segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A demissão de Flávio Gomes da ESPN e a relação entre as empresas de mídia, os funcionários e as redes sociais


Depois da poeira ter baixado, hora de comentar aqui no blog sobre um assunto polêmico. No início deste mês, os jornalistas Flávio Gomes e Arnaldo Ribeiro foram demitidos da ESPN, emissora por assinatura segmentada em esportes.


Em seu perfil no Twitter, Flávio Gomes (foto acima) fez uma postagem, logo após a derrota da Portuguesa (seu time de coração) para o Grêmio, por 3 a 2. A Lusa estava na zona de rebaixamento no Campeonato Brasileiro da Série A e a derrota foi dura. Veio no fim do jogo, após a marcação de um pênalti extremamente duvidoso em favor do clube gaúcho pelo árbitro Jailton Macedo Freitas. Até então, o duelo estava empatado por 2 a 2.

"Irritado com a marcação do pênalti, Gomes disparou contra o time gaúcho em sua conta pessoal no Twitter e prontamente começou a receber críticas e xingamentos por parte dos gremistas."

"O Grêmio é um time filho da ***. Ridículo. [...] Juiz vagabundo, timinho escroto desde 1903. São muito machos no Sul. Mas adoram dar a ***", escreveu.  Também comentarista da ESPN Brasil, Arnaldo Ribeiro (foto abaixo) foi outro a criticar a marcação do pênalti, citando até mesmo um eventual favorecimento ao clube. "Por favor. Monitorem ligações de Fabio Koff e cia para comissão de arbitragem e CBF nos ultimos dias. #vergonha", escreveu o jornalista." (os trechos entre aspas foram extraídos do portal UOL)


Ainda segundo a reportagem publicada no UOL, o diretor de jornalismo da ESPN Brasil, João Palomino (foto abaixo), disse que "as opiniões não refletem em nada o pensamento dos Canais ESPN. Existe orientação interna para o bom uso das redes sociais." Então, cabe uma reflexão sobre o que seria o tal bom uso das redes sociais. É isto que o post vai discutir.


Vamos lá. Primeiramente, é preciso distinguir bem as duas redes sociais mais conhecidas do grande público: Twitter e Facebook. O Twitter é uma rede quase de mão única. Os comentários acontecem numa velocidade muito grande e não ficam muito visíveis a todos. Normalmente, quem é seguido no Twitter é porque já é conhecido longe da internet. São, via de regra, atores, jornalistas, artistas de TV, jogadores de futebol, humoristas, empresas, marcas, prestadores de serviços e até perfis assumidamente fakes das referidas celebridades.

Pessoas comuns como eu ou você, amigo leitor, não têm milhares de seguidores, o que torna o Twitter um meio de comunicação mais truncado para uma conversa mais próxima. Isso é o que proporciona o Facebook, no qual há álbuns de fotos e os comentários são mais visíveis e em espaços demarcados, criando um debate e uma relativa proximidade também com a pessoa fora da vida profissional, mais perto do cotidiano familiar.

Porém, ambos se encontram em um ponto comum. As duas redes significam exposição pública. Logo, todos nós, em potencial, somos pessoas públicas hoje na era da informação e da sociedade digital. O que exige da gente postura e educação. Por isso, muitas empresas, ao realizarem testes para seleção de vagas, observam os perfis dos candidatos na internet.

Se o cidadão é mal educado na rede social, tem uma grande possibilidade de ser também na vida real, já que, hoje, a internet pode ser considerada uma extensão da nossa vida física. Ou seja, são atitudes que podem comprometer a carreira profissional de alguém mesmo antes dela ter começado. Bom relacionamento interpessoal é fundamental em qualquer emprego e empresa.

Flávio Gomes, por mais autêntico que tenha sido, extrapolou o bom uso das redes sociais recomendado na política interna da empresa para a qual trabalhava. Ele rebateu assim, na reportagem do UOL: "É inocência achar que ninguém brinca com o futebol. A gente brinca, xinga... Tenho certeza que o presidente do Grêmio algum dia já falou "o Inter filho da p...'. Eu lamento que a brincadeira no futebol corra risco de acabar por conta dessas reações. Já fiz várias brincadeiras que foram muito bem recebidas", completou.

Acho que "brincadeira" aí não é a palavra certa. Foi extrapolação mesmo. Senão, banaliza. Vira desculpa para qualquer coisa. "Olha, te xinguei de filho da p..., mas eu só estava brincando viu." Flávio Gomes explodiu. Foi torcedor. Nada contra, não fossem os palavrões. Aliás, o próprio jornalista se refere aos seus seguidores como "merdinhas" em suas redes sociais.

Já no comentário de Arnaldo Ribeiro, vi mais um tom denunciativo (que merecia ser apurado) do que ofensivo. Não o demitiria. Considero ambos muito bons jornalistas. Mas o episódio serve de alerta para aqueles que ainda não entenderam a repercussão, as aplicações e o funcionamento das redes sociais. Cada perfil da rede é como um pequeno canal de televisão, pelo qual seus telespectadores representam sua audiência e podem acompanhar e seguir sua vida.

Quem o segue porque o viu na TV, segue para acompanhar suas opiniões profissionais, seu ponto de vista baseado em fatos. E não palavrões e xingamentos. Portanto, de certa forma, seu "telespectador" espera que você seja "profissional" também na rede social. Você acaba sendo a cara da empresa na qual atua, mesmo possuindo um perfil particular. Por isso, independentemente de qualquer recomendação da empresa para a qual você trabalhe, faça bom uso das redes sociais. Ao registrar um perfil na internet, você passa a ser uma pessoa pública. E toda pessoa pública deve medir bem suas atitudes. Sem isso, o sentido se perde. A essência se esvai. Um forte abraço.

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