quinta-feira, 6 de junho de 2013
Como receber uma má notícia e não perder o foco no trabalho: a separação entre pessoal e profissional
Na última terça-feira, fui submetido ao maior desafio profissional da minha carreira. Não se trata de um novo trabalho ou uma experiência inusitada, mas sim de um baque. A TV Câmara Guarulhos transmite, ao vivo, as audiências públicas da Lei de Diretrizes Orçamentárias, conhecida como LDO.
São debates que indicam como a administração municipal, segmentada nas suas várias secretarias de governo, deverá aplicar os recursos do orçamento da cidade. Nosso papel é o de mostrarmos flashes ao vivo, com entrevistas com vereadores e secretários e com resumos que ajudem o telespectador a entender o que está acontecendo nas conversas (foto ilustrativa).
Pois bem. Nesta terça eu estava encarregado de cobrir as audiências da parte da manhã. Por volta de 9h30, recebi um telefonema de minha esposa. Ela me comunicava que sua avó havia falecido. Apesar de estar doente, foi de modo repentino, de parada cardiorrespiratória, em casa.
Eu tinha o maior carinho pela Dona Neusa. Mas ela estava com 83 anos, não enxergava mais, tinha enormes dificuldades para andar e respirar em decorrência de doença pulmonar crônica. Estava cansada, estafada de ficar aqui. Merecia repouso e descanso.
Apesar de tudo isso e de já estar preparado há algum tempo para este dia, a notícia caiu como uma bomba. É impressionante como, na morte, por mais que estejamos preparados espiritual, emocional e psicologicamente, na hora em que acontece, nunca sabemos o que fazer. Para completar o cenário, eu ainda tinha pelo menos mais três entradas ao vivo para fazer.
Repito: foi o maior desafio da minha relativamente curta carreira profissional até hoje. Tive de absorver o impacto e focar em meu trabalho para terminá-lo da melhor forma possível. Concentrei-me ao máximo e concluí os flashes e as entrevistas. Depois disso sim, permiti-me chorar feito criança e fui correndo ao encontro da minha esposa para tentar dar-lhe colo e um pouco de conforto.
Não é fácil separar pessoal e profissional, ainda mais com algo tão doloroso como a perda de um ente querido. E como televisão tem imagem, a tarefa torna-se ainda mais complexa, já que é possível ver nos olhos das pessoas quando mudam de humor e de expressão. É possível notar em olhos alegres o brilho e em olhos tristes a opacidade, ao mesmo tempo em que ficam marejados. E isso é ainda mais complicado para pessoas extremamente emotivas e transparentes nos gestos e atitudes como sempre fui.
Ainda assim, fiz meu trabalho e depois deixei a emoção aflorar. É preciso também permitir que a emoção transborde. Não faz bem a jornalista nenhum e a qualquer ser humano guardar e reprimir os sentimentos. Isso pode contribuir para provocar doenças cardíacas, inclusive.
Tenho nove anos de carreira profissional. Foi meu maior desafio até hoje em termos humanos. Expressar as palavras na TV é fácil. Basta treinar e você aprende a fazer programa ao vivo ou gravado, dialogar, debater, discutir, persuadir, usar a retórica, driblar convidados que falam exageradamente muito ou pouco, sair de saias justas. Mas jamais é possível "enganar" os sentimentos e deixá-los de canto.
Acredito que passei bem por este desafio. Mas, honestamente, espero que não aconteça nunca mais. Se for para receber má notícia, melhor que esteja em meu lar, ao lado da minha família. Mas, fica a lição. Mais uma aprendida na marra. Mais uma que Deus e a natureza me proporcionaram.
Em nossa profissão, é preciso saber sempre separar o profissional do pessoal, o emocional do objetivo, o subjetivo da informação precisa, o juízo de valor da descrição exata. Aprendi, no susto, a separar, mais do que nunca, o MEU profissional do MEU pessoal. Que a querida Dona Neusa tenha a luz em seu caminho, seja confortada por parentes e siga sua trajetória ao lado de Deus.
Que a família da minha sogra, Terezinha, com meu sogro, Luiz Antonio e minha cunhada, Melise, tenham força, fé e coragem para superar este momento. À minha esposa, Emile, dou todos os dias meu amor mais sincero e meu colo para que ela possa se reerguer. E a você, amigo leitor, que hoje leu um post recheado de percepções humanas e sentimentais, mais do que jornalísticas, fique na paz do Senhor. Um forte abraço.
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