sexta-feira, 20 de maio de 2011

Blog entrevista o locutor Jota Júnior, do SporTV



José Francischangelis Júnior é o nome de um locutor famoso de rádio e TV que nasceu em Americana-SP, no dia 7 de dezembro de 1948. Cobriu inúmeros eventos esportivos nacionais e internacionais e tem uma voz agradável a qualquer ouvido (que mantém ativa com mel e gengibre).

Sua frase principal em um lance perigoso nos gramados é: "Arrisca, bate, goooolll". Narrou milhares de gols no futebol, pontos no vôlei e no basquete, além de apresentar centenas de programas de TV. Embora meu texto de introdução se pareça mais com uma página da Wikipédia, ainda estamos no blog, caro leitor.

E se você não está reconhecendo essa amável pessoa da mídia pelo nome, é porque jamais ouviu alguém chamá-lo assim no ar ou durante uma transmissão esportiva. Mas com a abreviação, fica fácil.

Jota Júnior tem 42 anos de carreira. Em execelente forma, ele admite em nosso bate-papo que, na mídia, existem pessoas vaidosas e egoístas, mas nunca foi desse time. Diz ainda que, nos tempos de extrema violência em que vivemos, é prudente que o jornalista não assuma seu time de coração, pois os torcedores rivais nunca entenderiam uma atitude emocional vinda de um profissional. Ainda que o trabalho seja totalmente isento.

Hoje, o locutor da Globo/SporTV quer ensinar aos mais jovens tudo o que aprendeu com a profissão. Razão pela qual respondeu cordialmente à entrevista deste blog, que fala sobre a carreira jornalística. Abaixo, nossa conversa na íntegra e, entre as palavras, fotos que relembram novos e velhos tempos deste brilhante profissional. Confira.

Leandro Martins - Você é jornalista?
Jota Júnior - Não sou jornalista formado em faculdade, pois quando me iniciei na carreira, 1969, não havia faculdade para isso. Porém, depois, 1974, cursei dois anos em Comunicações. Tenho o registro profissional no Ministério do Trabalho como RADIALISTA.

LM - Você acredita que a faculdade prepara bem uma pessoa para o mercado de trabalho?
JJ - Acho a faculdade muito importante para a formação técnica, acadêmica, do jornalista.  Não habilita totalmente o cidadão para exercer plenamente a profissão, assim como outras faculdades em outras áreas. Apenas com o correr do tempo é que vem a aptidão completa, a experiência.

LM - Em quais empresas de mídia já trabalhou?
JJ - Trabalhei no jornal "O Liberal", de Americana, fui colaborador da extinta "A Gazeta Esportiva" e revistas periódicas. Em rádio, atuei na Rádio Clube de Americana (hoje Rádio Você), Jornal de Limeira (hoje Mix), Rádio Brasil de Campinas, Gazeta de São Paulo e Bandeirantes SP. Em televisão, Bandeirantes entre 1983 e 1998, depois SporTV a partir de 1999 até os dias de hoje.

JOTA JÚNIOR NA BAND, NOS TEMPOS EM
QUE A EMISSORA ERA "O CANAL DO ESPORTE"

LM - Como é sua rotina hoje?
JJ - Nos dias atuais fico à inteira disposição das empresas Globo, mais especialmente o canal SporTV. Cumpro escalas em apresentação de programas e transmissões externas.

LM - Já foi repórter ou sempre foi locutor?
JJ - Um pouco antes de me iniciar como locutor, narrador, eu era redator de noticias e também repórter de campo.

LM - Quando decidiu que ia ser narrador? Como foi que tudo aconteceu?
JJ - Passei a narrar quando a rádio Clube perdeu seu locutor titular e me foi dada a incumbência em Americana. Comecei ali, em fins de 1969. Apesar do improviso e das circunstâncias, desde pequeno eu almejava narrar futebol em rádio.

LM - Alguns jornalistas tornam-se amigos de fontes pela convivência. Você acredita que o jornalista ser amigo da fonte ajuda ou atrapalha o trabalho? Em que sentido?
JJ - Todo jornalista deve ter suas fontes e não vejo problemas em existirem amizades nesses casos, desde que o profissional cumpra fielmente suas obrigações éticas e morais.

LM - Em muitas empresas, existe a tradicional puxada de tapete. Você já se sentiu alvo de perseguição no meio? Ou já fizeram alguma "sacanagem" com você?
JJ - O meio da mídia é totalmente inerente à vaidade, à competição, egoísmo e etc.  Por isso, há, algumas vezes, manobras para se conseguir esta ou aquela escala, uma viagem, entre outras coisas. Nunca participei disso e se algum dia fui prejudicado, não sei. O que sei é que a minha consciência sempre esteve limpa e tranquila quanto ao assunto aqui focado.

LM - Como é cobrir um grande evento como a Copa do Mundo e as Olimpíadas?
JJ - Importantíssimo o profissional do esporte cobrir Copas, Olimpíadas e eventos internacionais, que normalmente dão muito trabalho em função dos fusos horários e das dificuldades de comunicação fora do país. Mas é um trabalho árduo, gratificante. Cobri nove Copas e três Olimpíadas.

LM - Com tantos anos de carreira, lembra-se de qual jogo narrou que mais o emocionou?
JJ - Foram muitas as emoções na carreira, poderia destacar algumas, porém realço a decisão do terceiro lugar na Copa da Argentina, 1978, Brasil x Itália, que narrei pela Gazeta de SP.  Meu primeiro jogo de Seleção dentro de uma Copa, na minha primeira Copa.

LM - Narrar outros esportes que não o futebol é mais fácil ou mais difícil para o locutor? Por quê?
JJ - Narrar outros esportes sem ser futebol é importante demais. Faz com que o profissional estude, se prepare diferentemente, diversifique. O narrador cresce na profissão sabendo comunicar em várias modalidades esportivas. É um desafio gostoso e necessário.

LM - O que faz para preservar a voz?
JJ - Procuro preservar a voz com algumas técnicas aprendidas no dia-a-dia. Não grito, não elevo o tom de voz no cotidiano, evito gelados, faço uso de gengibre e mel diariamente, apelando para um bom gargarejo momentos antes das transmissões.

LM - O que falaria para os jornalistas recém-formados que pensam que não vão trabalhar muito e nem aos finais de semana?
JJ - Todo aquele que pretende ser jornalista de rádio e tevê, agora também a Internet, precisa saber que noticia não tem folga nos fins de semana, feriados e dias santos.  Ela acontece a todo instante e os órgãos de divulgação não fecham as portas às sextas-feiras. E o jornalista faz parte dessa máquina e desse mecanismo.

LM - O que gostaria de fazer na carreira e ainda não conseguiu realizar? Que sonhos profissionais ainda alimenta?
JJ - Minhas metas, nessa altura da minha vida, são as de continuar fazendo o trabalho com responsabilidade que ele exige. Fiz muitas coisas já, como eventos internacionais, viagens, experiências novas, mas hoje torço pela garotada que está chegando, emprestando o máximo de mim para que eles cresçam profissionalmente.

LM - Você acha que um jornalista esportivo deve assumir seu time de coração?
JJ - Nos dias atuais e do jeito que a violência impera também no futebol, é prudente que o profissional não divulgue seu time do coração. Poucas são as pessoas que entenderiam tal realidade. É inteligente e saudável preservar esse "segredo". (Eu sei qual é o time do Jota, mas como ele não contou, não sou eu que vou contar! hehehe)

LM - É muito difícil narrar e ter de controlar as emoções quando seu time joga? Tem uma técnica para ensinar aos jovens que estão começando na profissão?
JJ - Controlar a emoção narrando um jogo de futebol, excluindo seu lado sentimental clubístico, é de lei para o bom profissional. É só pensar que há duas torcidas acompanhando o trabalho e que ninguém pode ser discriminado na hora do relato. Se houver "um torcedor" apenas na escuta, pertencente ao time supostamente mais fraco ou mais inexpressivo, ele precisa ser respeitado. Não é justo pender para a equipe A ou equipe B. Não é responsável por parte do comunicador.

LM - Quem são os jornalistas e/ou profissionais da comunicação que mais admira?
JJ - Admiro a muitos profissionais, contemporâneos e do passado. É arriscado citar um ou mais. São tantos.

 JOTA (C) NA COPA DE 1994, NOS EUA.
À ESQ., ELIA JR. E À DIR. ROBERTO RIVELLINO

LM - É possível conciliar família e trabalho? De que forma?
JJ - Sou casado, tenho 3 filhos e netos, minha mamãe ainda está entre nós, felizmente. É, sim, profundamente difícil ficar longe dos entes queridos. As viagens longas castigam os nossos corações e os dos entes queridos. Mas é da profissão. Precisa ser bem compreendido pelos familiares, e nesse aspecto nada posso reclamar. Sempre tive o apoio de todos eles.

LM - Deixe uma mensagem para quem pensa em seguir carreira, principalmente no jornalismo esportivo.
JJ - Minha mensagem final aos que pretendem enveredar pela carreira é simples e objetiva.  Vestir a camisa do compromisso com a verdade e do respeito a quem estiver te lendo, ouvindo ou assistindo. Não esmorecer ante às dificuldades naturais da carreira. É uma profissão que requer muita dedicação, empenho e lealdade aos princípios éticos.

Jota Júnior é das pessoas mais cordiais que atuam em uma grande empresa de mídia. Enquanto muita gente esnoba ouvintes e telespectadores ou não dá atenção a colegas de profissão menos favorecidos e que ainda buscam um lugar ao sol, Jota vai na contramão.

Extremamente cordial, sempre fala com tom pausado e sereno. Ele olha nos olhos enquanto conversa com alguém. Conheci o Jota no Estádio Bruno José Daniel, em Santo André, durante a transmissão de uma partida pela Série B do Campeonato Brasileiro em 2008. Jamais foi arrogante. Sempre atencioso. Trata todos de maneira igual e com respeito. É, realmente, uma pessoa muito distinta.

Agradeço profundamente pela entrevista e pelo carinho com a minha pessoa, meu trabalho e com este blog. Quem quiser seguir os passos do locutor, seu Twitter é @jotasportv. Sigam-me também no Twitter: @leandropress. Um forte abraço.

6 comentários:

  1. Grande Leandro! Tudo bem?

    Maravilhosa essa entrevista.
    O Jota é um "Gentleman". Dispensa comentários.

    Parabéns pelo Blog pela grande idéia que você teve de trazer assuntos dos bastidores! Cada dia está melhor! Já virei leitor fiel!


    Abraços!

    P.A.
    Paulo Arnaldo
    Canal Net Cidade

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  2. Obrigado PA! Conto sempre com sua visita! Um abração!

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  3. Olá meu querido amigo Leandro.
    Você é sempre muito competente em tudo que faz. Amei a entrevista e é tão legal cruzar com pessoas como o Jota Junior, que apesar de trabalhar em uma grande emissora mantém a humildade. Uma pessoa maravilhosa. Parabéns mais uma vez Leandro. Sabe o quanto admiro o seu trabalho e te desejo sempre todo o sucesso. Que DEUS te abençoe hoje e sempre.
    Grande beijo
    Obrigada sempre pelos toques e conselhos. Valeu!!!
    Até mais.
    Luciane Bruno

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  4. Obrigado Lu! Embora vc seja suspeita pra falar de mim! hahahaha Brincadeira, valeu mesmo pelas palavras! Um bjão!

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  5. Mais uma vez arrassou Lê... quando a gente se encontrar de novo (em breve espero) vou querer um autográfo... sou sua fã....

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  6. Hahaha, só autografo se for num guardanapo de bar... kkkkkk!

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