sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Blog entrevista jornalista Rodrigo Cabral, da Rede TV! de Minas Gerais

RODRIGO CABRAL, NA COPA DA ÁFRICA, EM 2010

Dizem por aí que os mineiros gostam de comer o mingau pelas beiradas. Assim foi com o jornalista Rodrigo Alessandro Cabral ou, simplesmente, Rodrigo Cabral, da Rede TV! de Minas Gerais. Nascido em Belo Horizonte, a capital mineira, ele se formou em 1996 na UFMG.

Aos poucos, o jornalista diplomado, inteligente e perspicaz cresceu na carreira. Subindo de degrau em degrau, é hoje apresentador e repórter na terra do pão-de-queijo, depois de trabalhar na terra da garoa (São Paulo), por 11 anos.

Rodrigo foi para Minas para ficar perto da família. Ele diz que não é fácil conciliar família e trabalho e que, durante a Copa da África, em 2010, chegou a ficar quase dois meses longe de casa. O profissional ainda avalia a situação do mercado de trabalho na área jornalística atualmente: "muito concorido".

O jornalista começou a carreira para valer na área esportiva. Com 14 anos de carreira, o ele sabe bem como a coisa funciona. Em um ano de trabalho, teve apenas quatro ou cinco fins de semana de folga. E quanto aos feriados, é contundente: "esqueça".

Rodrigo Cabral revela que ainda tem vontade de trabalhar efetivamente em rádio, já que passou pelo veículo apenas como estagiário. E ainda cita uma história engraçada que vivenciou na carreira, quando quase teve de "transmitir" um jogo sem nenhuma câmera. Confira o bate-papo com o colega de profissão.

Leandro Martins - O que achou do curso de graduação quando estudou jornalismo?
Rodrigo Cabral - Sinceramente, esperava mais. Muita teoria e pouca prática.

LM - Você acredita que a faculdade prepara bem uma pessoa para o mercado de trabalho?
RC - Depende. Hoje em dia existem muitas faculdades e nem sempre  são bem avaliadas. O interesse e o envolvimento do aluno também contam muito.

LM - Em quais empresas de mídia já trabalhou?
RC - Comecei no extinto Canal 15 em BH (uma tv a cabo local) e depois fui para a Rede TV!, onde estou há quase 11 anos.

LM - Como é sua rotina hoje?
RC - Depois de 10 anos em São Paulo, pedi transferência para a sucursal da Rede TV! em BH, no final do ano passado. Aqui, faço reportagens para o Rede TV! News e também para um telejornal local chamado Notícias de Minas. No momento, estou apresentando este telejornal também. Normalmente trabalho no período da tarde até à noite. Normalmente de 13h às 21h. Mas isso varia muito de acordo com o factual.

RODRIGO ENTREVISTA CAFU, EX-LATERAL DA SELEÇÃO BRASILEIRA

LM - Ainda está no esporte?
RC - Não. Trabalhei exclusivamente com esporte até 2007.

LM - O que já fez ou faz fora do esporte?
RC - Nos últimos anos tenho feito todo tipo de cobertura. Política, polícia, economia, factuais em geral.

LM - Já foi setorista de um clube? Como é essa experiência?
RC - Nunca fui setorista. TV normalmente não tem setorista. Os repórteres fazem cobertura em todos os clubes.

LM - Quando decidiu que ia trabalhar com mídia? Como foi que tudo aconteceu?
RC - Foi meio de uma hora pra outra. Tentei vestibular primeiro para Medicina Veterinária  em 1992 mas depois desisti. Acompanhava tudo de esporte na época e achei que seria interessante ser jornalista e trabalhar na área. Em 1993, passei no vestilar para Comunicação Social. Deu certo. Tive a oportunidade de fazer estágio na maior emissora de rádio de Minas (Itatiaia) e aprendi muito lá. No último período de faculdade fiz um teste no Canal 15 que ia começar as trasmissões em BH, fui chamado e quando me formei já estava com emprego garantido. Não parei mais até hoje.

LM - Como foi seu início de carreira? Quais as principais dificuldades e obstáculos encontrados?
RC - Meu início de carreira foi fantástico. Fui acompanhado de perto por profissionais de primeira linha que durante muito tempo trabalharam na TV Globo Minas e me ensinaram muita coisa. Alberico Souza Cruz (ex-diretor de jornalismo da Rede Globo), Lauro Diniz (ex-editor regional da Globo Minas), Soraia Vasconcelos (ex-repórter da Globo Minas) entre outros. O Canal 15 foi uma escola pra mim.

LM - Como avalia o mercado de trabalho na mídia hoje?
RC - Poucas vagas e muita gente de fora. A Rede TV! fez uma seleção para Web Repórter aqui em BH e muita gente que está desempregada com pós-graduação na área se inscreveu. Não é fácil.

LM - Alguns jornalistas tornam-se amigos de fontes pela convivência. Você acredita que o jornalista ser amigo da fonte ajuda ou atrapalha o trabalho? Em que sentido?
RC - Não vejo problema em ser amigo da fonte. Desde que o profissionalismo não seja deixado de lado.

LM - Em algumas empresas de diversos setores existe sempre uma puxada de tapete. Você já se sentiu alvo de perseguição no meio? Sentiu-se traído?
RC - Se fizeram sacanagem, não conseguiram me prejudicar. Não posso dizer que já me senti traído, mas já me decepcionei com algumas pessoas.

LM - Como é cobrir um grande evento como a Copa do Mundo e as Olimpíadas?
RC - É fascinante você participar de uma cobertura desse tipo. A maioria dos jornalistas gostaria de viver essa experiência que fica marcada para o resto da vida. Mas que ninguém se iluda. Tem que trabalhar muito. Normalmente, o dobro do normal.

LM - Quantas edições de cada uma você já cobriu?
RC - Trabalhei na cobertura de duas Copas do Mundo (Alemanha 2006 e África do Sul 2010).

LM - Qual foi a maior emoção da sua carreira até hoje?
RC - Tenho 14 anos  de carreira. A maior emoção, difícil escolher. Já participei de grandes coberturas, finais de campeonatos importantes, Seleção Brasileira, casos de grande repercussão nacional.

LM - Cobrir outros esportes que não o futebol é mais fácil ou mais difícil? Por quê?
RC - Tudo fica mais difícil sem informação e conhecimento. É preciso estudar as regras e buscar muitas informações antes de entrar numa cobertura. Mas o futebol também é cheio de pegadinhas para quem trabalha em transmissões ao vivo.

LM - O que faz para preservar a voz?
RC - Sinceramente, quase nada. Hoje, na Rede TV!, tenho acompanhamento de uma fonoaudióloga (Telma Santos) que me ajuda muito com várias dicas e observações.

LM - Como vê a disputa pela transmissão do futebol brasileiro em 2012? Acha certo um regime monopolista?
RC - Qualquer tipo de monopólio não é sadio, mas não vamos mudar isso nos direitos de transmissão do futebol aqui no Brasil da noite pro dia. O fato do assunto ter sido muito debatido já foi uma evolução.

LM - Para os estudantes de jornalismo ou jornalistas recém-formados que pensam que o jornalismo é só televisão e que vão ficar famosos, o que tem a dizer? E o que falaria para aqueles que pensam que não vão trabalhar muito e nem aos finais de semana?
RC - Durante os anos que trabalhei só com esporte, folgava uns 4 ou 5 finais de semana por ano. Feriado, pode esquecer, a não ser nas escalas especiais de Natal, Reveillón, Carnaval e Semana Santa quando normalmente o jornalista folga um e trabalha dobrado no outro. Eu sempre trabalhei em TV, mas é cada vez maior a variedade de opções para se fazer jornalismo. Este blog é um ótimo exemplo. Os deslumbrados com a possibilidade de ficarem famosos normalmente se dão mal.

ALGUNS ÍDOLOS DE CABRAL NO JORNALISMO

LM - O que gostaria de fazer na carreira e ainda não conseguiu realizar?
RC - Eu ainda quero trabalhar em rádio. Comecei lá, mas fui parar na tv. Acho o rádio um veículo fascinante pelo imediatismo.

LM - Você acha que um jornalista esportivo deve assumir seu time de coração? Sim? Não? Por quê?
RC - Repórter é complicado porque está sempre no meio das torcidas e, nos momentos de crise, de derrota, tem "torcedor" que mistura as coisas e perde a cabeça. Imagina se souber que o profissional torce para o rival do time dele. Mas tudo bem, eu falo. Eu sou atleticano.

LM - É muito difícil trabalhar num jogo do seu time e ter de controlar as emoções? Tem uma técnica para ensinar aos jovens que estão começando na profissão?
RC - Pra mim, nunca foi porque não sou e nunca fui fanático. Acredito que seja complicado para quem é. Técnica? Na hora de fazer uma reportagem, jornalista não pode ter time, religião, nem partido político.

LM - Quem são os jornalistas e/ou profissionais da comunicação que mais admira?
RC - Tive a oportunidade de trabalhar com profissionais consagrados. Fernando Vannucci, Jorge Kajuru, Roberto Avallone, Juarez Soares, Téo José, Luiz Alfredo, Silvio Luis, Rodolfo Gamberini. E não posso me esquecer de uma referência do jornalismo esportivo. Juca Kfouri.

LM - Tem alguma história curiosa ou engraçada da profissão?
RC - Me lembro da final do Campeonato Paulista da Série A-2, de 2002. Jogo em Franca, no interior de São Paulo. Eu era o narrador e o Juarez Soares, comentarista.  Quando chegamos no estádio, não havia uma câmera. O caminhão de transmissão havia quebrado na estrada e  chegou quase na hora do jogo. Conseguimos atrasar o início da partida em meia hora, mas foi um tumulto só. No final, a Rede TV!, mesmo com todos os problemas, conseguiu uma grande audiência.

LM - É possível conciliar família e trabalho?
RC - Fiquei dez anos em São Paulo, morando longe da minha família. Às vezes, as oportunidades que aparecem te cobram um preço alto. Aí, vai da opção de cada um. Na Copa da África, foram 55 dias longe de casa. É desgastante mas, ao mesmo tempo, gratificante. É preciso muita determinação e, às vezes, preparo psicológico. Não sou casado nem tenho filhos.

LM - Deixe uma mensagem para quem pensa em seguir carreira, principalmente no jornalismo esportivo.
RC - Saiba que não é fácil entrar no mercado dos grandes meios de comunicação. Quem optar pela cobertura jornalística do dia-a-dia, tenha certeza que terá de abrir mão de muitos finais de semana, da maioria dos feriados e emendar nem pensar. Mas, se a profissão te fascina, mergulhe de cabeça. Eu fiz isso e não me arrependo.

LM - Alguma pergunta que gostaria de ter respondido e que eu não fiz?
RC - Sobre salário de jornalista. Quem optar pela profissão, precisa ter em mente que, na média, a realidade não é das mais animadoras. Mesmo em TV. É mais um dos desafios da profissão. Obrigado pela oportunidade e parabéns pelo blog!

Agradeço demais ao Rodrigo pela entrevista e pelos elogios muito gentis que fez ao meu blog. Para quem quiser seguir o jornalista no twitter, basta procurar por @_rodrigocabral. Para seguir este blogueiro, digite @leandropress. Um forte abraço.

2 comentários:

  1. Muito bacana a entrevista, acho que muitos estudantes de Jornalismo deveriam ler. Parabéns...

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  2. Obrigado Tiago. Veja as outras em posts passados que também são bem interessantes. Um abraço!

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