sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Uma palavra sobre o relato de Boni - a produção do debate presidencial em 1989
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, mais conhecido como Boni, mudou a história da televisão brasileira. Ao lado de Walter Clark, ele é o grande responsável pela instituição do tal padrão Globo de qualidade que todos enaltecem. De fato, a plasticidade das produções da TV Globo é algo a ser sempre destacado.
Boni relata em seu livro e disse em um programa de TV que, efetivamente, interferiu no debate presidencial de 1989, quando Lula vinha liderando as pesquisas e acabou derrotado nas urnas por Fernando Collor de Mello. Como de costume, a TV Globo realizou o último debate antes do dia da eleição.
O Jornal Nacional do dia seguinte ao debate apresentou um compacto tendencioso, exaltando a figura de Collor e rebaixando Lula. Não sei quais os interesses que moviam a Globo a escolher Collor como seu candidato. Porém, tal parcialidade, que foge ao bom jornalismo, foi clara e evidente. O caso, aliás, é objeto de estudo em universidades como exemplo de jornalismo interesseiro e parcial.
O que a gente não sabia e Boni relatou, é que, além da edição tacanha do compacto do debate, a Globo deu uma mãozinha à imagem de Collor. Boni diz que produziu a imagem do político. O suor dele no estúdio foi produzido. Em sua mesa uma pasta com papéis em branco simulavam supostas denúncias contra Lula. As ameaças de mostrá-las em público não foram levadas a cabo, obviamente (já que os papéis nada continham), mas igualaram a "engomação" de Collor à popularidade de Lula.
O suor parecia fazer do caçador de marajás alguém mais próximo do povo. E as tais denúncias na pasta assustavam. Lula, por sua vez, tinha uma imagem horrenda. Era do povo, mas aparecia sempre em mangas de camisa e a barba preta mal feita. Tudo isso contribuiu para que Collor fosse o primeiro presidente eleito pelo voto popular depois da ditadura militar.
O final todos já sabem. O que vale aqui é fazermos uma reflexão. Eu adoro trabalhar em TV, mas sempre digo para quem quiser ouvir que televisão é uma grande mentira. Uma farsa. E a emissora de maior audiência do país apenas comprovou minha convicção. TV é produção. Muitas vezes, essa palavra significa falsidade. Outras, não.
A coisa é tão bem articulada que não desconfiamos de nada. Mas, por trás, tudo é milimetricamente calculado. Ainda mais com política. Um outro bom exemplo disso pode ser visto no filme de ficção Mera Coincidência (foto). Em inglês, Wag The Dog.
O livro de Boni serve para que fiquemos atentos às mazelas televisivas. Jamais acredite em tudo o que você vê. Televisão tem muita coisa errada, muita mutreta, muito jogo de interesse. Pouca coisa real e verdadeira. Nem o telejornalismo é 100% confiável.
Não vou ser hipócrita aqui de dizer que odeio a Globo, que a Globo é suja e etc. Não é apenas ela. Todas são. Mas como é a emissora de maior audiência do Brasil, tudo o que acontece lá dentro gera uma repercussão bem maior. Evite as armadilhas. Olho aberto! Um forte abraço.
Facebook: Leandro Martins
Twitter: @leandropress
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