segunda-feira, 11 de julho de 2011

As consequências da informação a qualquer preço



O magnata Rupert Murdoch, dono do famoso conglomerado de mídia News Corporation, decretou, na semana passada, o fechamento do jornal News of The World, veículo impresso de maior circulação aos domingos, no Reino Unido. Entre as empresas pertencentes ao grupo, estão o canal Fox e as companhias de TV por assinatura Sky e DirecTV, só para citar algumas.

O proprietário decidiu encerrar as operações do tabloide após a descoberta de grampos ilegais, pelos quais os jornalistas conseguiam informações confidenciais de celebridades, família real, políticos, etc. A última capa está na foto que abre o post.

Com o escândalo, os anunciantes deixaram o jornal por falta de credibilidade. Com razão. A questão nos leva à reflexão do custo da informação a qualquer preço. Todo jornalista gostaria de obter informações sigilosas e privilegiadas de personalidades. Mas não deve, jamais, fazer uso de recursos ilegais para isso.

O jornalismo é um trablaho árduo. Uma luta diária pela apuração e checagem da informação (pelo menos, deveria ser assim em todos os veículos de comunicação). Bob Woodward e Carl Bernstein que o digam. Eles receberam informações importantes e sigilosas (em off) da gestão do presidente Richard Nixon, dos Estados Unidos, quando do escândalo de Watergate. Mas em momento nenhum procuraram os meios ilegais. Fizeram apurações, checaram e cruzaram informações, além de contar com ajuda de uma fonte importante: Garganta Profunda.

O uso do grampo revela não só um desvio de caráter dos jornalistas do News of The World (ou de quem quer que tenha autorizado a instalação dos grampos, jornalista ou não). Revela, também, a briga e a competitividade na selva de pedra da mídia, na qual o furo é mais importante do que um texto bem redigido ou uma análise bem feita. Ainda mais na Grã-Bretanha, onde o sensacionalismo impera. É a luta pela informação a qualquer preço.

A tecnologia possibilita cada vez mais que o jornalista se torne "preguiçoso". Hoje, ele pode acessar a internet apenas e deixar de ligar para a fonte ou mesmo de se encontrar ao vivo com ela. Nas conversas tête-a-tête é que muitas coisas se revelam. Inclusive boas informações em off das quais o jornalista pode fazer uso.

Os funcionários tiveram ânsia imensa em obter informações importantes. Mas usaram de um expediente incorreto. A prática custou-lhes a cabeça. O preço que se pagou pelos grampos ilegais foi alto. Demissão em massa e a empresa toda foi fechada.

Simples assim. E é bem possível que muitos funcionários que lá trabalhavam não tinham conhecimento dos tais grampos e entraram de gaiatos na canoa, que virou e deixou todos sem emprego. E agora, para conseguir outro, com um escândalo deste no currículo?

Murdoch acertou em fechar a empresa. Confiança se leva anos para construir e segundos para perder. Sem confiança, não há credibilidade. Não havia porque apostar em um veículo que iria falir normalmente. Moral da história: competitividade e briga para conseguir um furo de reportagem é algo sadio. Praticar a ilegalidade e levar com você outras pessoas para o fundo do oceano quando o barco naufraga, não. Um forte abraço.

Um comentário:

  1. Tem toda razão. Adorei o texto!!!
    Realmente, paga-se um preço muito caro pelo furo de reportagem, que muitas vezes, é mal apurado, e a credibilidade vai pro lixo...
    Beijossss

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