A entrevista de hoje é especial. Vai ser disponibilizada a você, amigo leitor, em duas partes. A primeira, nesta sexta-feira e a segunda, na sexta que vem. O longo bate-papo se justifica. Quem me concedeu a entrevista é um jornalista experiente.
É locutor da Rádio Bandnews FM e do canal a cabo Bandsports (ambos do Grupo Bandeirantes), além de escritor e professor por excelência. Tem três faculdades completas no currículo (Jornalismo, Rádio e TV e Publicidade e Propaganda) e uma trancada (Filosofia). O jornalista adora ensinar e trocar experiências com quem está ingressando na carreira.
Didático, atencioso e ligado nas questões atuais da mídia, Carlos Fernando Schinner, ou, simplesmente, Cacá Fernando, acumula passagens pelas principais emissoras de rádio e TV do país. Sua vontade de ensinar fez com que criasse o primeiro Curso de Narração Esportiva (CNE) em rádio e televisão, no Senac-SP, no ano 2000.
Também é autor dos livros "Manual dos Locutores Esportivos" (Pandabooks, 2004) e da biografia "Rui Viotti – histórias do rádio, da TV e do esporte" (Cia. dos Livros, 2011). E no segundo semestre deste ano, vem novidade. Mais uma biografia: "Coutinho, o 9 de ouro e parceiro do Rei (Pelé)".
O jornalista também é um dos idealizadores da Rádio CBN e dos canais voltados apenas à programação esportiva, como SporTV, ESPN, etc. Com tanta bagagem na carreira, esta entrevista não poderia ser simples. Jornalista deve ter poder de síntese, admito. Mas, nesse caso, seria muito desperdício não compartilhar informações tão preciosas com você, que sempre dá uma passadinha por aqui.
Nesta primeira parte, curiosidades sobre os 32 anos de carreira do santista (de nascimento e no futebol!) Cacá Fernando. Na semana que vem, opinião sobre questões polêmicas que envolvem o jornalismo e a mídia de modo geral. Ensinamentos valiosos para qualquer profissional da comunicação. Iniciante ou com bons anos de estrada. Acompanhe a entrevista.
Leandro Martins - Você acredita que a faculdade prepara bem uma pessoa para o mercado de trabalho?
Carlos Fernando - Acho nosso modelo de ensino muito fraco na área, para uma profissão tão viva como rádio e televisão. Na época em que ancorava a Rádio CBN, cheguei a discutir com o Paulo Henrique Amorim a necessidade de um curso tão longo, quando na verdade o importante seria a especialização em áreas de real valor. Hoje com as mídias eletrônicas, estamos numa época de enorme e rápida mutação, e duvido que as faculdades estejam acompanhando essa evolução dentro do mercado de trabalho. Na prática do dia-a-dia - quase sempre - a teoria é outra...
LM - Em quais empresas de mídia já trabalhou?
CF - Muitas rs... Rádios: A Tribuna, Atlântica e Cultura de Santos; Globo, CBN, Record e Gazeta de S.Paulo. Na TV: Band, ESPN, SporTV, Cultura, Record, Gazeta, DirecTV. Atualmente, sou narrador e apresentador do canal Bandsports desde 2003 e da Rádio Bandnews FM que transmite futebol desde março desse ano.
LM - Como é sua rotina hoje? Que horas você entra? Tem hora pra sair?
CF - Trabalhar em rádio e tv exige disciplina e tempo. Não temos horário para entrar ou sair e estamos conectados no fuso-horário do planeta. Às vezes, narro torneio de tênis no Japão, corrida na Austrália, futebol na Alemanha, atletismo em Roma, natação nos Estados Unidos, tudo com fuso-horário trocado.
LM - O que já fez fora do esporte?
CF - Fui âncora e um dos pioneiros da rádio CBN (jornalismo), em 1991. Também apresentei o lendário programa Balancê, em 1988, com Osmar Santos e equipe. O Balancê transformou-se em Perdidos na Noite e destacou Fausto Silva (o Faustão, da TV Globo).
OS LIVROS ESCRITOS POR CACÁ
LM - Já foi repórter ou sempre foi locutor?
CF - Sempre narrador e apresentador. Mas considero - e digo isso aos alunos do Senac (assim como defendi no Manual dos Locutores Esportivos) que TODOS SOMOS REPÓRTERES. Sempre!
LM - Quando decidiu que ia ser narrador? Como foi que tudo aconteceu?
CF - Tinha apenas 10 anos e já sabia que meu destino estava sendo traçado quando ouvi a primeira transmissão de Osmar Santos, na Rádio Jovem Pan, em 1972.
LM - Alguns jornalistas tornam-se amigos de fontes pela convivência. Você acredita que o jornalista ser amigo da fonte ajuda ou atrapalha o trabalho?
CF - Acho a fonte necessária. Mas não pode haver off (como costuma dizer Milton Neves). No rádio esportivo, ser "amigão de jogador ou técnico" não é bom negócio na hora de se revelar alguma notícia importante.
LM - Em muitas empresas, existe a tradicional puxada de tapete. Você já se sentiu alvo de perseguição no meio? Sentiu-se traído?
CF - Várias vezes. Mas o "meio rádio/TV" não é muito diferente das outras empresas, não. Como sou budista, sei o quanto o ego costuma atrapalhar as pessoas doentias e ambiciosas ao extremo. Quem é de bem (e do bem) não se preocupa com essas bobagens dos seres humanos.
LM - Como é cobrir um grande evento como a Copa do Mundo e as Olimpíadas? Dorme-se pouco e trabalha-se muito? Qual a emoção?
CF - Emoção total e necessária. Estar num evento dessa magnitude ou no IBC mexem positivamente com o profissional. Dormimos pouco sim, mas acordamos com prazer único, com o prêmio de fazermos parte da história do esporte. Cobrir uma Olimpíada ou Copa é colocar uma medalha de ouro do jornalismo esportivo. Felizmente já tenho algumas rsss. (Cacá cobriu quatro Copas do Mundo, três Jogos Olimpícos, além dos Jogos Panamericanos, esportes motorizados e X-Games).
LM - Lembra-se de qual jogo narrou que mais o emocionou? Qual foi a maior emoção da sua carreira?
CF - Dificil escolher "o" jogo, ou "o" gol. Mas lembro a decisão da Copa dos Campeões da Europa de 1999 quando Bayern de Munique e Manchester United decidiram o título em Barcelona. Até os 45 minutos do segundo tempo o Bayern era campeão europeu, quando em 2 minutos o time inglês virou o jogo e levou a taça. Narrei esse jogo pela TV Cultura. Quanto à maior emoção, acho que foi narrar as 16 medalhas de Michael Phelps (14 ouros) nas piscinas de Atenas 2004 e Pequim 2008. Além do ouro de Cesar Cielo na última Olimpíada.
LM - Narrar outros esportes que não o futebol é mais fácil ou mais difícil para o locutor? Por quê? Quais exigem mais técnica?
CF - O livro Manual dos Locutores Esportivos mostra tudo isso em detalhes. Adoro narrar atletismo e natação. Futebol é domínio público de brasileiro por ser nosso primeiro esporte. Todo mundo quer narrar. Ser bom no microfone e preciso na descrição dos lances é outra história...
LM - O que faz para preservar a voz?
CF - Evito beber gelado. Uma cervejinha de vez em quando, após o jogo não faz mal nenhum. Mas recomendo bebidas quentes (conhaque, uísque moderadamente é ótimo), e muita água em temperatura ambiente.
LM - Como vê a guerra pela transmissão do futebol brasileiro em 2012? Acha certo um regime monopolista?
CF - Cartas marcadas. Apenas isso.
LM - Para os estudantes de jornalismo ou jornalistas recém-formados que pensam que o jornalismo é só televisão, o que tem a dizer? E o que falaria para aqueles que pensam que não vão trabalhar muito e nem aos finais de semana?
CF - Trabalharão com o que realmente gostam, todos os dias, quando escalados. A web é um portal aberto a todos os novos (e velhos) profissionais.
LM - O que gostaria de fazer na carreira e ainda não conseguiu realizar? Que sonhos profissionais ainda alimenta?
CF - Tenho enorme expectativa em narrar uma Copa e uma Olimpíada no Brasil. Nosso país vive grande momento, apesar dos desmandos políticos, do excesso de burocracia, impostos e corrupção.
LM - Você acredita que um jornalista esportivo deve assumir seu time de coração?
CF - Nasci em Santos, vi o fim da carreira de Pelé e, portanto, não há o que esconder. Também gosto do Bayern de Munique na Europa. Há quase 30 anos levei o Milton (Neves) para conhecer a sala de troféus do Santos, na Vila Belmiro. Ele - declaradamente santista - nunca tinha ido lá. Quem se sentir mais confortável em esconder o time, que o faça.
O LOCUTOR OSMAR SANTOS
É UM DOS ÍDOLOS DE CACÁ
LM - É muito difícil narrar e ter de controlar as emoções quando seu time joga? Tem uma técnica para ensinar aos jovens que estão começando na profissão?
CF - Tenho narrado as finais do Paulistão 2011 pela Bandnews FM e da Libertadores pelo Bandsports e, realmente, fazer os jogos do Santos não é tarefa fácil. Mas contra equipes brasileiras me mantenho neutro e imparcial pois sei o que é ser profissional. Quanto às técnicas, escrevi um livro único sobre o assunto, e não daria para falar isso em duas ou três palavras.
LM - Quem são os jornalistas e/ou profissionais da comunicação que mais admira?
CF - Sempre fui fã de Osmar Santos, como já disse antes. Tive a sorte de trabalhar com pessoas e amigos fantásticos como Heródoto Barbeiro, Pedro Luiz, Hélio Ribeiro, e tantos outros.
LM - Tem alguma história curiosa ou engraçada da profissão?
CF - Muitas histórias. Recentemente lancei o livro "Rui Viotti: histórias do rádio, do esporte e da televisão" repleto de ótimas histórias sobre o nosso meio.
LM - É possível conciliar família e trabalho?
CF - Já fui casado duas vezes e não tenho filhos. É possível sim, desde que a esposa seja compreensiva e saiba que o domingo é o nosso dia mais sagrado.
LM - Deixe uma mensagem para quem pensa em seguir carreira, principalmente no jornalismo esportivo.
CF - Aproveite para buscar conhecimento além do Google. Leia, leia, leia muito e aprenda tudo o que puder e sempre que puder. Boa sorte e seja muito feliz. Sou muito agradecido por tudo que aprendi e vivi em minha profissão.
A segunda parte da entrevista com Carlos Fernando, mais aprofundada, será publicada na sexta-feira que vem, dia 03/06. Por enquanto, fica aqui meu agradecimento a essa simpática pessoa e brilhante profissional. Cacá é estudioso, letrado. Tem gabarito para estar onde está. Com um detalhe: muito educado e totalmente acessível. Sem marra, arrogância, ou indiferença com os colegas de profissão ou com o público.
Comprove o que digo e siga-o no Twitter: @cacafernando. Por hora, é isso. Semana que vem tem o segundo tempo desse bate-papo. Um forte abraço.
como sempre arrasando na entrevista... louca para ver a segunda parte.....
ResponderExcluirRespondendo ao comentário que me daria autográfo num guardanapo... fique despreocupado ando sempre com um bloquinho na bolsa.... uma jornalista prevenida (hahahaha)...
Parabéns mais uma vez pelo Blog...
bjs
Obrigado Paulinha! Sempre presente aqui no blog... hehehe. Bjos!
ResponderExcluirGrande entrevista Leandro!!! Sou narrador esportivo da Gospel Fm e aprendi bastante com o Caca!! Grande abraço e parabéns!!
ResponderExcluirObrigado Renato! A gente sempre tem o que aprender nesta vida! ;) Abração!
ResponderExcluirLeandrão!
ResponderExcluirMais uma grande entrevista. O Cacá é gente finíssima.
Eu li o livro - Manual dos Locutores esportivos. Tomei as melhores lições de como narrar jogos esportivos. Simplesmente é sensacional
Para os meus colegas narradores que não leram, leiam.
Vou aguardar o 2º tempo da entrevista.
Abraços!
P.A.
Paulo Arnaldo
Narrador esportivo - Net Cidade