de um coletivo de pessoas, bem diferente dos mecanismos de busca que criam rankings com base em algoritmos, de forma automática. No ARPO você encontra pessoas que querem falar com o jornalista, no Google você encontra páginas indexadas.
GUSTAVO CARNEIRO CRIOU O SITE AJUDE UM REPÓRTER
LM - Quais veículos de comunicação buscam fontes em seu site?
GC - Existe de tudo, das grandes emissoras de TV aos jornais de bairro. Dos blogs às rádios de notícias.
LM - Algum jornalista famoso já falou algo com você sobre sua iniciativa? E alguma fonte?
GC - No Twitter já identificamos alguns seguidores de peso, mas é um ambiente que muda muito rápido. Minha primeira entrevista foi para o site do Marcelo Duarte, do Guia dos Curiosos. Quando o Fantástico e a Renata Ceribelli passaram a nos seguir, ganhamos uns 500 seguidores na hora seguinte. Quando apareci no Happy Hour do Canal GNT, liderado pela Astrid, a receptividade também foi ótima. Recentemente participei de uma entrevista com o Marcelo Tas no Terra e também foi muito positivo. Essas oportunidades aparecem eventualmente e acredito que sejam uma grande forma de reconhecimento.
LM - Qual a contribuição você acredita dar aos jornalistas com esse mecanismo?
GC - Acredito que o Ajude um Repórter seja mais uma ferramenta para o bom jornalista encontrar fontes que normalmente teria maior dificuldade de achar, evitando apelar para as velhas figurinhas carimbadas da mídia. Como o serviço funciona como uma rede de indicações, é possível encontrar oportunidades que não seriam encontradas utilizando os meios de busca convencionais.
LM - Qual o pedido de fonte mais esquisito que já recebeu?
GC - Acredito que tenha sido um em que procuravam uma pessoa que não escovava os dentes.
Mas sempre tem algo meio bizarro por lá e isso sempre é motivo de algumas gargalhadas.
LM - Quantos usuários espera atingir em 5 anos?
GC - Para um serviço de nicho, acredito que um número viável seja entre 150 e 200 mil usuários.
O site está no endereço eletrônico www.ajudeumreporter.com.br. Para mais informações, siga Gustavo Carneiro no Twitter. Basta digitar @gustacarneiro. A você, amigo leitor, boa sorte na busca de novas fontes. Um forte abraço.
Facebook: Leandro Martins
Twitter: @leandropress
Oi Leandro
ResponderExcluirAdorei o post de hoje, não conhecia o site não agora vou começar a bisbilhotar lá... quando eu fazia produção do programa isso me facilitaria muito... porque isso não surgiu a três anos atrás.. De qualquer forma vou indicar para alguns amigos...
Como sempre vc arrassando no post
bjs
Paula