quarta-feira, 24 de agosto de 2011

"Desglamourizando" a carreira de jornalista


Se você, que é leitor assíduo deste blog e tem vontade de cursar a carreira de jornalismo ou já está nos anos iniciais da universidade, ainda não ouviu uma certa pergunta, tenha certeza de que ouvirá em breve.

Basta que o jovem pense em cursar jornalismo e lá vêm mãe, pai, irmãos, avós, tios, primos, amigos e vizinhos com aquela velha indagação: "quando vou te ver na televisão?" (nota: em muitos casos, a palavra "televisão" é substituída por "Globo").

Para minha surpresa, os próprios estudantes do Ensino Médio não são tão deslumbrados. Tive o privilégio de participar, no último dia 20 de agosto (sábado), do Encontro de Informação Profissional, no Colégio Singular Anglo, em Santo André.

O evento funciona da seguinte maneira. Você, profissional de determinada área, fica em uma sala com mais uns cinco ou seis profissionais, sentados em uma mesa. Acima, colada na parede, uma placa indica seu nome e a área de formação.

Os alunos vão entrando, sentam-se à sua frente e vão perguntando as dúvidas sobre a carreira. Depois que se sentem satisfeitos com os esclarecimentos, agradecem e saem. O evento dura por volta de três horas e meia. Não parei de atender alunos o dia todo. Sinceramente, acreditava que 90% iam me questionar sobre o telejornalismo.

Mas, foi bem o contrário. Uma minoria gostava de TV. A maioria esmagadora qustionava-me sobre jornalismo em veículos impressos. Diziam que gostavam de ler e escrever. E perguntavam-me sobre o funcionamento e o ambiente de trabalho nas redações de jornais e revistas. Fiquei feliz. O pessoal era muito pé no chão. Apenas decepcionavam-se um pouco quando lhes mostrava os pisos salariais para o estado de São Paulo.

JORNALISMO: RELAÇÃO DE AMOR E ÓDIO COM OS ALUNOS

Não posso precisar o número de calouros universitários que ingressam na faculdade com ideia de glamour ou que são pés no chão. Mas esta experiência mostrou-me um lado bem interessante.

Muitas vezes, a "glamourização" não parte somente dos aspirantes à carreira jornalística. Parentes e as pessoas que vivem ao redor dos estudantes, não raras vezes, são muito mais sonhadores com relação ao trabalho na comunicação. Eles desvirtuam a profissão, como se quisessem que os meninos fossem famosos.

Pois bem. Se você é universitário ou aluno de Ensino Médio, peça para que essas pessoas leiam bem os próximos parágrafos. Para início de conversa, pouquíssimos jornalistas são famosos. E muitos são sem mesmo gostarem de ser. Não custa dizer mais uma vez: a única estrela do jornalismo é a informação.

Não bastasse isso, o mercado é cruel, agressivo, concorrido, louco! Poucas vagas em boas empresas, muita gente querendo entrar. Resultado: o valor salarial cai (lei da oferta e da procura). O trabalho em muitos lugares acaba sendo exploratório, com jornadas de 10 ou 12 horas por dia. O reconhecimento profissional demora. E o financeiro, mais ainda.

Sem falar na concorrência desleal que os éticos enfrentam. Existe muito Q.I. (conhecido "Quem Indica" e não Quociente de Inteligência) e muita gente influente que nos rouba as parcas vagas existentes. Gente famosa, filhos dessa gente, políticos, etc.

E ainda há uma parcela que usa o corpo de todas as formas para estar na mídia. Ou sai com o diretor e faz o teste do sofá ou apenas mostra a bunda em frente às câmeras mesmo. Ainda bem que esse tipo de gente não se cria em veículos impressos, notadamente mais sérios e que exigem inteligência e agilidade de repórteres, diagramadores, editores e colunistas. E não é qualquer um que sabe escrever!

Mas, de volta ao mercado, a coisa é tão feia que muitos se frustram na carreira e a abandonam com menos de dois anos de formados. Uma pena. Têm de começar numa nova profissão, do zero. E outra. É sabido que jornalista não tem final de semana, feriado ou data comemorativa.

Está escalado? Tem evento? Tem plantão? Vai ter que trabalhar. E fim de papo. Não tem aniversário de pai, mãe ou cinema com namorada ou amigos. E aquele chopinho no bar, quando houver um tempo (raridade) você até vai poder comparecer, se não estiver demasiadamente cansado.

Como diria o técnico de futebol, Muricy Ramalho, de glamourosa, a profissão não tem nada. "Aqui é trabalho, meu filho"! Claro, como em todas as profissões, poucos ganham muito e muitos ganham pouco. Jornalismo não é uma carreira para deixá-lo rico. É para ser exercida por amor, como uma missão, religião. Um verdadeiro sacerdócio.

Ainda assim, sou feliz e amo o que faço. Mas espero, de forma realista, ter mostrado para pais, alunos, irmãos e todo o pessoal que orbita em torno de um estudante de jornalismo, a faceta bem dura do mercado de trabalho para um recém-formado. Ainda mais para os que não têm conhecidos no meio. Um forte abraço.

4 comentários:

  1. Po cara, faço Economia na Federal do Ceará, e to pensando seriamente em mudar para Jornalismo. Sempre me interessei pelo curso(foi o primeiro que eu pensei em fazer, mesmo acabando em Economia), fazia jornaizinhos quando pequeno, sempre gostei de ler, escrever, dar minha opinião.. Tenho plena consciência que a carreira é dura, o salário não é tão pomposo e que a vida de um jornalista não é nada glamourosa. Aliás, quando eu penso em fazer este curso, penso exatamente naquilo que os alunos com quem vc teve esse encontro falaram: trabalhar numa redação, investir nesse novo ramo do ''web-jornalismo'', nem de longe me apetece trabalhar em televisão, apresentar telejornais ou algo do tipo.. No máximo fazer rádio, que é um veículo que sempre me despertou muita curiosidade. Sou fã dessas ''mesa-redonda'' que existem nas rádios. hehehe..

    O que vc acha Leandro? Alguma dica que vc possa me dar? Po, ficaria agradecido demais. Minha mãe é formada em jornalismo, apesar de não mais exercer a profissão, mas ela sempre só foca nos aspectos negativos da carreira (até por ela ter desistido), e isso me põe um pouco de medo. Quais as vantagens e desvantagens de se fazer Jornalismo e SER um jornalista? Poderia me dar uma noção de salário (EM NÚMEROS)?

    Abraços e obrigado desde já!

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  2. Olá, amigo! Tudo bom? Bem, vamos por partes. Vantagens e desvantagens da carreira. As desvantagens praticamente estão todas neste post. Salários baixos, trabalho exploratório, correria sem parar, alto nível de estresse, concorrência gigante do mercado, perda de vagas para pessoas que não são jornalistas (influentes, filhos de artistas, políticos, gente que mostra a bunda, etc). Vantagens: informar o público, ter a sensação de dever cumprido como cidadão, reconhecimento muito mais profissional do que financeiro. Em termos numéricos, os sites dos sindicatos de jornalismo geralmente trazem o valor do piso. No seu caso, é o Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce). Acesse www.sindjorce.org.br. Lá você encontra os valores por freelas e por trabalho fixo. Os básicos que apurei são:

    Jornalistas de jornais e revistas
    R$ 1.364,12

    Jornalistas de rádio e televisão
    1.641,05

    Assessores de imprensa
    R$ 2.383,40

    É isso, amigo! Um abraço!

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