quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O jornal impresso vai desaparecer?


Quando cursava a faculdade, os professores sempre abordavam o tema em sala de aula: "a tendência hoje é que o jornal impresso, do jeito como é feito, desapareça". Principal concorrente? A internet.

Desde que Johannes Gutenberg inventou o tipo mecânico móvel para impressão, a grande curtição dos folhetins impressos era dar um furo de reportagem. As pessoas só liam a matéria no dia seguinte ou mesmo dias depois que o repórter tinha escrito.

Como era um dos poucos meios de informação existentes, as pessoas ficavam frenéticas. Adoravam ler as manchetes, que tanto impacto causavam. A mídia eletrônica ainda não existia. Os repórteres viviam em busca de boas histórias, fatos inéditos e interessantes, além de boas fotos.

Hoje, o furo de reportagem não é mais dado pelo jornal em papel. A internet o atropelou, publicando notícias com enorme velocidade. Mesmo assim, não acredito que o jornal impresso vá desaparecer. Não em curto prazo, pelo menos. Mas é preciso que sua linguagem se modifique, passe por uma grande reformulação.

GUTENBERG E SEU TIPO MÓVEL

A saída está no modo de escrever. Achar que o jornal hoje vai dar um gigante furo de reportagem é ilusão. Para sobreviver ao tempo, os jornais devem ser mais analíticos, quase literários. O tradicional lead (espécie de parágrafo inicial que contém as informações básicas da reportagem e responde às perguntas "como"? "quando"? "onde"? "quem"? ou "o que"? e "por que"?) deve ser deixado de lado.

Em seu lugar, deve figurar um texto mais aprofundado, como nas revistas. Para isso, é preciso ter no quadro de funcionários bons jornalistas, talentosos, experientes, com bagagem, vividos e com excelente cultura geral. Os jovens devem fazer parte da redação como estagiários ou focas, não da maneira que fazem hoje, quando se tornam editores com menos de 30 anos de idade (e menos de dez de carreira).

O jornal impresso precisa ser novamente uma escola. Ter gente que ensina, que reflete sobre o fazer jornalístico dentro do próprio trabalho. Precisa voltar a ser mais romântico para recuperar sua essência perdida no tempo. Quando surgiu, tinha essa linguagem literária. Hoje, deve resgatá-la para que não seja esquecido no tempo.

Fiquei satisfeito quando li uma entrevista do Jornalista (e esse faço questão de escrever com "JOTA" maiúsculo) Paulo Vinícius Coelho no site Comunique-se, em que dizia ter exatamente essa opinião. Editores, diretores de jornalismo e até mesmo donos dos jornais precisam enxergar à frente. Essa é uma solução plausível e relativamente simples para que o impresso não suma.

Outra possibilidade, como já fazem alguns jornais, é regionalizar o conteúdo. Jornais locais quase sempre trarão notícias "inéditas", já que se referem às entranhas de determinada comunidade. Esse tipo de coisa a grande mídia não vai noticiar.

A periodicidade também pode mudar. Os jornais podem ir às bancas dia sim, dia não. Ou então, serem semanais como alguns tabloides e revistas. E também podem parar de "mentir" quando o assunto é a tiragem que publicam. Hoje, a maioria dos jornais divulga em suas páginas um número muito maior de exemplares do que realmente imprime. Geralmente, o número impresso nas páginas é o dobro ou até o quádruplo do que realmente as gráficas imprimem.

Os tablets também podem ser considerados grandes concorrentes dos impressos. Trazem jornais e livros eletrônicos num objeto relativamente pequeno. Mesmo assim, existem pessoas que têm uma relação de apego com o jornal impresso. Gostam de manuseá-lo, virar as páginas, preencher as palavras cruzadas, ligar os pontos dos passatempos. A essas pessoas, o jornal deve satisfação, uma resposta à tecnologia moderna.

Por mais que a tecnologia reduza o tempo de publicação e distribuição de uma notícia, nunca será capaz de pensar com profundidade. Isso só o cérebro humano pode fazer. Por isso, a linguagem precisa ser modificada. Para o grande e para o pequeno público. Caso contrário, o caro papel jornal só servirá para embrulhar peixe na feira ou como banheiro para os animais domésticos. Um forte abraço.

Facebook: Leandro Martins
Twitter: @leandropress

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