quarta-feira, 18 de maio de 2011

Vergonha alheia: muitos jornalistas recebem propostas para trabalhar de graça



É uma pouca vergonha, mas acontece de verdade. Muitos jornalistas, não raras vezes, recebem propostas para trabalhar de graça. Principalmente nas mídias de bairro ou de cidades do interior. A prática é comum e os "empregadores" não fazem a menor cerimônia ao oferecer um cargo nestas condições. Para jornalistas iniciantes ou experientes, formados ou ainda na faculdade.

Outro dia mesmo, um amigo contou-me que havia sido aprovado para trabalhar numa rádio do interior de São Paulo. "Passei na entrevista", disse ele. Dei-lhe os parabéns. Mas, na sequência, desabafou: "estou frustrado. O emprego que me ofereceram é para trabalhar de graça".

Um absurdo! Pela proposta, meu amigo ganharia algum dinheiro somente se trouxesse anunciantes para o veículo. Como um autêntico vendedor. Uma coisa é montar um projeto, convidar alguns amigos a participarem e trabalharem para que aquilo vingue. Nesse caso, TODOS vão em busca de recursos e alternativas. E TODOS partem do zero. Sem dinheiro. Porém, conscientes disso. Acabam transformando-se em sócios de uma ideia, o que é muito válido.

Outra, é ser dono de um veículo de comunicação e "contratar" pessoas para um trabalho grátis, oferecendo em troca apenas o espaço de "aprendizado" (leia-se cobrança, como qualquer profissional tem). Ainda que o anúncio da vaga deixe bem claro que é sem remuneração, é um disparate. Não há sociedade. Nem com ideia, nem com projeto, nem com trabalho.

Há sim, exploração. O funcionário trabalha de graça enquanto o dono da tal rádio ganha um repórter. Ganha em cobertura, em conteúdo, em programação. Às custas de um trabalhador sem remuneração e sem encargos trabalhistas.

Muitos veículos de comunicação fazem tais absurdos. E não apenas os pequenos. Outro amigo confidenciou-me recentemente que trabalhou de graça durante um bom tempo em uma emissora de TV aberta de São Paulo, enquanto fazia graduação. A sensação que pairava no ambiente da empresa é que ele seria contratado assim que se formasse. Tão logo isso aconteceu e ele foi "despedido" (mesmo sem ter um cargo remunerado) no dia seguinte.

O mercado midiático já é estrangulado. E tal prática contribui para agravar a situação. Pois, pelo que pudemos observar, vagas até existem, mas não são preenchidas adequadamente ou mesmo dentro da legalidade. O Sindicato deveria ser mais atento a essas questões.

E os jornalistas mais conscientes. Sempre que receberem uma proposta dessas, gravem e denunciem ao Sindicato. É importante para ajudar a melhorar o mercado de trabalho. O estágio e a primeira oportunidade profissional são importantes na carreira, mas não a esse preço. Sinceramente, tem dias em que sinto muita vergonha alheia. E hoje foi um deles. Um forte abraço.

4 comentários:

  1. Mais um post com muito conteúdo. Parabéns...
    Já passei por essa situação, para trabalha num site de esporte basicamente em pescaria. O sr. queria que eu montassem um blog ou site atualizasse diáriamente. Achei bacana mas quando fui pergutar quanto ganharia ele se ofendeu e até me xingou.... Mandei ele pastar é claro... nem relógio trabalha de graça... precisa de bateria.
    Nem um dono trabalha de graça ele espera lucro nem que seja de longo prazo né... bjs

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  2. Pois é Leandro e outra rotina que é bom para todo mundo ficar esperto é a tal da "matéria-teste". Numa lista de e-mails de empregos para jornalistas, outro dia, algumas pessoas se queixaram de uma agência de comunicação de São Paulo que, no processo de "seleção" de candidatos a repórteres de uma revista editada por eles, entregava uma pauta ao candidato para avaliação. Mesmo o candidato não aprovado tinha sua matéria, não-remunerada, publicada na tal revista, sob a alegação que ele (o candidato) havia sido avisado a respeito. O pior é que, na contestação de vários dos integrantes da tal lista, o "moderador" disse não ter visto "nada demais" na prática. Rsrs...
    Com tanta gente tentando vaguinhas até gratuitas por aí, dá até pra escrever uma Bíblia por dia de graça e ainda achar a coisa mais normal do mundo...
    Abração.

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  3. Pois é, Sylvio e Paulinha! É uma prática horrenda, condenável e eu fico enfurecido com essas coisas. Sabe, tanta gente precisando de trabalho para sustentar casa, filhos e alguns ainda se sujeitam às vagas grátis na esperança de que sejam contratados de verdade. Tem empresa que ainda usa o desespero das pessoas para conseguir esse tipo de trabalho ou matéria grátis. Valeu Paulinha pelo comentário e valeu, Sylvio, pelas informações. É pra td mundo ficar bem atento! Obrigado pelo carinho de vcs! Abraços!

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  4. Bem o assunto já foi explanado e pelo visto muitas pessoas passaram com isso, apenas direi o que aconteceu comigo. Poxa estava ávido a escrever sobre futebol, ficava implorando espaço em sites, blog, etc - Achei que escrevendo em diversas mídias seria chamado pra trabalhar remuneradamente, podem dizer que sou inocente eu aceito. Fui convidado pra escrever para um site de futebol e ser setorista dos times do ABC, poxa fiquei numa correria lascada. Num belo dia consegui uma entrevista com o Marcelinho Carioca quando ele jogava no Santo André, na vespera do jogo contra o São Paulo pelo campeonato brasileiro de 2009. Poxa além de ter a matéria copiado por dezenas de sites de noticias, dentre eles alguns bemmmmmmmmmmmm famoso. O site para qual eu escrevi a matéria não creditou a matéria a minha pessoa e sim ao JORNALISTA DE PLANTÃO, me enfureci e disse que não escreveria mais.
    Além de não ganhar nada ROUBAR a matéria é crime hediondo !
    Abçs

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