Em tempos de debates acalorados sobre o fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista, tem gente que vai na contramão e mostra que gosta de estudar. Elias Awad tem duas faculdades no currículo. Além de Jornalismo, é formado em Administração de Empresas. Não contente, ainda faz pós-graduação em Liderança e Gestão de Pessoas e Equipes.
O estudo mantém o jornalista atualizado. Com 22 anos de carreira, hoje o paulistano é escritor (biógrafo) e apresenta o programa "Biografias" na rádio Estadão/ESPN. São pequenas pílulas de cinco minutos diluídas diariamente na programação e condensadas aos domingos, em meia hora de conhecimento e cultura. Entre seus biografados, estão Samuel Klein, proprietário das Casas Bahia, e Mr. Fisk, dono da Fisk escola de idiomas.
Elias Awad é apaixonado pelo que faz. Destacou-se nacionalmente na TV Bandeirantes, quando fazia reportagens esportivas leves e recheadas de bom humor. O jornalista nunca ficou no lugar comum. Seus textos criativos sempre foram muito elogiados.
No bate-papo, Elias revela que jogou tudo para o alto quando tinha estabilidade em uma empresa renomada. O motivo: estava cansado e infeliz. Queria mudar de profissão e fazer o que tanto gostava: trabalhar no esporte. Foi ousado. A audácia foi recompensada com muito brilho e sucesso. O jornalista é o exemplo vivo de que o ser humano deve sempre ir busca do que quer e daquilo em que acredita. Não importa a idade. Segundo ele, a realização de sonhos passa por isso. Acompanhe a conversa.
Leandro Martins - O que achou do curso de graduação quando estudou jornalismo?
Elias Awad - Muito bom. Tive uma visão provavelmente diferente da maioria, pois, já era profissional de rádio e TV. Acredito que sempre estimular a prática no curso seja importante.
LM - Você acredita que a faculdade prepara bem uma pessoa para o mercado de trabalho?
EA - Acredito que muitas vezes há uma confusão de conceitos. A Faculdade passa os conceitos e as fórmulas. Se eles irão se aplicar ou não no dia-a-dia, só mesmo vivenciando é que podemos saber. O ambiente profissional é completamente diferente daquele encontrado nas salas de aula.
LM - Em quais empresas de mídia já trabalhou?
EA - TV: Band, SBT e SporTV. Rádios: Estadão/ESPN e Gazeta
LM - Como é sua rotina hoje?
EA - Já há alguns anos saí do dia-a-dia do jornalismo. Tornei-me escritor, especializado em biografias empresariais. Minha agenda não tem rotina. Começo a escrever a hora que quero e sinto estar pronto para isso. Faço também entrevistas para o meu programa na rádio Estadão/ESPN, o "Biografias", e dou aulas às segundas-feiras na Universidade São Judas.
LM - Quando estava no esporte, já foi setorista de um clube?
EA - Nunca... Ainda bem...rsrsrs. Imagino que deva ser um trabalho chato, repetitivo, mas também de grande importância para o dia-a-dia do esporte. Mas preferi sempre estar cada dia em um canto, embora mesmo repetindo os locais, seja possível variar o tema e o olhar das matérias.
LM - Quando decidiu que ia trabalhar com mídia? Como foi que tudo aconteceu?
EA - Eu trabalhava na Votorantim e me senti cansado daquilo tudo. Decidi então iniciar em algo que eu sempre amei, o esporte. Foi uma atitude difícil, de jogar tudo para o alto e ir em busca da felicidade. E quando isso acontece, por mais difícil que seja, tudo flui maravilhosamente bem.
LM - Como foi seu início de carreira? Quais as principais dificuldades e obstáculos encontrados?
EA - Eu comecei no jornalismo aos 28 anos de idade, e talvez essa tenha sido a maior barreira a enfrentar, pois o mercado estava repleto de pessoas da minha idade com já quase uma década de experiência. Tive que ter uma enorme entrega para enfrentar e vencer as dificuldades.
LM - Como avalia o mercado de trabalho na mídia hoje?
EA - A mídia hoje: muitas vagas, e também muitas pessoas querendo entrar. Talvez o fim do diploma tenha inibido aqueles que estavam indecisos. Os decididos, farão jornalismo, independentemente de reconhecimento ou não do diploma. Isso foi uma agressão aos jornalistas. O "gênio" que provocou isso acha que jornalismo é somente dom...
LM - Alguns jornalistas tornam-se amigos de fontes pela convivência. Você acredita que o jornalista ser amigo da fonte ajuda ou atrapalha o trabalho? Em que sentido?
EA - Particularmente, nunca gostei de ter contato muito próximo com as fontes. Sempre tive uma relação amistosa e respeitosa. É difícil avaliar o que é certo. Posso dizer o que eu sempre busquei fazer dentro dos meus conceitos profissionais. Preferia ter uma boa relação a uma relação de profunda amizade.
LM - Você já se sentiu alvo de perseguição no meio? Ou já fizeram alguma "sacanagem" com você?
EA - De forma alguma. Isso porque toda vez que eu me senti infeliz em algum lugar, optei por mudar de emissora ou área. O ideal é ir sempre em busca do que é melhor para você, mas, para isso, é preciso gostar de mudanças. E eu gosto de mudar!
UMA DAS BIOGRAFIAS ESCRITAS POR AWAD:
SAMUEL KLEIN, DONO DAS CASAS BAHIA
LM - Como é cobrir um grande evento como a Copa do Mundo e as Olimpíadas? Dorme-se pouco e trabalha-se muito?
EA - Dormir??? Certamente, quem vai cobrir uma Copa ou Olimpíada, a última coisa que ele quer fazer é dormir. É um período maravilhoso, incrível. Estar ao lado dos principais atletas do mundo e poder levar o telespectador, ouvinte ou leitor àquele ambiente. Quem faz esse tipo de cobertura trabalha muito mesmo.
LM - Quantas edições de cada uma você já cobriu?
EA - 4 Copas e 4 Olimpíadas.
LM - Qual foi a maior emoção da sua carreira até hoje?
EA - Difícil dizer uma... Entrevistei os maiores e principais atletas e jogadores mundiais. Estive nas grandes coberturas... Biografei e entrevisto os principais empresários do Brasil... Tudo é especial. Talvez a minha maior emoção seja estar ao lado dessas pessoas e aprender com elas.
LM - Cobrir outros esportes que não o futebol é mais fácil ou mais difícil?
EA - É muito mais difícil, pois você precisa entender do esperte que o atleta pratica, conhecer a carreira dele e buscar perguntas mais aprofundadas, mais elaboradas. Um Oscar Schmidt, por exemplo, fala vários idiomas, jogou em vários continentes... tem que aproveitar isso tudo na entrevsita.
LM - O que faz para preservar a voz?
EA - Certamente, o melhor caminho é entregá-la aos profissionais que cuidam disso.
LM - Como vê a disputa pela transmissão do futebol brasileiro em 2012? Acha certo um regime monopolista?
EA - Sou contrário ao monopólio. Mas o que sempre pesa em favor da TV Globo é a certeza da transmissão. Sabe o que vai passar na Globo em uma quarta-feira de novembro de 2025? Certamente futebol! E na Record, Band, SBT, Rede TV!? Dá para garantir isso??? Certamente, não.
LM - Para os estudantes de jornalismo ou jornalistas recém-formados que pensam que o jornalismo é só televisão e que vão ficar famosos, o que tem a dizer? E o que falaria para aqueles que pensam que não vão trabalhar muito e nem aos finais de semana?
EA - Começando pela segunda parte: quem quer trablahar pouco no jornalismo, está no caminho errado. Se quer trabalhar pouco, terá também pouco retorno e prestígio! No jornalismo há muito trabalho, e não emprego! Quanto à fama que a TV traz, é bom lembrar que ela vem acompanhada do desgaste da imagem. A TV desgasta muito o profissional. Para evitar isso, faça sempre da notícia a sua melhor mensagem ao invés de usar a sua imagem para isso. Você é o elo entre a notícia e o telespectador.
LM - O que gostaria de fazer na carreira e ainda não conseguiu realizar?
EA - Certamente biografar algumas pessoas que avalio como grandes referências nacionais. Prefiro não citá-las, mas elas estão entre as minhas metas profissionais.
LM - Você acha que um jornalista esportivo deve assumir seu time de coração?
EA - Sou Corintiano, mas acredito que o jornalista não deva assumir. O torcedor não entende isso e avalia como algo partidário. Eu cobri grandes finais como repórter do Palmeiras ou São Paulo, em partidas contra o Corinthians, e certamente foquei meu trabalho no "meu time" daquele dia. Não há tempo para torcida quando você é profissional de jornalismo esportivo.
LM - É muito difícil trabalhar num jogo do seu time e ter de controlar as emoções? Tem uma técnica para ensinar aos jovens que estão começando na profissão?
EA - Sempre trabalhei isso facilmente. Qual é a sua pauta? O São Paulo? Então, faça dela o melhor possível. O melhor é concentrar-se naquilo que você precisa fazer.
ELIAS AWAD TAMBÉM DÁ PALESTRAS "NAS HORAS VAGAS"
LM - Quem são os jornalistas e/ou profissionais da comunicação que mais admira?
EA - Tem tanta gente dentro e fora do esporte... Admiro todo aquele que pratica o jornalismo com ética e seriedade. E tem muita gente fazendo isso da forma correta.
LM - Tem alguma história curiosa ou engraçada da profissão?
EA - Sim. Um dia antes da final da Copa da França (1998), fui fazer a matéria da seleção francesa no CT deles. Eu fiz várias matérias para entrar nos mais variados programas da Band. Fui um dos últimos a sair. Eu gravei uma passagem (momento da reportagem em que o repórter aparece no vídeo) e havia uma moça brasileira que, ao final, perguntou: "Poxa... Que difícil fazer isso, não?". Achei estranha a pergunta, percebi que ela não tinha credencial. Perguntei sobre isso, e ela respondeu: "Sou brasileira e atriz. Moro na França há alguns anos. Eu não tenho credencial, mas trouxe um alicate e cortei a grade de proteção que circunda a área. Entrei por entre algumas árvores". Achei aquilo incrível... Ela furou o bloqueio e assistiu ao último treino da França. Fiz uma matéria e levei ela até o local onde havia cortado a grade para fazer as imagens. Foi divertido e deu uma grande repercussão.
LM - É possível conciliar família e trabalho?
EA - Sou casado e tenho 2 filhas. Ainda viajo e trabalho muito!!! Conciliar é difícil. Você tem que escolher o que quer para a sua vida: qualidade ou intensidade e sucesso. Nem sempre esses caminhos estão próximos.
LM - Deixe uma mensagem para quem pensa em seguir carreira, principalmente no jornalismo esportivo.
EA - Siga e viva intensamente o jornalismo, principalmente o esportivo. É maravilhoso!!! Por várias vezes me vi em locais onde um enorme número de pessoas queriam estar também!!! Atuar em jornalismo esportivo é maravilhoso, um sonho! Sigam isso que não irão se arrepender. E trabalhem com seriedade e ética. Não há sucesso que resista há 10 anos de trabalho sério, criativo e de qualidade! Sucesso na carreira.
Elias é dessas figuras simpaticíssimas do jornalismo. Uma pessoa dócil, atenciosa, mesmo com todo o sucesso alcançado. Fui aluno dele em um curso de jornalismo esportivo, na faculdade Cásper Líbero. Aprendi muito. Pessoa de grande caráter. Para quem quiser mais informações sobre o jornalista, pode acessar o site www.eliasawad.com.br ou segui-lo no Twitter: @Elias_Awad. Para quem quiser me seguir, meu perfil é @leandropress. Um forte abraço.