quarta-feira, 28 de setembro de 2011

As protuberantes barrigas do jornalismo


O termo "barriga" no jornalismo significa notícia mentirosa. A imprensa, de modo geral, gosta de uma manchete impactante. Para o bem ou para o mal. Catástrofes sempre vendem mais jornais, revistas e espaço em rádio e TV. Acho até que a cultura do povo brasileiro peca por essa morbidez demasiada.

Como é do conhecimento do amigo leitor, costumo acompanhar mais a imprensa esportiva. E esta tem me decepcionado muito ultimamente. Tem mostrado barrigas bem protuberantes ao público (e não estou falando da minha, que também está um tanto avantajada, mas deixo claro que não é a da foto! Humpf!).

Certa vez, uma pessoa que fazia produção do programa Terceiro Tempo, da TV Bandeirantes, revelou-me que, para que a audiência aumentasse, inventavam notícias sobre os clubes de futebol. Algo do tipo: "Fulano de Tal está sendo contratado pelo Corinthians". No jogo de cena, valia até ligar para o presidente do clube que, evidentemente, desmentiria a falsa e mentirosa manchete.

Mas isso "segurava" o telespectador no canal. E aí ficavam nesse assunto até que a audiência caísse. Depois, arranjavam outro para manter o nível no Ibope. Um ganho de audiência em detrimento da informação.

E o povo, de modo geral, que não tem conhecimento sobre isso, é o maior lesado. Privado de um jornalismo sério, ético e competente. Começo a desconfiar que o tal Ibope seja mesmo "coisa do capeta", como disse o missionário RR Soares, que alugava horário na emissora e perdeu espaço por causa dos números que seu programa apresentava, mesmo pagando a bagatela de dois milhões de reais por mês pelo espaço.

Também vi as barrigas da imprensa esportiva nos jornais impressos. Depois que o São Paulo demitiu o técnico Paulo César Carpegiani, figuraram nos jornais manchetes como: "Dunga deve ser o próximo treinador do Tricolor" ou "Dunga vai assinar com o São Paulo". Manchetes que nunca aconteceram, que nunca se tornaram reais.

CUIDADO COM AS MANCHETES QUE NÃO SE CONCRETIZAM:
MESMO COM DESMENTIDOS DOS ENVOLVIDOS, JORNAL PUBLICOU A NOTÍCIA

Todo ser humano deve ter o maior cuidado com as palavras que fala ou escreve. Um jornalista deve ter o dobro, o triplo de cuidado. A palavra escrita ou pronunciada tem um peso muito forte. Jornais, vídeos e áudios viram documentos históricos.

E se derem barrigas, viram motivo de chacota. Imagine se daqui a uns 15 anos, alguém pesquisa no arquivo de determinado veículo e encontra as manchetes escritas acima sobre o técnico Dunga ou sobre Ganso. A pessoa não vai entender nada e pode até mesmo imaginar que o treinador já teria dirigido o São Paulo em sua carreira ou que Ganso defendeu as cores do Corinthians.

Esse tipo de coisa precisa ser revista, deve ser motivo de reflexão. Em qualquer setor, a imprensa tem a obrigação de ser precisa, exata na divulgação dos fatos. É tudo o que essas manchetes não são. E os jornalistas esportivos ainda reclamam que são vistos como profissionais limitados, até pouco inteligentes, que só sabem repetir perguntas e conteúdo.

Claro, sem apuração essa é a imagem que acaba passando mesmo. Aí reclamam que o esporte é visto como uma editoria menor dentro dos veículos. Os profissionais devem dar seriedade ao tema. Esporte é paixão, é entretenimento, é tiração de sarro do rival, mas também deve ter precisão. É isso que mudará o conceito da editoria dentro de uma redação.

Amigos jornalistas, por favor, zelem pelo seu trabalho. Apurem, escrevam corretamente, sejam precisos. E não deixem o editor mudar sua manchete ou seu texto para "apimentar" o noticiário. Apenas relate o que houve.

Se o editor insistir, diga bem alto que isso é mau jornalismo. Deixe clara sua posição e, se for o caso, procure um lugar mais sério para trabalhar. É necessário que se faça um forte regime textual para que as protuberantes barrigas da imprensa diminuam. Um forte abraço.

Facebook: Leandro Martins
Twitter: @leandropress

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