segunda-feira, 18 de julho de 2011

Situações em que o jornalista acaba se envolvendo - a incorporação de problemas


Nós, jornalistas, costumamos nos julgar os reis da imparcialidade. Acabamos por nos denominar como simples contadores de histórias, que apenas relatam os fatos e jamais participam deles. Muita gente enche a boca para dizer que não se envolve com as vidas das fontes, por mais que elas contem particularidades brutais ou escabrosas de suas existências.

Pois bem. Quem faz jornalismo, faz ciências humanas. E todos os humanos, até que provem o contrário, possuem sentimentos. Logo, saiba que é impossível, uma vez ou outra, não se envolver com determinadas situações, histórias ou pessoas.

Foi o que aconteceu com a jornalista Mac McClelland (foto que abre o post). Ela vivenciou e ouviu muitas histórias de horror que eram praticadas contra mulheres no Haiti. Os relatos de atrocidades causaram um pânico interior na repórter, que passou a ter medo até de sair na rua.

McClelland incorporou as histórias ouvidas e somatizou os problemas das fontes que entrevistou. Resumindo: envolveu-se. E quando isso acontece, uma "limpeza" profunda é necessária para que o profissional volte a trabalhar sem traumas e consiga desenvolver suas atividades da forma correta, sem influências ou medos.

Depois de ouvir tantas horroridades, a jornalista passou a ter crises de choro, ânsia de vômito e pesadelos com estupro. Não aguentando mais o desespero, ela decidiu se libertar de uma forma pouco comum. Sua terapeuta sugeriu que ela efetivamente passasse pelo estresse que mais temia, justamente para se livrar dele. É o famoso conselho que nos dão para enfrentarmos nossos próprios medos.

A repórter então pediu que seu ex-namorado a estuprasse, numa situação de violência controlada. McClelland ficou famosa pelo caso, mas, depois de passar pela experiência, superou o trauma e voltou a trabalhar normalmente.

Assim como McClelland, muitos jornalistas acabam se envolvendo em algumas histórias. E passam a ter pesadelos com determinada situação ou desenvolvem a síndrome do pânico. Não adianta. Não somos imunes às histórias humanas. Não somos feitos de aço. E, não raras vezes, acabamos atingidos por alguns relatos que abalam as estruturas.

A diferença é que a jornalista procurou ajuda terapêutica e conseguiu solucionar o problema. Mas muitos não procuram e preferem carregar o trauma dentro de si, o que pode prejudicar o trabalho e a vida particular. A lição mais valiosa deste caso é essa. Você, jornalista, que algumas vezes anda com aquele nariz empinado e ar de arrogante, desça do pedestal.

Admita sua condição humana, sentimental e frágil. Permita-se pensar melhor na vida e procurar uma ajuda especializada para tentar acabar com seus problemas. Isso não é demérito para ninguém. Pelo contrário. O esforço para solucionar uma questão mal resolvida só mostra que o ser humano busca a melhora e a evolução. Um forte abraço.

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