segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Os jornais impressos não podem mais ser factuais


Todos os anos, sempre ouço muitos professores e estudantes de jornalismo falarem que o jornal impresso vai acabar. De fato, hoje a internet arrebanhou quase todo o público que ainda lia as linhas no papel jornal. Papel este que, depois de lido, é usado para embrulhar frutas e peixe nas feiras, ou mesmo como toalete para os bichinhos de estimação das pessoas.

Pois bem. O jornal impresso vai acabar sim. Mas, somente se não mudar a maneira de noticiar os fatos. A foto que abre o post é do jornal Destak, versão de São Paulo. Na terça-feira passada (26/11), a diretoria do Palmeiras reuniu-se com o técnico do time, Gilson Kleina, para definir sua permanência ou não no clube para 2014.

A reunião durou muitas horas e o anúncio veio praticamente à meia-noite da terça para quarta-feira. O treinador permaneceria no clube. Muitos jornais impressos não acompanharam a reunião até o fim, talvez por conta do horário de fechamento (principalmente por causa das gráficas, no caso do impresso). Resultado: no jornal Destak, saiu a nota que você, amigo leitor, vê na abertura deste post. O texto dizia que Kleina não deveria ficar no Palmeiras no ano que vem.

Quem já sabia da notícia via internet e leu este texto no dia seguinte, viu o tamanho do erro que o jornal cometeu. Apesar das notícias negativas que vinham correndo nos bastidores do clube sobre a renovação de Kleina com o Palmeiras, ele permaneceu. Calou a boca de muitos jornalistas e praticamente deu às linhas de alguns jornais (como o Destak) o status de nulidade. O "Destak" mesmo, ficou para o erro cometido.

Culpa do jornal? Parte sim, parte não. O editor tem horário para mandar o caderno para a gráfica. Não podendo (ou querendo) esperar pelo desfecho da reunião entre diretoria e treinador, ele "chutou" o resultado. Bola fora. Esta é a "parte não" da culpa. Pelo menos, o editor poderia ter preenchido o espaço com outra notícia, já que não tinha certeza do desfecho do fato envolvendo Kleina e o Palmeiras. Não pegaria tão mal.

A "parte sim" pela culpa do jornal (e isso cabe a todos os jornais impressos), é a constatação de que a fórmula de dar notícias factuais está completamente ultrapassada. Para isso existe a internet, com seus sites, blogs e redes sociais, que impulsionam hoje qualquer notícia (e, muitas vezes, boatos também). Jornal impresso nos dias atuais deve ser mais analítico, com textos mais densos. A notícia já foi dada, mas, com certeza, poucos veículos fizeram uma análise mais aprofundada dos fatos.

Conteúdo apenas para encher página é uma prática abominável e ridícula. Não engana mais ninguém. O jornalismo impresso precisa hoje de textos mais literários, com mais cultura geral. E, para isso, é preciso contratar colunistas. Bons, diga-se de passagem. E eles custam caro. Enquanto uma nota de Esportes pode ser extraída de uma agência, o texto opinativo e analítico precisa de uma cabeça pensante para ocupar espaço no jornal.

Mesmo com o custo mais caro, entendo que essa é a saída adequada para que o jornal impresso não se transforme apenas em papel de feira ou sanitário de animais. Ninguém mais lê notícia factual no jornal. O fato está on line. O jornal precisa de análise, profundidade, textos bem acabados, bons colunistas e literatura. Caso contrário corre, sem sombra de dúvida, o risco de acabar. Um forte abraço.

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