segunda-feira, 19 de agosto de 2013
O "duelo" entre ex-jogadores de futebol, jornalistas e a inversão de valores da mídia
Já escrevi sobre isso aqui no blog outras vezes mas, diante de acontecimentos recentes, é necessário abordar novamente este assunto. Infelizmente, a mídia vive hoje uma inversão de valores muito grande. Os proprietários dos meios de comunicação só enxergam cifras, sem se importar tanto com conteúdo e credibilidade.
Quando vão "contratar" alguém, pedem que o "contratado" leve consigo um patrocinador que ajude a pagar seu salário. Isso ocorreu recentemente com um colega meu, ex-árbitro de futebol. Uma grande emissora de rádio o contactou e o convidou para ser comentarista, desde que ele trouxesse um patrocínio de 40 mil. Ele ficaria com 12 e o restante seria para a emissora. É o fim dos tempos!
Nesse embalo, com o argumento de que a emissora deveria conter gastos, a Rádio Bandeirantes, há pouco tempo, demitiu seu melhor comentarista esportivo, o jornalista Mauro Beting, que tanto defendeu o veículo com unhas e dentes e sempre se mostrou apaixonado pelo que faz.
Alguns boatos disseram que Mauro Beting tinha um alto salário e, na rádio, só poderia permanecer um: ele ou o comentarista Neto (à direita da foto que abre o post). Para mim, o Neto é um boçal. Sempre disse isso aqui. Não sabe falar, não sabe se colocar, comenta mal pra caramba. Mas teve uma atitude muito digna ao abrir mão de seu cargo e colocá-lo à disposição para que Mauro permanecesse.
Continuo não gostando do comentarista Neto, mas, nessa atitude, mostrou nobreza e consciência. Diante da repercussão do caso, a Bandeirantes trouxe Mauro Beting de volta, um dia depois da demissão. Assim, fica evidente a inversão de valores.
Gabaritado que é, Mauro Beting merece ganhar um bom salário. É polido, educado, sabe colocar as palavras e comenta muito bem. Ganhou inúmeros prêmios pelo trabalho que desempenha. Mas, acredito que, por ser jornalista, não traga patrocínios e anúncios para a emissora. Nem é mesmo esse o papel do jornalista. Ele deve ser isento, sem se envolver em questões empresariais e ter a liberdade de criticar quem quiser e como quiser (jogadores envolvidos com a empresa X ou Y, por exemplo).
Neto, ex-jogador, ídolo de uma das maiores torcidas do país, segundo os proprietários da emissora, teria mais apelo, mais marketing, mais condições de atrair investidores. Olhando assim, friamente, você poderia dizer que o jornalista dá prejuízo (não traz dinheiro e ganha salário) enquanto o ex-jogador dá lucro (traz dinheiro e, de certa forma, paga seu próprio salário).
Mas os proprietários deveriam se importar mais com a credibilidade. Nada melhor do que ter a credibilidade do jornalista, isento, que fala corretamente a Língua Portuguesa, que tem preparo para comunicar, para empunhar um microfone ou redigir um texto. Não pensam assim. Os donos dos veículos preferem dar ao público qualquer coisa para que ele engula.
Assim foi, há algum tempo, o programa Debate Bola (foto acima), na Rede Record, apresentado por Milton Neves. O programa tinha até caixão para enterrar os clubes, era demasiadamente circense. As piadas prevaleciam. Não tinha uma análise séria e bem feita. E não tinha um ex-atleta sequer comentando, diga-se de passagem. Mas era uma porcaria da mesma forma.
Um de seus ex-comentaristas, Paulo Roberto Martins, apelidado de Morsa por Milton Neves, disse, em entrevista ao portal UOL, que, na TV aberta, o telespectador não quer saber de tática. Quer saber apenas se o time está jogando bem ou não. Balela!
Com todo respeito que tinha ao comentarista quando estava na Rádio Globo e hoje está na Rádio Transamérica, ele não é ninguém para determinar o gosto do telespectador. As emissoras não podem dar ao público qualquer coisa para que ele engula e pronto. Está errado! As emissoras devem oferecer programas de qualidade, com análises aprofundadas e informar bem o telespectador. É muito mais fácil acostumar-se às coisas boas do que às ruins.
Logo, se as emissoras abertas oferecessem também programas educativos, as pessoas iriam habituar-se a assistir a conteúdos com boa qualidade. O comentarista esportivo Paulo Calçade, hoje nos canais ESPN, disse que, na Record, não faziam jornalismo esportivo e sim chacotas. Ele também foi comentarista do programa Debate Bola.
Paulo Vinícius Coelho, comentarista dos canais ESPN e um dos mais respeitados do Brasil, chegou a receber uma proposta da emissora que, na época, diziam ter oferecido o triplo do salário que ganhava. Ele não aceitou, pois sabia que não havia um planejamento para poder desenvolver um trabalho de maneira decente. Ou seja, esta é uma situação que incomoda os próprios jornalistas que gostam de trabalhar de modo pleno.
Nos Estados Unidos, os ex-atletas são astros e também são contratados pelas emissoras de TV. Mas as vagas dos jornalistas são asseguradas ao lado deles nas transmissões. Este é o modelo que sempre defendi aqui. Um ex-atleta com um jornalista. As visões são complementares e ambos contribuem de formas diferentes para se fazer uma boa transmissão. Mas, para economizar, as empresas optam por apenas um: o ex-atleta, que ainda pode trazer alguma grana. Aí fica o lixo que está hoje e o mercado piora cada vez mais.
Infelizmente, não acredito que os empresários vão rever essa postura. Pior para o público, que só tem a perder. Meu conselho: evite assirtir TV aberta. Se não tiver condições de pagar uma operadora de TV por assinatura, leia jornais on-line que informam muito melhor do que esses programas rasos das emissoras abertas. Não dê audiência a quem trata você como um ser incapaz de absorver bons conteúdos. Um forte abraço.
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O que tem que haver é qualidade, canso de ver comentaristas que não sabe quantos lados tem a bola e querem dar lição ou mesmo reinventar a modalidade, passando por ridículo. Também colocar um ex-jogador desbocado para atrair audiência é pura burrice, portanto tem que ter qualidade SEMPRE.
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