Alguns casais dizem que seus pares foram feitos um para o outro, como verdadeiras almas gêmeas. Pois bem, eu acredito que fui feito para o jornalismo, e o jornalismo, para mim. Desde meus oito, nove anos, já sonhava em ser jornalista. Gostava de observar a reação das pessoas diante de alguma novidade (que ouvia no imediatismo do rádio e ia contar para meus pais e irmãos). Quando ouvia algo no bairro então, que era uma notícia "original", ficava inflado para contar à minha família, amigos e parentes.
Ainda nesta época, adorava ler gibis e os quadrinhos que vinham no caderno Cultura & Lazer, do Diário do Grande ABC, que meu pai sempre comprava aos domingos. Aproveitei meus conhecimentos jornalísticos e, por volta dos dez anos, fiz um jornalzinho de bairro, em folha sulfite e com um monte de desenhos. Coisa de criança, claro. A coisa mais tosca que já vi na vida. Mas faz parte de nossa evolução não é?
Com 12 anos, comecei a ter um contato mais estreito com o futebol. Minha família sempre acompanhou o esporte mais popular do Brasil e eu não fui diferente. Como naquela época (1992) não havia internet nem TV por assinatura e as emissoras não podiam transmitir os jogos na capital diretamente nos canais abertos, eu acompanhava os jogos pelo rádio (aliás, até hoje, muito mais emocionantes do que pela TV).
Ouvia as partidas pela Rádio Globo, com o gênio Osmar Santos, seu irmão Oscar Ulisses, Luiz Roberto de Múcio, hoje na TV Globo, Paulo Soares, hoje na ESPN, Vanderlei Ribeiro (todos locutores). E um timaço de repórteres como Osmar Garraffa, hoje na TV Gazeta, Carlos Lima, hoje na ESPN, Romeu César, José Khalil, hoje na Rádio Transamérica. No comentário, Paulo Roberto Martins, também hoje na Transamérica e o saudoso Luiz Augusto Maltoni. No plantão, Silvio Filho (irmão do locutor Alexandre Santos) e Domingos Machado.
Esse time espetacular me fez ter a certeza de que queria ser jornalista, principalmente para me dedicar ao esporte. Com mais ou menos 13 anos, fiz um jornal mural para a escola, onde noticiava também os resultados do campeonato interno de futebol, do qual eu participava. Os donos da escola gostaram e depois eles mesmos passaram a fazer, neste modelo, o jornalzinho oficial da instituição.
Após me formar no Ensino Médio, prestei vestibular para jornalismo em apenas duas universidades. ECA-USP e UNESP, ambas públicas. Passei nas duas e escolhi ficar em São Paulo, na Escola de Comunicações e Artes. Foi o maior erro da minha vida até hoje, do qual me arrependo profundamente.
A verba para a universidade de ciências humanas ou era pouca ou desaparecia. Os prédios eram velhos e cheios de insetos (nem sei se faziam dedetização). As aulas, essencialmente teóricas. Parte prática mesmo quase nula. Estúdios de rádio e TV retrógrados, quase sempre quebrados e quando havia uma máquina fotográfica para as pautas de impresso, era um milagre.
Agüentei dois anos e meio e tomei uma decisão radical. Pedi transferência para a Metodista. Mais perto de casa, com ótimos laboratórios de aula prática e a possibilidade de poder me aperfeiçoar para o mercado de trabalho com bons equipamentos. "Maluco" foi o adjetivo mais leve que ouvi de meu pai. Estudar na ECA foi uma decepção. Você estuda, se esforça para passar num vestibular hiper concorrido e a qualidade de uma universidade com o nome da USP era lamentável (ao menos, à época).
Saí de lá muito triste. Por isso, sempre digo aos estudantes de Ensino Médio em palestras e encontros de informação profissional que o nome da universidade não significa nada. Para que um estudante de qualquer área consiga boas colocações no mercado de trabalho, é preciso que 50% venham da universidade (bons professores, estrutura adequada para ensino, bons laboratórios, etc) e 50% venham dos alunos (que não tenham preguiça, sejam esforçados, leiam bastante, etc).
Pois bem. Como a Metodista tinha uma grade muito diferente da USP, tive de recomeçar a faculdade do zero. Ou seja, fiz seis anos e meio de graduação. Durante meu tempo de aluno, estagiei na Rádio ABC. Mas fiquei apenas duas semanas. Não gostei do trabalho. Apenas lia algumas notícias do jornal da manhã e da tarde, por telefone, sendo que estávamos no estúdio. Achei que era uma prática que não contribuía em nada com minha formação profissional.
Não íamos nem fazer reportagem nas ruas, sendo que o dever do repórter é investigar, entrevistar as pessoas olho no olho. A maioria das intervenções eram feitas por telefone, no estúdio. Desencantei-me e pedi para sair, apesar de ter deixado lá alguns amigos, como o Diretor Anderson Afonso e a jornalista Janete Ogawa. Fui para o núcleo de televisão da Metodista, onde ganhava meia bolsa (coisa de 350 reais na época).
Pelo menos, sabia que, em televisão, como é preciso apoiar-se em imagens, não havia outra alternativa senão fazer entrevistas e reportagens nos locais onde as notícias acontecem. Fiz algumas matérias para o jornal local e também passei a apresentar um programa de entrevistas chamado Tema Livre. Uma das minhas coordenadoras, a professora Rose Castro, descobriu minha veia de apresentador e passei a dedicar-me aos programas de estúdio.
Na época, acabei me inscrevendo também para ser voluntário do Canal ABC 3 (hoje NET Cidade) para integrar a equipe do programa Lente Esportiva. Fiz algumas reportagens e acabei depois apresentado o programa por quase dois anos, substituindo a então revelação que comandava a atração, Paulo Andrade, que tinha passado pelo SBT e hoje é narrador nos canais ESPN. Beto Kerr, gerente de programação dos canais locais, foi quem apostou em mim.
Conquistamos a maior audiência da casa. Simultaneamente, deixei o núcleo de TV da Metodista e fui contratado pelo Hoje Jornal (agora integrante do grupo Hoje Livre) para escrever na editoria de esportes. Foi bom, treinei meu texto e aprimorei meu estilo, embora o pagamento sempre atrasasse no fim do mês e não era registrado com carteira assinada.
Fiquei lá quase um ano. Sai do Hoje em 2007 e do Canal ABC 3 em 2008. Na sequência, fui contratado como free lancer pela TV + para cobrir as eleições municipais nas cidades do ABC, pelo grande amigo e jornalista, Gustavo Baena. A cobertura rendeu grande repercussão na região. Acabei sendo contratado, pouco depois, pela emissora, para ser redator dos programas do núcleo artístico, no qual aprendi a importância do entretenimento na TV. Tive um excelente líder. Baena já passou por Bandeirantes e Rede TV! Aprendi demais com ele.
Ainda em 2008, por causa da minha paixão pelo esporte, idealizei e fundei o programa Esporte na Rede, pioneiro em web TV, na UPTV. Agradeço imensamente, até hoje, aos amigos Lucky Ravaneli (falecido em 2011) e Liliana Gonçalves, diretora da TV.
Inauguramos o programa e as transmissões da emissora no mesmo dia, em 6 de maio daquele ano. O programa é semanal, tem uma hora de duração e vai ao ar pelo site www.uptv.com.br, toda terça-feira, às 20h. Completamos agora, recentemente, cinco anos e meio no ar e mais de 190 edições. O projeto cresceu. Temos audiência no Brasil todo e também fizemos um site próprio (www.esportenarede.org), onde nosso fiel teleinternauta pode assistir às edições anteriores, acessar nosso blog e nosso perfil no Facebook.
Mas eis que num dia, no fim de 2009, quando voltava do dentista, meu ex-professor de TV na Metodista, Valdir Boffetti, ligou-me e me fez um convite para assumir a liderança de um projeto que começava em Guarulhos, vinculado à prefeitura local. A produtora Lumiar Multimídia tinha sido designada para elaborar um programa semanal, jornalístico, informativo, feito apenas com reportagens (sem apresentador). A intenção era mostrar à população a atuação do Executivo no município. Assim, retratávamos oficinas, obras, gente do povo, ações sociais gratuitas, serviços de utilidade pública, etc.
Eu era o editor-chefe. Revisava e finalizava textos, tinha autonomia para cortar e incluir partes de reportagens, etc. Enfim, era responsável pelo que ia ao ar. Aprendi demais com Valdir e meus outros chefes, Carioca (Erick Vieira) e Goswin Juchem. Aprendi a entender algo que sempre detestei: política.
Sempre odiei jornalismo político e ainda hoje, mesmo trabalhando com isso, não gosto muito. Porém, com meus ex-chefes, aprendi trâmites, aprendi a sair de situações embaraçosas, aprendi a ter paciência e jogo de cintura e aprendi que a política também tem seu lado bom, embora realmente seja um constante jogo de interesses em que sempre algumas poucas pessoas ganham e outras são enganadas.
Fui muito feliz na Lumiar. E veja como é o destino. Eu que sempre amei esporte e odiei política, hoje vivo do jornalismo atrelado à segunda opção e me realizo, uma vez por semana, com meu programa que, por falta de incentivo e patrocinadores, ainda não me deu retorno financeiro.
Antes de ir para a Lumiar, fiz testes para trainee na TV Bandeirantes. Cheguei à última etapa, para ser entrevistado pelo gestor da área escolhida: esporte. Mais um arrependimento. O cidadão, chamado Carlos Gomes, sequer olhou na minha cara, fez uma entrevista de pouquíssimos minutos e, pelo visto, já devia ter alguém indicado para a minha vaga.
Depois, algumas línguas disseram-me que esse cidadão usava do seu poder para sair com garotas e depois dar emprego a elas. Também tive um professor na faculdade que fazia isso. Se foi verdade ou não, não sei, mas que a atitude foi suspeita, isso foi. Apenas ouvi tal história de algumas pessoas.
Também fiz provas para ingressar na TV Cultura, mas outras línguas disseram-me que também já havia pessoas indicadas. Ou seja, talento no jornalismo é importante. Caráter, ética, a busca da verdade, da precisão e da objetividade. Tudo isso faz um jornalista ser muito bom. Mas a meritocracia não tem muito espaço. As indicações valem mais do que a competência. O jornalista esportivo Roberto Avallone também disse isso a uma entrevista ao portal UOL. Uma pena.
Em 2011, revoltado com essas situações, fundei este blog para expressar opiniões, sentimentos e transmitir minhas experiências sobre essa profissão tão encantadora, complicada, sofredora e injusta que é o jornalismo. Porém, gratificante.
E você, amigo leitor, é prova do que estou dizendo. Em pouco tempo, alcancei quase 112 mil visitas reais. Algumas pessoas, através do blog, vieram me pedir conselhos profissionais e outras até deixaram a profissão que desempenhavam para tentar a sorte no jornalismo. Felicidade maior para um blogueiro não poderia haver.
Em janeiro do ano passado, após pouco mais de três anos na Lumiar, passei em concurso público e hoje sou apresentador e repórter na TV Câmara Guarulhos. Portanto, continuo na política. Mas estou feliz. O trabalho é bem interessante e envolve reportagens para o jornal e apresentação de programas com os vereadores no intuito de mostrar como é o funcionamento do Poder Legislativo.
Simultaneamente, continuo na apresentação do Esporte na Rede, que busca também expansão para outras emissoras a fim de ser reconhecido nacionalmente como um programa de ótima qualidade e conteúdo, bem ao contrário do que se vê na TV aberta.
E como jornalista é um ser inquieto (este é o título do blog, inclusive), decidi ainda procurar mais sarna para me coçar. Fundei a LM Comunicação, empresa individual pela qual ofereço cursos de Oratória, Mídia Training, Apresentação em TV e ainda ofereço serviços de Mestre de Cerimônias em eventos.
Para os primeiros 10 anos, acho que está de bom tamanho! Só agradeço a Deus todos os dias por ter conseguido realizar meu sonho de ser jornalista e por conseguir sustentar minha família com esta profissão tão maluca, porém muito gratificante para quem ama o que faz como eu. Espero que eu possa ter mais dez, 20, 30 anos de carreira e que eu continue sempre fazendo grandes amigos como os que tenho hoje.
Que possa desfrutar mais de momentos bons do que ruins, como também tem acontecido comigo. Muito obrigado também a todos que acompanham meu trabalho e que dedicam algum tempo para ler este blog, ver meus programas na TV e na internet e que agora procuram a LM Comunicação. Sucesso a todos nós!
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É Lê o caminho pode ser longo, cheio de altos e baixos, mas quem luta e merece sempre chega aonde deseja. Vc é um vencedor e continuará conquistando muito mais sucesso. Vc é um excelente profissional e me orgulho de ter vc como amigo. Uma pessoa q respeita o próximo e apoia cada amigo. Vc é especial e te desejo mais e mais sucesso. Que Deus ilumine os seus caminhos e te ajude na realização de seus sonhos. Bjs. Luciane Bruno
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