quarta-feira, 11 de maio de 2011

Jornalistas reclamam e Folha de S. Paulo deverá rever carga horária



Na seção de entrevistas, que publico toda sexta-feira neste blog, uma das perguntas que sempre faço é como tem sido a rotina de trabalho do profissional que estou entrevistando. Entre outras coisas, costumo indagar também aos colegas qual o horário que eles cumprem na jornada diária.

Não são poucos que me respondem com a seguinte afirmação: "eu tenho hora para entrar, já para sair..." É um mal do jornalismo. Muita gente da mídia fala que tem apenas "hora para entrar". E alguns ainda sorriem e sentem orgulho disso. Ninguém sequer mostra indignação ou revolta. O medo de perder o emprego é maior do que pleitear boas condições de trabalho e melhor qualidade de vida. Nem se cogitam greves.

Uma pena. Não sei o que é mais revoltante. Um veículo fazer do profissional um escravo ou aceitar tudo isso de cabeça baixa. Jornalista também tem carga horária a ser cumprida. Ninguém é escravo. E quando precisa trabalhar na jornada além do tempo previsto em contrato, deve receber hora extra. Nada de banco de horas. Esse banco não tem dinheiro e não paga as contas de ninguém no fim do mês.

O site Comunique-se publicou, no dia 14 de abril, reportagem dizendo que o jornal Folha de S. Paulo terá de apresentar um controle sobre a carga horária dos jornalistas. Alguns profissionais reclamaram das condições de trabalho e denunciaram ao Sindicato que vinham tendo jornadas de 12 a 15 horas, sem direito ao famigerado banco de horas ou o pagamento de horas extras. Um absurdo.

Ainda de acordo com a reportagem do site, cada jornalista era responsável por mais de oito pautas diárias. Segundo o jornal, o volume de trabalho aumentou após a integração das redações da Folha e do jornal Agora SP.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo deu um prazo de 90 dias para que o veículo de comunicação reveja a postura e "coloque a casa em ordem". A decisão foi tomada em reunião mediada pela Secretaria Regional do Trabalho. Duvido que isso vá acontecer.

E, mesmo que aconteça, sempre encontram uma maneira de burlar o texto da lei. Amigos jornalistas iniciantes ou estudantes aspirantes a esta carreira, sejam bem-vindos à dura realidade da profissão. Toda vez que leio estes relatos ou converso com profissionais que trabalham em grandes conglomerados de comunicação tenho menos vontade de estar nas mídias mais conhecidas.

Não compensa. Para entrar e ter medo de perder o emprego ou me sujeitar ao "chicote" midiático, prefiro ficar na minha. É uma desilusão. Não tem glamour nenhum. Apenas muito suor. Não raras vezes, mais do que o necessário. A "classe" é desunida. E parece que o jornalista se acostumou a trabalhar excessivamente. O que é péssimo.

Tem gente que tem família, filhos. Precisa sustentar a casa. Aí não pode largar o emprego que o suga completamente. Mais tarde, junta algum dinheirinho suado que, pela falta de qualidade de vida, acaba sendo gasto para recuperar a saúde. Isso Dalai Lama já disse. "Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde". Mas isso precisa mudar. Na Folha de S. Paulo ou em qualquer outro lugar. Um forte abraço.

6 comentários:

  1. Como sempre arrassou.... E me alertou... um dia eu quis trabalhar na folha.... agora quero passar longe (HAHAHAAH)..
    bjs

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  2. Sabe Leandro esse problema aflige os profissionais de várias , ou até todas as áreas. As empresas te sugam pelo fato da mão de obra estar num grau de opulência elevadíssima. Penso que sem políticas, claras e sérias muitos profissionais " pastarão " nas mãos de empresas inescrupulosas que só sabem sugar e lucrar sobre a dor e necessidade alheia.

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  3. Sabe Leandro esse problema aflige os profissionais de várias , ou até todas as áreas. As empresas te sugam pelo fato da mão de obra estar num grau de opulência elevadíssima. Penso que sem políticas, claras e sérias muitos profissionais " pastarão " nas mãos de empresas inescrupulosas que só sabem sugar e lucrar sobre a dor e necessidade alheia.

    ABC Paulista FC

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  4. Sabe que nem lembro que escrevi aqui... Só lembro que falei que tinha o sonho de trabalhar na folha e demois de ler este post, me abriu os olhos não quero mais.. Valeu Lê... me livrou de uma bjs

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  5. Com um super conhecimento de causa, tem horas que, temo em dizer, mas vamos lá: os jornalistas (para ser mais específica, repórteres) parecem gostar e até mesmo glamorizar as tais 15 horas diárias e os plantões imendados e remendados...

    Acho que as pressões não surtem muito efeito, porque lá no fundinho, muita gente curte essa vida, curte o papel de paladino da sociedade. Ah, os boêmios que se encontram depois do fechamento do jornal para reclamar, beberizar, fumar, lustrar o ego e assim também formar uma grande egrégora que serve apenas para eternizar a condição e deixar os mais ligados na grande cilada em que cairam doentes.


    Ao lado disso, óbviamente há sim a chibata patronal.Banco de Horas, para mim, era um papelzinho que todo mês tinha de assinar e devolver ao RH. E se a chibata é patronal, a loja desse artefato fica no sub-solo do Sindicato. Quantas vezes não soube que o Sindicato havia pousado na Redação as 7h da matina? Coindentemente, horário que não há nenhum funcionário para participar.

    Mas não sou todos os profissionais da caneta (teclado) nem todos os representantes da classe vilões. Sempre tem os tais 'noves fora'.

    O que sempre me chamou a atenção é que escrevemos sobre direitos dos professores, péssimos salários dos médicos, mas, sobre nós mesmos, preferimos deixar a carapuça nas mãos de uma poesia que começou, sei lá, pouco depois da própria prensa. Só sei que perdeu a rima e o brilho.

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  6. Por isso criei esse blog! Para falar sobre nós mesmos, coisa que pouca gente tem coragem de fazer. Glamourizar jornada de 15 horas é coisa de gente louca, que não deve ter ambiente em casa e nem prezar um mínimo a qualidade de vida... Repito, uma pena.

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