sexta-feira, 15 de julho de 2011

Blog entrevista Sílvio Lancellotti, culinarista, comentarista e (pasme!) arquiteto

Tem gente que gosta de gastronomia. Tem gente que gosta de esportes. Sílvio Eduardo de Assis Pacheco Lancellotti (ou simplesmente Sílvio Lancellotti) uniu os dois e transformou seus hobbies e suas paixões em profissão.

Arquiteto (sim, ele formou-se em arquitetura no Mackenzie, em 1966) e pós-graduado em Planejamento Urbano, Lancellotti é profissional mais do que experiente. É das antigas, da velha guarda. No currículo, que dispensa apresentação, 43 anos de carreira bem vividos.

Sílvio carrega passagens por vários tipos de mídia. E alguns fatos marcaram não apenas sua carreira, mas também a história do jornalismo brasileiro. Em 1968, ele fez parte do grupo que fundou a Revista Veja.

O paulistano de voz rouca e raízes italianas é letrado. Estudou Psicologia da Comunicação nos Estados Unidos, na universidade de Stanford. Hoje, entre uma receita e outra, Lancellotti é comentarista dos canais ESPN. Nas transmissões das quais participa, sempre nos brinda com mais do que simples conhecimento futebolístico. Ao vermos na televisão um jogo comentado ou uma receita preparada por ele, recebemos também, gratuitamente, uma boa dose de cultura geral.

Ao contrário de muitos estudantes, que desde jovens almejam seguir efusivamente a carreira jornalística, Sílvio diz que, em sua vida, as coisas aconteceram por "acidente". O que não o impediu de se apaixonar pela profissão e alcançar grande sucesso. Confira o bate-papo com o comentarista esportivo, culinarista e grande ser humano.

Leandro Martins - Você acredita que a faculdade prepara bem uma pessoa para o mercado de trabalho?
Sílvio Lancellotti - Não estudei jornalismo aqui no brasil. Mas sou contra a Obrigatoriedade do diploma.

LM - Em quais empresas de mídia já trabalhou?
SL - Fui dos times que fundaram "Veja" e "Istoé". Dirigi as redações de "Vogue", "Senhor Vogue", "Gourmet" e "Penthouse". Também fui colaborador da "Folha", do "Estadão" e do "Diário de São Paulo". Na TV, dirigi programas musicais e de jornalismo na Bandeirantes. E fiz programas de gastronomia na Gazeta, na Record, na Manchete e na Bandeirantes. Paralelamente, comentei futebol e Jogos Olímpicos nas mesmas emissoras. Hoje, sou colaborador da "Folha", da revista "Viva SA" de Alphaville e faço programas de futebol nos canais espn. Na internet, mantenho um programa de entrevistas e de gastronomia, chamado 'A Dobradinha do Lancellotti", via internet, no Facebook e no Youtube.

LM - Como é sua rotina hoje?
SL - Não tenho uma rotina pré-determinada. Sigo a escala dos canais ESPN.

LM - Ainda está no esporte? O que já fez ou faz fora do esporte?
SL - Jamais abandonarei o esporte. Acredite, se quiser, mas fui um excelente jogador de futebol, meia-armador, quando a posição ainda existia.

LM - Já foi setorista de um clube? Como é essa experiência?
SL - Nunca fui setorista. Mas cobri a Seleção Brasileira de 1970 até 1986. E cobri a Seleção Italiana em 1990 e em 1994.

LM - Quando decidiu que ia trabalhar com mídia? Como foi que tudo aconteceu?
SL - Comecei por acidente. Estava na arquitetura e, numa viagem a Ubatuba, onde construía uma casa para um cliente, li um anúncio de revista da Abril. Respondi, passei por uma série de testes e, do nada, caí na Redação de "Veja" - que, aliás, nem exstia, ainda. Gostei do jornalismo, não saí mais.

LM - Quais as principais dificuldades e obstáculos encontrados?
SL - Tive muita sorte, grandes mestres, não passei por dificuldades...

LM - Você também é um excelente culinarista. Você acredita que o jornalista deve criar seu próprio espaço na mídia? Encontrar outros nichos de trabalho como a crítica gastronômica ou outros segmentos mais especializados?
SL - A minha carreira se fundamentou numa sucessão de acasos. Mas, sim, eu soube como desenvolver bem os meus hobbies, que se tornaram profissão.

LM - Como avalia o mercado de trabalho na mídia hoje?
SL - Sinceramente, se escreve muito mal, hoje. Basta dar uma espiada na internet.


SÍLVIO É COMENTARISTA DOS CANAIS ESPN

LM - Alguns jornalistas tornam-se amigos de fontes pela convivência. Você acredita isso ajuda ou atrapalha o trabalho? Em que sentido?
SL - Não me incomodo em me tornar, digamos, um tanto íntimo de algumas fontes. Mas, quando alguém quer me contar uma história em "off" eu deixo claro, imediatamente: "qualquer coisa que eu escute eu vou revelar".

LM - Você já se sentiu alvo de perseguição no meio?
SL - Nunca me senti traído por colegas.

LM - Como é cobrir um grande evento como a Copa do Mundo e as Olimpíadas? Dorme-se pouco e trabalha-se muito?
SL - Sim, dorme-se pouco e se trabalha muito. Na copa da Itália, em 90, eu inclusive emagreci uns dez quilos, por falta de tempo para as refeições decentes.

LM - Qual foi a maior emoção da sua carreira até hoje?
SL - Nos meus mais de 40 anos de carreira a maior emoção foi a primeira Copa. Fiquei praticamente dois meses no México, em 70, e o Brasil levantou a taça

LM - Cobrir outros esportes que não o futebol é mais fácil ou mais difícil?
SL - Nos jogos de Atlanta, em 1996, eu cobri até ginástica rítmica. Sem nenhum problema, pois sempre me preparei com o máximo de dedicação.

LM - O que faz para preservar a voz?
SL - Voz, que voz? A minha é patética. Apenas procuro falar com naturalidade. (nota do jornalista: falo minhas as palavras dele com relação à minha voz).

LM - Como vê a disputa pela transmissão do futebol brasileiro em 2012? Acha certo um regime monopolista?
SL - Sou contra qualquer gênero de monopólio.

LM - O que falaria para os estudantes ou jornalistas em início de carreira que pensam que não vão trabalhar muito e nem aos finais de semana?
SL - Jornalista não tem fim-de-semana, natal, ano novo, festa de aniversário...

LM - O que gostaria de fazer na carreira e ainda não conseguiu realizar?
SL - Honestamente eu me sinto um cara realizado. Sonho? Me manter lúcido e capaz de ler, como eu hoje faço, uns três livros por semana.

LM - Você acha que um jornalista esportivo deve assumir seu time de coração?
SL - Nunca me preocupei com isso. O mundo sabe que, no Brasil, eu torço pro Corinthians, e que, na Itália, eu torço pra Juventus de Turim.

LM - É muito difícil trabalhar num jogo do seu time e ter de controlar as emoções?
SL - Na minha idade, e com a minha experiência, a minha rodagem, as emoções não mais precisam de controle.

MINO CARTA E JOSÉ TRAJANO SÃO
ADMIRADOS POR SÍLVIO LANCELLOTTI

LM - Quem são os jornalistas e/ou profissionais da comunicação que mais admira?
SL - Mino Carta e José Trajano.

LM - Tem alguma história curiosa ou engraçada da profissão?
SL - Ah, são tantas...

LM - É possível conciliar família e trabalho?
SL - Sempre consegui conciliar família e trabalho. Tanto que tenho cinco filhos.

LM - Deixe uma mensagem para quem pensa em seguir carreira, principalmente no jornalismo esportivo.
SL - Qualquer jornalista, de qualquer especialidade, tem a obrigação de ler muito e sempre. Aliás, ler ao menos uma página de dicionário, ao acaso, por dia. (Não é à toa que somos sempre brindados com a cultura geral da qual falei, lá em cima).

Por hoje é isso. Quem quiser seguir este jornalista e blogueiro, procure por @leandropress. Um forte abraço.

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