segunda-feira, 23 de maio de 2011

Uma pausa no jornalismo para falar sobre português

 
Dias atrás, assisti a uma reportagem na TV Globo sobre um polêmico livro didático, de língua portuguesa, lançado pelo MEC (Ministério da Educação). O livro faz parte da coleção "Viver, APRENDER" (será?) e recebe o título "Por uma vida melhor".

A polêmica está no conteúdo, que ensina sim, de fato, as crianças a falarem de forma errada. Na página 14, o livro traz a seguinte lição. A frase "Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado" é considerada aceitável. E explica: "Na variedade popular, basta que a palavra 'os' esteja no plural. A língua portuguesa admite esta construção."

Fala-se, nesse caso, em forma adequada ou inadequada da língua e não em certo e errado. Tudo isso, para que o aluno não se sinta constrangido ao se expressar na escola. Mas na página 15, vem a contradição.

"Mas eu posso falar 'os livro'?" "Claro que pode." "Dependendo da situação, a pessoa corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico." Ou seja, não pode falar coisíssima nenhuma! Isso é um absurdo! Imagina um orador na formatura da turma falando uma barbaridade dessas! Ora, se ele vai sofrer preconceito linguístico, então tem de aprender a maneira certa desde pequeno para evitar tal situação.

UM LIVRO QUE O MEC PODERIA INDICAR ÀS ESCOLAS

O que acontece é que o Brasil é um país muito paternalista. Tem dó de qualquer coisa. Tudo coração mole! A pessoa não pode se sentir constrangida nem passar vergonha. Mas isso é para o bem! Enxergando o erro, ela vai buscar o acerto! Caso contrário, vão ter dó do cidadão depois, quando ele tiver uma lacuna de conhecimento! Como vai conseguir um bom emprego?

Aqui, pode-se tudo. Será que o todo-poderoso do FMI, Dominique Strauss-Kahn seria preso no Brasil? Com certeza, não. Os ricos e poderosos aqui são estrelas de cinema e cheios de privilégios. Aqui tem político "impeachmado" que foi novamente eleito. Outro fingiu uma dor de estômago e saiu da prisão. Isso aqui é um país sério?

Uma das autoras do livro, Heloisa Cerri Ramos (sim, o nome dela é sem acento!), explica na reportagem que "não se aprende o português culto decorando regras ou procurando o significado de palavras no dicionário." Concordo. Não tem que decorar nada. Tem é que melhorar a maneira de ensinar o português nas escolas da forma correta.

Tem de mudar a didática. Os professores das escolas públicas precisam sim, ter a chance de fazer cursos pagos pelos estados e municípios. Precisam estar em constante formação, discutir mais aspectos pedagógicos.

Com uma didática melhor, fugindo da decoreba, os alunos aprendem sim. Eles devem ser estimulados a ler mais. Em literatura não tem nada escrito errado. E tem boas histórias. Mas, para que os alunos consigam aprender e estejam dispostos a frequentar as aulas, é preciso também que tenhamos escolas boas (não sucateadas), merenda servida direito, em horários certos (sem desvio de verba dos políticos), espaços bem cuidados, quadras para a prática de esportes.

Não há como formar um cidadão consciente em um espaço sujo, com insetos, comida estragada, móveis escolares quebrados, falta de material, de uniformes, de vagas! Para aprender, é preciso sentir-se bem. Estar em um espaço aprazível. Sem isso, o aluno dificilmente terá vontade e cabeça para aprender alguma coisa, seja com o ensino do português culto ou não!

E aí me vem o MEC com a brilhante frase "É preciso se livrar do mito de que existe apenas uma forma certa de falar. E a escrita deve ser o espelho da fala". Por isso, não podemos falar "nós vai". Se tal fala for aceitável, essa construção vai aparecer também na escrita.

A ESCRITA CORRETA É ESSENCIAL PARA O SER HUMANO

O MEC completa: "A norma culta da língua portuguesa será sempre a exigida em provas e avaliações". Ou seja, aí é para enlouqecer qualquer um! Posso falar errado, mas tenho de escrever certo? Quando você, amigo leitor, interpreta o enunciado de uma prova e pensa na resposta, o que você "ouve" no seu pensamento? Sua voz, claro. Se você se ouvir de forma errada, como vai escrever? Errado, óbvio. Mas acreditando que está certo.

Esse tipo de coisa só contribui para empobrecer uma das poucas coisas ricas que temos no país e que pertence a todos: a língua portuguesa. Coitadas das pessoas que tentam ou tentaram fazer um bem à sociedade como Pasquale Cipro Neto e o programa "Nossa Língua Portuguesa", na TV Cultura, ou Sérgio Nogueira, que participa do quadro "Soletrando", no programa "Caldeirão do Huck", da TV Globo. São mártires numa terra de ninguém.

Para encerrar. Vejo todos dias um festival de assassinatos à nossa língua mãe nas redes sociais como Twitter e Facebook. Erros ortográficos sérios (não me refiro a erros de digitação ou à maneira de se expressar na internet - quando esrcrevemos "eh" em vez de "é", por exemplo).

Pior do que isso, é ver jornalistas que cometem erros crassos. Deveriam todos morrer de fome. Mas agora, com tal medida do MEC, até isso está "aceitável". Como disse o jornalista Alexandre Garcia, em uma crônica brilhante, "nivelar a educação por baixo é nivelar as pessoas por baixo". Sinceramente, é uma imensa vergonha para mim. Desculpe o desabafo de um jornalista que prima pela boa escrita. Amanhã tem fotos do ER e, na quarta, volto a falar sobre jornalismo. Um forte abraço.

10 comentários:

  1. Prefiro nem comentar... sobre o ensino do Brasil está cada vez mais falho...

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  2. Ótimo post! É realmente um absurdo este manual do Mec!

    E quem essa cidadã acima reclamando que o ensino está uma porcaria se nem ela soube escrever o comentário? O correto é: "Prefiro nem comentar sobre o ensino NO Brasil, está cada vez mais falho..."

    Deve-se usar o "NO" no lugar do "DO" porquê nesse caso não é Brasil que ensina algo. Na realidade o Brasil nunca ensinou nada para ninguém

    Caro Leandro, em qual jornal você trabalha? Ótimos textos e belas reflexões acerca de divérsos assuntos! Meus parabéns!

    Um grande abraço

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  3. Oi Carlos! Obrigado pelas palavras! Já trabalhei em jornal impresso, mas hoje estou em TV, como editor-chefe de um programa institucional em Guarulhos. E tb apresento um programa esportivo em uma web tv toda segunda, ao vivo! Obrigado e um abraço!

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  4. Excelente post, Leandro!!! A educação no Brasil encontra-se em uma condição lamentável, e agora com essa novidade aí, certamente iremos regredir cada vez mais!!! É uma pena...
    O certo seria investir numa educação de qualidade, que valorizasse o cidadão e ensinasse a lingua portuguesa corretamente, mas, para a maioria dos politicos, um povo burro é mais facil de ser manipulado do que aquele q procura a verdade e o aprendizado!!!
    Beijo grande!!!

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  5. Nóis é jeca mais é jóia! =P

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  6. Realmente Leandro, nimguem merece. Parabéns pelo post!

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  7. Bom dia, Leandro acredito que você não deve ter o conhecimento de outro livro que é utilizado pelas escolas publicas, na 8ª série, ou nono ano, dá uma pesquisada, tem tanto quantos outros absurdos como no livro citado por você, o conteúdo está na página 81, o autor do livro que ensina que é preconceito linguístico se o professor corrigir um aluno que pronuncia “chicrete, praca,” e assim por diante. É um livro de capa vermelha. Questionei um professor, se ele daria a mesma nota a um aluno que falasse corretamente e outro que tivesse erros de pronuncia, numa avaliação oral, a resposta foi negativa. Simplesmente não sei o que está por vir na educação pública, 1º sala por ciclo, onde o aluno não reprova independente de seu aprendizado, agora os professores não podem corrigir o erro de pronuncia. Porem, todos sabem que a sociedade vai cobrar lá na frente destes alunos, como vão se preparar para um vestibular? Discriminatório é a forma que estão lidando com a educação de nossos alunos, vão excluí-los de toda uma sociedade, estão tirando de muitos a única oportunidade que tem para aprender a se comunicar corretamente, é revoltante. Será que num futuro próximo vão criar cotas para quem tiver pronuncia incorreta? Por fazerem parte de uma sociedade excluída! Daqui a pouco nem vai ser mais necessário concluir o ensino médio para entrar em uma faculdade. Onde a educação pública vai parar?

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  8. Pois é, Maria! Posso imaginar quantos livros existem dessa maneira. A educação não vai parar em lugar algum. Ela já parou faz tempo. Aliás, no tempo! O que acontece, Maria, é que sabemos que manter as pessoas "ignorantes" e desinformadas é bom para os políticos, que podem fazer o que querem, aumentar seus salários, entre outras falcatruas. Assim, a população "emburrecida" vira gado e não parte para a revolução. Só com a pressão popular é que as coisas mudarão neste país. Obrigado por acrescentar informações a este blog. Um abraço!

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