A internet veio mesmo para mudar muitas coisas. Inclusive, a comunicação entre as pessoas e o modo pelo qual elas consomem informação. Alguns aplicativos que indicam as condições do trânsito, por exemplo, chegam a ser mais eficazes do que os repórteres. Porém, tais aplicativos, por serem fruto de programação e se desenvolverem em aparelhos eletrônicos, são falíveis.
Jamais vão substituir um jornalista (embora exista hoje até o conceito do "jornalista robô"), ainda mais se o profissional estiver in loco, ou seja, no local dos acontecimentos. Estes dias, vinha para o trabalho ouvindo o Jornal da CBN. Eis que o âncora pede as informações do trânsito e a repórter entra dizendo: "segundo o aplicativo Waze, tal rua está com lentidão e uma avenida está congestionada."
Oras... receber, via rádio, uma informação que pode ser encontrada em um aplicativo, é algo extremamente desnecessário. Basta que eu me informe pelo aplicativo e pronto. Simples assim. É claro que a repórter não disse isso porque quis, mas sim porque deve ser a linha editorial do jornal. Mostrar-se "antenado" às novas tecnologias, com uso da internet, de aplicativos de telefonia móvel, etc. E, com certeza, é muito mais barato repassar a informação obtida por um aplicativo do que mandar o repórter para a rua, seja de carro, seja sobrevoando o trânsito com o helicóptero da emissora.
Porém, repito. Os aplicativos são falíveis. Podem errar! A emissora e a repórter correm o risco de cometer um dos principais pecados do jornalismo: o erro de informação (baseado numa informação de terceiro - aplicativo - e sem ter o cuidado de checá-la).
É claro que nenhuma emissora tem condições de monitorar o trânsito em todas as ruas da cidade em tempo real. Mesmo a Rádio Sul América Trânsito, que é específica para isso. Os aplicativos auxiliam nesse aspecto. Mas podem levar ao erro, já que não são cem por cento precisos. Nesse caso, eu, se fosse o editor-chefe do jornal, mandaria o repórter monitorar os principais pontos da cidade por helicóptero (os mais problemáticos quanto ao trânsito) e transmitiria somente essa informação.
Poderia não ser volumosa, mas seria precisa e, com certeza, ajudaria quem estivesse passando por esses pontos. É o que daria real sentido ao jornalismo feito por uma mídia dita tradicional. Hoje, esta tal mídia tradicional tem sofrido cortes de gastos gigantescos. A nova aposta é justamente em desenvolvimento de aplicativos, internet, conteúdos sob demanda e para plataformas móveis, maneiras cada vez mais comuns (e online) de transmitir informação. É assim que muita gente se comunica hoje.
É claro, uma cobertura política, esportiva, econômica ainda é melhor executada e tem mais credibilidade com os veículos tradicionais. Agora, informações mais simples, como os buracos da rua, o trânsito, acidentes em vias públicas, etc, podem ser compartilhados em tempo real em redes sociais. Qualquer pessoa hoje pode ser um "repórter em potencial" e informar sobre situações corriqueiras que interferem diretamente no tempo gasto no trajeto de quem se desloca até o trabalho ou tenta voltar para casa, por exemplo.
Até mesmo algumas informações mais complexas são colocadas nas redes, como vídeos de flagrantes de assaltos (o que ajuda na identificação de criminosos), infrações de trânsito cometidas por viaturas de órgãos públicos, como prefeituras e câmaras, entre outras coisas.
Deste modo, entendo que o jornalismo deve se concentrar hoje no que pode fazer a diferença. Em análise e opinião de colunistas isentos sobre os temas que citei e as transmissões ao vivo de eventos, principalmente esportivos, que sempre garantem uma boa audiência. Repassar ao público uma informação que pode ser encontrada num aplicativo (ainda que muita gente não tenha acesso a este instrumento), é limitar demais o jornalismo. É admitir a falta de criatividade e a derrota frente às novas tecnologias.
Jornalismo e novas tecnologias devem se complementar e não se sobrepor ou se repetir, com informações redundantes. Pelo menos, a repórter foi honesta e mencionou que a informação vinha de um aplicativo. Pior seria se desse a informação sem crédito e fingisse estar ao vivo no local, quando efetivamente não estava. Pior é que tem muita emissora e muito jornalista que se sujeita a fazer isso. Que a morte do jornalismo possa ser evitada com mais vigor e mais criatividade! Um forte abraço.
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