sexta-feira, 8 de junho de 2012

Os dez anos da morte de Tim Lopes e os limites do jornalismo



Tim Lopes (foto) foi homenageado postumamente pela Rede Globo com uma placa na redação da emissora carioca. Em 2002, o jornalista foi torturado e assassinado por traficantes de drogas em um morro de favela do Rio de Janeiro. Tim tentava participar de um baile funk para fazer uma reportagem-denúncia sobre as atrocidades que lá ocorriam. Seu disfarce foi descoberto e ele acabou morto.

A morte de Tim Lopes foi algo tão marcante que tornou-se um "case" nas aulas de jornalismo de praticamente todas as faculdades do país. A reflexão que o fato levantou é: até onde o jornalista pode ir numa reportagem?

Sempre disse que sou a favor de câmeras escondidas para denúncias de irregularidades, crimes, desvio de verba pública, corrupção na política, etc. A missão de um jornalista é informar, fiscalizar e denunciar atos contra lei. Para isso, é preciso uma certa dose de ousadia, que envolve disfarces, situações perigosas e até ameaçadoras.

Até aí, tudo bem. O grande problema é quando isso ultrapassa os limites do bom senso e a reportagem ousada torna-se uma ameaça à vida humana. O jornalista que cobre a editoria de polícia, por exemplo, sabe que lida com nitroglicerina pura. De repente, uma ocorrência comum pode virar algo dramático e assustador. Ou seja, o clima de perigo e ameaça é constante.

Esse repórter tem consciência de que, eventualmente, pode ser vítima de uma fatalidade. Na verdade, todos nós podemos sofrer uma fatalidade. Mas o repórter de polícia tem uma porcentagem maior de que isso possa acontecer. O mesmo vale para o repórter que cobre guerras em faixas de conflito armado.

Esse jornalista deve ter cuidado redobrado e saber até que ponto ele pode desenvolver determinada reportagem. Operações em que a polícia estoura cativeiros ou invade morros é sempre algo complicado. As trocas de tiros são frequentes. Numa dessas, um cinegrafista Gelson Domingos, da TV Bandeirantes, foi morto num tiroteio.

É preciso cautela. Repórteres e editores devem avaliar e reavaliar a importância da reportagem e se mesmo necessária a presença da equipe no local em que a polícia deve atuar. Estar no olho do furacão pode ser letal. Segundo notícias da época, Tim Lopes estava no morro por conta própria, o que é ainda pior. Ele não devia ter noção do risco que corria. Ou então já não temia mais nada mesmo.

Segundo Freud, o pai da psicanálise, todos nós temos uma batalha interior. Eros versus Thanatos. Eros é o instinto de defesa da vida, da sobrevivência. E Thanatos é o impulso que temos pela morte, para acalmar nossas inquietações e, assim, atingirmos o equilíbrio eterno.

Creio que a vida seja um dom divino. Logo, o impulso à vida sempre vem em primeiro lugar. Tanto é que, quando atiram algum objeto em sua direção, o primeiro reflexo que você tem, quase que involuntário, é defender-se, colocando o braço à frente.

Quem preserva a vida sabe que a reportagem tem limite. Repórter não é policial nem investigador de polícia para tentar desvendar crimes o tempo todo. Vez ou outra, isso acontece sim. E vira furo de reportagem. Mas, na maioria absoluta das vezes, isso é trabalho da polícia. Jornalista não anda armado e não é o gravador, a câmera ou a máquina fotográfica que vão defendê-lo de um ataque.

Jornalista também não é super-herói. Não tem poderes ilimitados nem é invencível. Por isso, dez anos depois, a morte de Tim Lopes ainda é tão discutida em universidades. Emblemática que foi, leva à reflexão sobre a relevância de uma reportagem e o modo que o jornalista deve seguir para confeccioná-la.

Muitas vezes, o sensacionalismo leva ao exagero na busca de pautas sangrentas, com crimes perversos. O limite é sempre o do bom senso. Minha profissão é muito importante e a amo de coração, mas amo muito mais o dom da vida que recebi. Pense nisso. Um forte abraço.

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