quarta-feira, 13 de abril de 2011

O sensacionalismo não é a espetacularização da notícia


Pelo visto, o debate sobre a cobertura do caso ocorrido no Realengo suscitou todo tipo de polêmica. Até a imprensa foi alvo de estudos e análises da sociedade. Dizem que a mídia foi sensacionalista no trato com crianças, pais e familiares dos envolvidos.

Discordo. Primeiramente, é preciso distinguir sensacionalismo de espetacularização. Segundo o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, SENSACIONALISMO é o "uso e efeito de assuntos sensacionais, capazes de causar impacto, de chocar a opinião pública, sem que haja qualquer preocupação com a veracidade". Nesse caso, a veracidade foi comprovada pelos fatos. E um fato verdadeiro que chame a atenção é notícia.

Já a espetacularização é quando existe a tentativa de prender a atenção das pessoas pela repetição exaustiva de tal fato nos órgãos de imprensa. Repito. Para mim, sensacionalismo não houve. Espetacularização, sim. Logo, vou ater-me à discussão sobre a espetacularização da notícia. É certa? Errada?

Pois bem. Todo professor de faculdade de jornalismo defende sempre que a notícia não pode ser motivo de espetáculo. Pergunto: qual o dever de uma faculdade? Formar cidadãos conscientes, mas também prepará-los adequadamente para o mercado de trabalho, na parte prática. Afinal, é para nos especializar em uma carreira que cursamos a graduação.

O que acontece quando o jornalista chega ao mercado de trabalho? Se for contratado por uma empresa grande de mídia, o chefe, quase sempre, vai obrigá-lo a esquecer todos esses princípios que aprendeu na faculdade e limitar-se aos resultados.

No caso de mídia, isso significa audiência. E se você se recusar a seguir a linha editorial e quiser discutir jornalismo com a direção da TV, adeus emprego. Pouco se discute o fazer jornalístico no trabalho.

Exatamente. No fundo, as mídias pouco se importam com as pessoas. Elas se importam com a audiência. Audiência grande significa patrocinadores que pagam mais. A espetacularização é parte do jogo. Compra a ideia quem quer.

Alguém aqui vai dizer que não grudou os olhos na TV para assistir as reportagens sobre o caso? Pois é. Você, amigo leitor, também faz parte da engrenagem. Se tem espetacularização, é porque tem plateia.
Hoje tem espetáculo? Tem, sim senhor! Bem-vindo ao clube.

E não fique surpreso com a descoberta de que você, o alvo principal do sensacionalismo, foi fisgado. Muita gente liga a TV na espera de, assim que a imagem aparecer na tela, ver, de bate-pronto, algo sobre o assunto. Não sou hipócrita. Eu também fiz isso. Pouco vejo TV aberta, mas queria entender a repercussão e o andamento do caso.

Estamos em um regime capitalista. A lei que impera é da oferta e da procura. Se não tem audiência, a TV corta o programa, muda a pauta na hora. Desde que os números do tal IBOPE subam. Logo, se ninguém visse as reportagens dos assassinatos e preferissem assistir a um canal que mostrasse uma receita de bolo, as audiências das emissoras envolvidas iriam cair e a pauta seria mudada.

Mídia é massa. Ninguém gosta de falar para a parede ou a porta. Há sim, muitas vezes, interesse mórbido do público por esses assuntos. Isso se explica. Quando se vive uma outra realidade por meio da reportagem, sente-se, em parte, chocado, mas de outro lado, bem informado. Tem assunto para discutir.

O que passa batido é que, às vezes, a vida vira novela. Parecemos estar rodeados de bandidos, mocinhos, vilões, heróis, etc. Veja o desfecho do sequestro da menina Heloá. Foi assassinada. E ainda acharam bonito o rapaz matar por amor, como em novela mexicana.

Hoje, as guerras são transmitidas ao vivo pela TV! Como se fossem jogos de videogame. Do mesmo modo como o caso no Rio de Janeiro foi superexposto, também foram a morte de José Alencar, de Ayrton Senna, o Tsunami no Japão, o caso Nardoni, o caso Bruno, entre tantos outros episódios que marcaram as vidas de muita gente.

Isso não é sensacionalismo. É espetáculo. Sensacionalismo foi o caso Escola Base, também retratado neste blog. Ali, não houve verdade e os fatos chocaram o público. Mas para a mídia, sensacionalismo e espetáculo vendem. Eu também não gosto. Enjoa ver um dia inteiro a mesma coisa. Por isso, vi com mais atenção as reportagens do Jornal Nacional sobre o Realengo.

Achei o material equilibrado e me senti bem informado. Uma boa reportagem, bem feita, bem apurada e caprichada vale mais do que um dia inteiro de blá, blá, blá. Mas fica a lição. Não confundam sensacionalismo com espetacularização. São coisas sutilmente diferentes. Forte abraço.

4 comentários:

  1. Belo post, querido Lê...
    Só vc mesmo para ajudar as pessoas a distiguirem o sensonalismo da espetacularização.
    Nota Mil....
    bjs

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  2. Amigo Lê...

    Hoje terei que concordar e discordar da sua matéria.

    É certo usar somente"tragédias" para fazer um Sensacionalismo ou Estetacularização? Não dá mais para ficar vendo Telejornais. Eles usam uma edição inteira para falar do mesmo assunto, nos forçando a ver imagens cada dia mais fortes (sangue, sangue, sangue). Mudar de Canal? Não assistir TV? Estamos falando de um público, onde a grande maioria não tem TV a Cabo e se tem, não tem a cultura de assistir outros programas no horário do Jornal Nacional, Jornal da Record e outros. Eles esperam ver notícias do Brasil, do Mundo , dos Esportes e torcem por alguma notícia de final feliz! Por isso ficam ali... e no final vem aquela sensação de tristeza, pq só viu tristeza.... isso sim é trágico.

    Úma coisa é você assitir ao Telejornal para ter notícias, se manter atualizado, algum detalhe de algo que lhe interesse... mas o dia inteiro?? Duvido que alguém goste disso!

    Mas enfim, como você mesmo disse... isso acontece porque todos somos assim, mas duvido que alguém não espera que um dia isso acabe, pois daqui a pouco não vamos mais conseguir assitir TV.

    Um forte abraço!!!

    Carol Correia

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  3. Aeeeeeee, polêmicaaaaa! Uhuuuuu! Sim, Carol, se o remédio for não assitir TV, que isso seja feito! Podemos viver sem ela numa boa. Basta buscar outros meios de informação como jornais, revistas para a classe mais pobre. Quem tem outra alternativa como tv a cabo e internet, já faz isso naturalmente. Agora o que move a tv é audiência. Desliguem os aparelhos ao ver isso o dia todo. Derrubem a audiência que as tvs mudam a pauta. Eles são mto baseados no ibope. Isso mudando, eles mudam tb. Essa é minha campanha. Sim, eu disse lá no final tb que ver o blá blá blá o dia todo cansa. Não concordo com essa espetacularização. Eu enjoo. E desligo a TV e vou ler um livro! Se td mundo fizesse isso, além de uma sociedade mais culta, ainda teríamos cidadãos capazes de mudar a pauta das emissoras.

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  4. Eeeeeeeeeeeexatamente!

    Espero que um dia consigamos chegar lá... Eu faço a minha parte!

    Grande beijo, meu amigo

    Carol Correia

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