terça-feira, 15 de abril de 2014

A falha técnica fingida por Boris Casoy


No último dia 10, o experiente jornalista Boris Casoy, âncora do Jornal da Noite, da Rede Bandeirantes, passou por uma saia justa.

TV ao vivo é sempre uma caixinha de surpresas. Tudo pode acontecer. O cenário pode desabar, a luz pode pifar, a exibição do VT pode travar, o GC pode entrar errado, o áudio pode desaparecer, o apresentador pode desmaiar, ter dor de barriga, ter pigarro... Só não pode ficar nervoso!

Para explicar o caso de Boris, vou usar alguns trechos entre aspas do site Portal da Imprensa, que publicou um texto sobre o ocorrido. Depois da exibição de uma reportagem ou nota coberta, a imagem mostra o apresentador na bancada. Esperava-se que Casoy fosse ler uma outra notícia ou então chamar o intervalo.

Porém, algo muito sério deve ter acontecido na parte técnica. Na verdade, muita coisa movimenta um jornal. No ponto, você ouve a voz do diretor. Os cinegrafistas se mexem o tempo todo. Um cronômetro indica o horário e quanto tempo falta para acabar as reportagens exibidas e até mesmo o jornal. É muita informação ao mesmo tempo.

Fato é que, ao retornar da tal notícia ou nota coberta, o apresentador ficou estático, imóvel, mudo! Não sabia o que fazer. Ele, então, depois de longos oito segundos, que, em TV, representam uma eternidade em saias justas, começou a mexer a boca, como se estivesse falando algo, porém sem som. Boris fingiu uma pane no áudio e usou a técnica de "mastigar" para que os operadores pudessem cortar para o intervalo. Veja aqui o vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=XKLQ0VZMfQ8

Ele mesmo explica melhor o que houve ao Portal da Imprensa.

"Deu uma pane generalizada, uma pane grave. Eu não tinha o que falar e abriram [as câmeras] para mim. Estava tudo muito confuso, estava um vendaval na técnica. Então eu mastiguei para eles cortarem, pensarem que meu microfone não estava funcionando. Na hora, me veio esse recurso de mastigar. Não foi uma gafe, foi de propósito. Eu não enganei as pessoas, porque não menti, enganei a técnica", disse.

"Depois de fazer alguns gestos com a boca, o jornalista pensou que seu áudio já havia sido cortado na ida para o intervalo do noticiário e soltou no ar: 'Fingi que acabou o som. Quando você começa a fazer um jornal, você tem um tempo, um relógio que mostra quanto tempo você já fez e quanto tempo falta para acabar. De repente, o tempo enlouqueceu e o meu som no estúdio desligou'".

Ou seja, aconteceram muitas coisas ao mesmo tempo, o que, sem dúvida, acabou com a concentração de Casoy. No entanto, macaco velho que é, e, ao vivo no ar, com cara de "ué" para todo o Brasil, pensou rápido e teve uma saída criativa e inteligente. Ninguém perceberia nada, não fosse ele mesmo falar que fingiu que o som tinha pifado, na ida para o intervalo. Faltou apenas ter segurado a voz até entrar o comercial (break).

Mas é algo altamente compreensível, já que, àquela altura, a ansiedade para se comunicar com a técnica e os diretores no switcher deveria ser imensa. Honestamente, Boris foi ligeiro e pensou numa saída que pudesse causar o menor problema possível para todos. Inclusive para ele já que, qualquer palavra dita em rede nacional, dá uma repercussão gigantesca na mídia e nas redes sociais.

Às vezes, durante a exibição de um telejornal, ele continua sendo produzido. Por exemplo, se alguém importante morre ou acontece algum acidente, isso tem de ser noticiado na edição que está em curso. Logo, é preciso "derrubar" alguma reportagem para, no mínimo, dar uma nota sobre o assunto.

Às vezes, o tempo do jornal também deve ser encurtado por conta da programação. Logo, há mudanças importantes na ordem das laudas a serem lidas e na exibição ou não de determinadas reportagens. É uma loucura, de fato. Correria, tensão imensa, adrenalina. Concentração acima da média. Qualquer falha pode ser fatal.

Para mim, Boris Casoy foi muito bem. Raciocinou rapidamente e conseguiu uma saída das mais interessantes. Não fosse o afã de se comunicar com o switcher, não teria vazado o som dizendo que ele simulou a queda no áudio e ninguém teria comentado a atitude do âncora.

Já passei por algumas saias justas. Recebi convidados que falavam pouquíssimo ou gaguejavam de tão nervosos, mesmo tentando deixá-los à vontade. Já passei por queda de energia, por cortes na transmissão. Meu teleprompter já travou, já derramei água no estúdio e parte do cenário já caiu enquanto eu apresentava programa.

Faz parte, acontece. O que as pessoas observam é como você se sai nestes infortúnios. Querem ver sua capacidade em lidar com adversidades, em situações de extremo embaraço ou extrema pressão. Boris teve inteligência e elegância. Confesso que eu não teria pensado em tal saída. Agora, já tenho um modelo a mais para usar quando coisas assim acontecerem. Um forte abraço.

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